SÓSIA DE ASTRONAUTA
EU NÃO SOU MARCOS PONTES
São José dos Campos é uma dessas cidades em que o comércio de eletrônicos tem um só nome: “O Tarzan”. Ali você encontra tudo que você já se descabelou o bastante por outros pontos do comércio do gênero. Vem cliente até das cidades vizinhas e também do Litoral Norte, imaginem vocês.
Mas este não é o foco da minha narrativa. O Tarzan é o local onde se deu o ocorrido entre mim e uma das clientes daquele estabelecimento.
Enquanto aguardava ser atendido por um dos rápidos atendentes, percebi que uma mulher não parava de olhar para mim. Ainda sem sua visualização e meio sem jeito, disfarcei um pouco e comecei a ler o primeiro papel que encontrei em um dos meus bolsos. O panfletinho, cheio de letrinhas miúdas, requeria um acessório que eu não dispunha naquele momento, mesmo assim, segui no faz de conta.
Ela insistia em lançar seu olhar indiscreto, e eu já não sabia o que fazer com tamanha insistência. Não querendo alimentar qualquer tipo de interesse, permaneci cabisbaixo, mas senti sua aproximação. A fila que ela estava andava no mesmo ritmo que a minha, e era inevitável o quase contato físico, pelo pouco espaço deixado entre as pessoas.
Finalmente fomos atendidos, e eu me apressei no passo para me livrar daquele incômodo. Mas a mulher foi mais rápida, alcançando-me antes que eu pisasse na calçada estreita da rua. O olhar expressivo e o semblante belíssimo da menina, que avaliei ter no máximo quinze anos, detiveram meu ritmo e paralisaram meu corpo. Fiquei estático esperando para ouvir algo daquela mocinha, vestida de colegial:
– Senhor, você não é o Marcos Pontes? Soou finalmente aquela suave voz, cheia de meiguice.
Achei difícil dizer “Eu não sou o Marcos Pontes”, pois aquilo, que no início era elogio, passou a frustração. Até que consegui organizar o pensamento e, com uma voz serena, apropriada para minha idade, dirigi minha atenção para a jovenzinha. Enfim, achando as palavras certas para proferir naquele exato momento.
– Garota, o Marcos Pontes é muito mais importante que eu. Mais inteligente e mais novo, além disto, como astronauta brasileiro, ele é também o embaixador do Brasil pelo mundo afora. Nunca poderia estar aqui numa fila, perdendo seus preciosos minutos. Ufa, falei, e não foi tão difícil assim.
– Dá prá bater uma foto com o senhor? Disse entusiasmada a elétrica figurinha, mostrando-se indiferente ao que disse para ela.
Depois de falar e, antes que dissesse qualquer coisa, ela já veio ficar ao meu lado, esticando-se na ponta dos pés para ganhar um pouco mais de altura e, com o braço estendido para ganhar distância, sorriu, inclinando a cabeça para meu lado, enquanto apontava seu celular com o visorzinho focado em nossa direção.
Nem agradeceu e saiu numa alegria incontida, carregando a mochila nas costas. Como se tivesse conseguido o autógrafo do Brad Pitt ou do Daniel Radcliffe. Ela se foi, e eu parei para tentar entender o que ela teria imaginado.
Até agora não sei o que ela pensou. Será que ela havia acreditado em mim ou pensou se tratar de uma estratégia de fuga do astronauta, quando interpelado por seus fãs? Não tenho a resposta certa, pois era plausível encontrar aquele pop star pelos restaurantes joseenses, afinal estamos na terra do avião e do centro tecnológico mais importante do país. Cidade que projetou o agora badaladíssimo Coronel Aviador Marcos Pontes diretamente para o espaço.
Quer saber, acho que tudo foi apenas uma bobagem de uma menina mimada e maluquinha, que anda por aí clicando prá todo lado seu celular de última geração. Onde já se viu me confundir com alguém tão famoso, além do mais, acho desleal a comparação, já que ele pode usar aquela roupa apropriada para voos espaciais. Acho que até eu ficaria lindo com um traje daqueles.
Autor: José Maria Cavalcanti
Sempre achei você semelhante ao famoso astronauta, mas com um diferencial muito claro para quem o conhece: um homem de sonhos altos pisando firme no chão. Como poeta, o céu, a lua, o sol e as estrelas são parte de seu dia a dia e vivem no seu imaginário, embelezando o cenário exposto a você em cada amanhecer. João Cavalacante
Particularmente estou quase convencido que ele seja o astronauta de São José dos Campos. Sou testemunha do assédio enfrentado por ele por fãs incontidos na ânsia de conseguir um simples autógrafo em um guardanapo de papel. Em uma comemoração no final do ano passado, porém, o único agraciado que conseguiu a proeza foi um garçon que o atendeu.
Como veem, a cena se repete.
Pode ser físicamente parecido, principalmente se vestir as roupas adequadas, mas eu preferiria você com roupas normais trabalhando aqui no CTA conosco.