SAUDADES DE SANTA CRUZ
HOMENAGEM POÉTICA
Ao compor esta poesia, estava na verdade fazendo uma homenagem aos meus irmãos e irmãs, que viveram momentos especiais na Santa Cruz Saudosa. Cada verso foi feito no embalar da inspiração das boas lembranças vividas pelo poeta quando da passagem muito feliz, juntamente com sua família, na comunidade de Santa Cruz do Inharé, durante cinco anos, do finalzinho de 1966 até dezembro de 1971.
SANTA CRUZ SAUDOSA
Lembro-me de ti, querida
O teu recanto ainda seduz
No teu passado, a guarida
Minha saudosa Santa Cruz
As promessas no Cruzeiro
A busca no caminho da fé
E o bom fiel no seu rezeiro
Subia naquele morro a pé
E na sombra da mangueira
Vendiam-se as ervas e mel
Ao som que vinha da feira
Escutar ao violão o cordel
Boas pescas no Rio Inharé
Brincar na água dar marola
Tomar um sorvete e picolé
Soltar pipa e até jogar bola
Como era bom esse tempo
Aquele namoro escondido
De juras lançadas ao vento
Nosso amor correspondido
Era muito amasso no clube
Ficar com o broto era legal
Depois fugas para o açude
O amor nas escuras ao luau
Comer pipocas na pracinha
A calçada era a nossa praia
Piscar prá ela que gracinha
Seu requebrar de minissaia
Minha namoradinha Anita
Bailes, festas de carnavais
Quermesses de Santa Rita
Esse tempo não volta mais
Autor: José Maria Cavalcanti (texto e poesia)
Engraçado como algumas cidades marcam nossas vidas. Talvez seja porque em Santa Cruz vivi uma infância incrível, ao lado de muitos amigos,tendo uma convivência familiar gostosa.
Exatamente há quarenta anos saí de lá, mas ainda hoje trago comigo o mapa da ruas, os eventos das feiras livres (o sábado era tomado por aquele agito de compras e vendas entre clientes e feirantes, além das cantorias do cordel), as imagens das fugas pro rio, os bons momentos do convívio escolar, o carnaval de rua e bailes no clube, a chegada do circo e dos parques, os passeios na praça principal e as brincadeiras com os amigos, Tudo está disponível na cabeça, e é só apertar um tecla para estar lá de novo.
Obrigado, Santa Cruz, pelos muitos prazeres que foram vividos em cinco anos intensos.
Estive recentemente em Santa Cruz do Inharé. Visitei a imagem de Santa Rita de Cássia, padroeira da cidade. Aproveitei para relembrar lugares que marcaram minha infância: o crutac, o clube social, as escolas, a Rua Eloy de Souza, a igreja, a delegacia, o cemitério e o famoso Rio Trairi, represado pelo açude novo. Era ainda pequeno, mas lembro com muito carinho de Dona Calú, que me acolhia em seus braços e me enchia de guloseimas por ela preparadas: raivas e puxa-puxas. Do alto do Cruzeiro, aos pés da santa, visualizei, com clareza, o crescimento da cidade, que possui a maior estátua religiosa do mundo. Lendo essa poesia, me transportei para a velha Santa Cruz, da praça com o lambe-lambe, o pipoqueiro, o piruliteiro e a televisão coletiva, os campinhos de pelada, as brincadeiras no riacho e relembrei os dias de festa da padroeira, com seus parques iluminados e um locutor atento aos casais: “…Essa canção… vai com todo amor e carinho, para … Gracinha…de seu namorado apaixonado…Elson…”
Foi com muita surpresa que, quando cheguei à cidade de Santa Cruz, pude ver de perto a estátua de Santa Rita de Cássia. Ali encontrei uma multidão em peregrinação ao alto do cruzeiro. Soube que, semanalmente, 50 ônibus cheios de romeiros vêm a cidade. Calculei em 2.000 pessoas visitando a estátua e calculei uma média de gastos de R$ 30,00 por pessoa, ficando o município com um incremento na receita de R$ 240.000,00 mês. Por isso, estão se instalando na cidade fábricas de velas e de brindes, restaurantes, lojas de artesanatos e de prestação de serviços, gerando contratação de mão de obra.
Parabéns às autoridades competentes, que de forma corajosa investiram no turismo religioso e promoveram oportunidades de emprego e renda ao povo da cidade.
Só estando aos pés da imagem de Santa Rita de Cássia para percebermos a imponência da grande obra de engenharia, mas basta entrar na igreja da cidade para sentirmos a emoção de estar perto da pequena imagem dela com tanta força espiritual. Santa Rita de Cássia, rogai por nós!