À ESPERA DAQUELE ABRAÇO
A ÚLTIMA DESPEDIDA
O carro parou diante da grande árvore onde ele costumava brincar depois que chegava das suas andanças no mato, quando ajudava sua mãe a colher lenha para o velho fogão de barro.
Relutou um pouco para descer, mas aquela voz carinhosa o ajudou a sair do banco traseiro:
– Vai, filho, não temos muito tempo. Logo será noite.
Nada respondeu. Apenas desceu lentamente, sem se importar com o pouco tempo que tinham para ficar ali.
– Querido, desligue o carro, pois senão o Pedrinho não ficará tranquilo.
Logo a máquina parou de girar, e o casal ficou em completo silêncio à espera do regresso do garoto.
Pedrinho, com muito receio, caminhou entre as árvores, aproximou-se e, logo após a clareira, dentro da névoa fina que baixava da montanha, descortinou-se a casa. Que surpresa agradável, pois aquele era um momento todo esperado. Respirou o mesmo ar de outrora, vindo do jardim repleto de hortências e bem-me-quer. Da chaminé saía a fumaça que anunciava que sua mãe já estava preparando o jantar.
Aproximou-se da velha porta, percebendo que estava apenas encostada, como sempre, bastando forçar um pouco para abri-la. Ao entrar, encontrou novamente o assoalho de tábua corrida, com alguns buracos, ainda esperando por reparos e que fazia barulho terrível a cada passo que ele dava em direção à cozinha. Estava ansioso para rever sua mãe, depois de muito tempo apertado pela saudade.
À medida que caminhava, pôde lançar um olhar para os velhos móveis da casa e as mesmas cortinas surradas e desbotadas pelo sol da tarde, que invadia pelos vidros sujos das janelas. Pendurado na parede, o velho lampião de gás já estava aceso, por causa da pouca luz ambiente. Era uma grande utilidade nas noites escuras ali no alto da serra, longe de tudo, mas que inspirava cuidado, pois já havia causado pequenos estragos no desgastado assoalho.
Tudo estava como muito antes. Inclusive aquele cheirinho gostoso do tempero do feijão vinha até suas narinas, misturado com o cheiro de alho frito, sempre quando sua mãe preparava o arroz. Às vezes não tinha carne, mas quando havia, os bifes eram levados à frigideira quando ele já estava sentado à mesa.
Ali era tudo muito simples, diferente do mundo que agora ele vivia na cidade com seus novos pais.
Finalmente ele viu sua mãe, e ela veio até ele para dar o mais gostoso abraço do mundo.
Ficaram ali abraçados um tempão. Não tinham pressa de nada.
Lá fora o tempo corria desesperado, e a noite já começava a cair. A névoa já cobria todo o pé da montanha.
– Querida, você não acha que esse menino está demorando demais?
– Calma, querido, só mais um pouquinho. Temos que ser mais pacientes, pois ele perdeu tudo que tinha com o grande incêndio. Não só isso, ele ficou sem a pessoa que ele mais amava.
– Espero que seja a última vez, pois é de cortar o coração, vendo-o buscar o que já não existe.
– Querido, quem sabe desta vez ele consiga vê-la. Vamos aguardar!
De repente, Pedrinho ressurgiu daquela espessa cortina que se formava um pouco mais à frente do carro.
Pela primeira vez, naqueles últimos três anos, ele conseguira rever sua mãe, e o seu rosto estampava a mais intensa alegria.
Emoção que também contagiou o velho casal que esperava por ele no carro.
Enfim, depois de muito tempo, ele pôde se despedir de sua mãe, coisa que o destino havia roubado dele.
Autor: José Maria Cavalcanti
Olá Cavalcanti!
Ao ler este conto, ao chegar ao meio dele, me fez lembrar de meu pai, já que este é de filho e mãe, entrei na história, como filha e pai. A descrição da casa me fez lembrar quando meu pai chegou de Belo Horizonte para seu sepultamento, e pensei que como este filho, eu filha pudesse revê-lo e o chamar de papai, pois não melembro de tê-lo chamado, sabia e sei que era meu papai, mas o destino não nos deu a oportunidade de nos conhecere nem nos despedir.
Espero que ele esteja junto a Deus e em paz.
Mais uma vez me emocionei ao passar por aqui.Grande Abraço!
Márcia!
Marcia, sem emoção seríamos máquinas, e é ela que nos
faz exemplares únicos. Cada pessoa desenvolve sua carga
emocional, de acordo com seu processo de formação.
Nós interagimos nas nossas relações familiares e sociais de
acordo com o nosso emocional.
Os sucessos de nossas vidas ou seus fracassos muitas vezes
estão associados mais com as facilidades ou dificuldades que
temos de nos relacionar com o outro do que por fatores genéticos.
Ser muito emotivo ou ser seco em demasia são extremos
que devemos evitar, buscando o meio termo para sermos
mais efetivos socialmente.
Os pais têm uma grande responsabilidade com os filhos, não
só vinculada a questões financeiras, mas a fatores relacionados
com o coração, isto é, carinho, afeto e atenção.
Tal processo educativo tem origem na relação com os cabeças
de cada família, pai e mãe, depois irmãos e outros parentes;
depois vem a escola e, por fim, as relações de amizade.
Quando os pais não têm noção do quão importante é a maneira
de falar, o jeito de tocar e de olhar, causam grandes danos
aos filhos, mesmo involuntariamente, por julgar que o jeito
ríspido e violento de criar é a abordagem mais correta.
Enxergar tais modelos fracassados e não repeti-los é sua
e minha tarefa e também a missão de todo educador.
Saber perdoar os erros do passado é uma sabedoria para
retirar de nossas próprias costas pesos insustentáveis e
substâncias químicas que corroem nosso coração.
Lindo conto onde a escrita está voltada ao puro sentimento que envolve os personagens. Sensibilidade a flor da pele. É bonito ver alguém indo atrás de preencher espaços vazios em sua vida. Parabéns!!!
Lindo, muito sentimento…….parabens
Joaquim, fiquei muito contente em receber sua visita no Blog do Bollog. Agradeço por sua atenção e apreciação do meu trabalho.
Estou feliz porque você gostou do meu conto À Espera Daquele Abraço, no qual reporto vivências de uma infância triste de um menino que tragicamente perde sua mãe.
Grande abraço para você e toda a família.
Seu amigo, Cavalcanti.
Passei também uma experiência muito difícil e vi minha mente ficar presa no passado. Tão forte são aquelas cenas colindindo nos meus pensamentos que me sinto impotente para vencer tudo isso. Como é recorrente e parece me perseguir, constantemente me pego entristecida por não poder sair desse enrosco e por deixar que aquele algo, que já passou, ainda tome conta de mim, mesmo tendo uma atividade grande com meus alunos.
Amei a atitude dos novos pais do menino, que pacientemente o ajudaram a vencer o trauma vivido de ver sua mãe morrer naquela casa humilde, que já não existia fisicamente, mas perdurava quase que palpável na imaginação do garoto.
Para ele se livrar daquele passado, necessitava rever sua mãe para talvez pedir perdão para ela, por ter se afastado demasiado da casa na hora que ela mais necessitara dele.
A alegria estampado no rosto dele, após o retorno para o carro, era o sinal que os pais esperavam naqueles três anos de tentativas fracassadas.
Somente quando nos livramos dessas amarras é que verdadeira podemos seguir em frente.
Peço a Deus todos os dias que perdoe a mão malfeitora e que apague em mim as imagens desse passado, para que eu possa ser plenamente feliz.
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