Lembranças Olfativas e Afetivas
AROMAS E AFETOS INESQUECÍVEIS
É verdade que a música toca a alma, e uma linda melodia fica depositada em nossa lembrança para sempre. Isto parece acontecer somente para os que têm inclinação musical, pois, para mim, não sei para você, creio que os eventos da vida são marcados realmente por aromas e afetos.
A fragrância de um doce perfume a gente não esquece, assim como os afetos. O cheiro mais gostoso que ainda guardo é o de café da torrefação São Luiz, que ficava a caminho da escola. A fábrica ficava na Ribeira, um dos bairros da “cidade de sol”, pertinho do setor gráfico do Diário de Natal. Mesmo com certa distância da minha escola, o cheiro exalava pela antiga cidade baixa e os bairros dos arredores. Meu pai não deixava faltar este item indispensável na despensa de casa. Toda manhã, logo cedo, era aquele mesmo cheirinho gostoso que saía da cozinha da minha mãe, quando fazia nosso café da manhã.
Quando eu passava na ida aos estudos, processavam em temperatura elevada os grãos, fazendo-os torrar; na volta das aulas, era hora em que estavam fazendo a moagem, produzindo um aroma indescritível. Considero-me um sortudo, pois sempre que sinto este cheirinho inconfundível, de imediato me vejo caminhando Ribeira afora, fardado de conga azul, calça comprida marrom e a camisa polo com o símbolo da Escola Técnica de Comércio, bordado na altura do peito. Nas mãos, segurava firme a alça da bolsa com os pesados livros.
O cheiro de pão e de bolo quentinho saindo do forno é marcante, mas nada se compara à fragrância única do café, que me carrega pela mão na viela do tempo, rumo à infância querida.
Como o cheirinho marcante do ouro negro, o sabor e gosto inesquecíveis da manga espada guardo comigo também, bem superior ao da manga rosa. Recordo-me que, quando as mangueiras estavam carregadas, meu pai trazia da feira uma grande quantidade para a família, e era difícil comer uma só. Nunca apreciei fruta tão doce, que, quando madura, podia ser espremida, fazendo escorrer na boca seu suco saborosíssimo.
Também não me esqueço do jambeiro em frente da casa do meu amigo Babaia e dos cajás-mangas ou cajarana da árvore do fim da rua, com sua coloração de um amarelo bem brilhante, muito aromático e de polpa suculenta. Este fruto, que ainda recordo seu sabor agridoce, quando maduro, a gente aproveitava para fazer sucos, coquetéis e sorvetes. Embora goste muito de jambo, de cajá, mangaba, de graviola e de sapoti, bom mesmo é apreciar o sabor melado da manga espada.
Como os sabores e seus cheiros, os afetos a gente guarda com carinho e nunca mais esquece. Eles nascem dos namoricos que meninos e meninas têm dos doze até os quinze anos, que são cheios de romance e poesia. Três meninas marcaram minha adolescência.
Na Rua São Jorge, encantava-me com a filha de um ex-pracinha do Exército brasileiro. Gostava de ouvi-lo contar histórias vividas por ele na época da segunda grande guerra. A mãe dela era brava e não queria nosso namoro. Para ela, tudo aquilo não passaria de amizade, mas os bilhetinhos, sorrateiramente deixados no meu bolso, agendavam encontros inimagináveis, acontecidos após as horas escolares.
Na nossa rua, flertei, para usar um termo da época, uma garota muito inteligente, irmã de um dos meus amigos. Ela me secava com seus olhares envolventes e ainda preenchia docemente a solidão das horas. E, na Escola Técnica de Comércio, eu tinha a atenção de uma garota bonita do bairro de Santos Reis, fina e elegante, filha de um comerciante do bairro do Alecrim. Como uma coisa encantada, seu cheiro ainda hoje é inexplicavelmente exalado pelos jardins, talvez por seu nome ser de rosa.
Tais aromas e afetos deixam na gente marcas profundas e sentimentos pendurados no tempo, recheados de saudade.
Autor: José Maria Cavalcanti
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Estou de volta para dizer o quanto este texto me tocou de forma intensa.
Inteligentimente buscamos eternizar nas tábuas da memória nossos amores e afetos.
As lindas memórias, marcadas por músicas e aromas, podem ser revividas sempre. Como é gostoso estas viagens no tempo, fazendo valer novamente cada instante mágico, vivido de forma inesquecível!
Nossa! Enquanto lia o texto já me voltava à memória de quando eu era pequena, meus 5 anos de idade. Minha mãe fazendo doce de abóbora com leite de coco que deixava em ponto de corte sobre a pedra mármore. Hummm…derretia na boca. O cheiro do doce tomava conta da casa. Ela fazia para levarmos nas viagens de trem que íamos de Caxambú a Cruzeiro. De lá terminávamos a viagem de ônibus até chegar Paraibuna para visitar meu tio. Ai! Que bom relembrar isso. Estava tão adormecido. Eu amava claro a hora que poderia abrir a lata de doce. Era uma lata na cor xadrez azul. Saudades disso mãe!!
Obrigada por provocar essas emoções em nós com teus textos Cavalcanti.
Bjs!
Li
O poeta Geraldo Azavedo cita em uma de suas belas composições: “Quem inventou o amor teve certamente inclinações musicais”. Em outra ele diz: “E a televisão, essa lareira, queimando o dia inteiro a raiz que existe em mim”. São textos como esse que nos faz reviver bons tempos de uma vida com pé no chão. Parabéns!
Olá, Cavalcanti! É verdade, os aromas, sabores, músicas, nos trazem boas lembranças, por serem marcantes. É verdade, quando minha mãe fazia esse doce juntamente com minha tia Francisca (Chica), irmã de meu pai, era mesmo uma festa, delicioso doce de abóbora com leite de coco de cortar, comíamos até ver o fim, assim como a música do Roberto Carlos, que Mami não se cansava de ouvir e aque me marcou foi Guerra dos meninos, um bolo de fubá feito no fogão à lenha, em uma caçarola com tampa e cheia de brasa em cima da tampa para assar o bolo, gosto que nunca mais esquecerei, e o meu primeiro beijo com gosto de haulls sabor cereja, e se mexer nestas lembranças, sairá mais sabores, cheiros, músicas…, enfim infinitas lembranças boas, de minha infância. Ah! não posso deixar de dizer que aos sábados à tarde eu e minha irmã arrumávamos a casa ouvindo o programa do Chacrinha, lembra?! , e quando gretim entrava cantando , lá corríamos para dançar oPiripipim rsrsrs…! E se eu continuar as lembranças dará um livro.
Abraços saudosos.
Tio, realmente o aroma consegue reavivar situações peculiares de nossas vidas, tanto boas quanto ruins. Quando eu e Paty fomos morar em Fortaleza, painho simplesmente nos jogou numa casa de uma velhinha que tava alugando um apt em cima da casa dela. O local ficava bem em frente ao colégio que íamos estudar, só que era um lugar feio e fedido. Lá havia uma cozinha e eu, que costumo fazer alguns ensaios culinários, preparava couve-flor ao queijo para mim. A velhinha também, de vez em quando, preparava uns cookies e levava para a gente. Até hoje Paty tem enjoo do cheiro de couve-flor e de cookies, não porque não eram saborosos, mas, simplesmente, porque este cheiro a remete ao apt em que moramos durante umas 2 ou 3 semanas em Fortaleza, antes de irmos para aquele que permaneceríamos durante o primeiro ano da Faculdade de Medicina.
Olha, Zeca, revivi todos esses aromas de sua memória, e o perfume ficou em mim. Ao final, ativei meus aromas e o que tinha melhor fixador contagiou o ambiente: senti o cheiro da torta de fígado que mamãe fazia, seguindo a receita de papai. Fantástica! Já tentei fazer mas não consigo o ponto. Ainda bem que posso guardá-la em minha memória.
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