Falha de comunicação
A CARONA
Na volta de um bairro afastado de Campineiras, uma estranha alegria tomou conta do coração de Naldinho. Tal sensação se deu quando ele viu o Zeca necessitando de uma carona, pois percebeu que o carro dele estava quebrado, estando a esposa dele dentro do veículo em pane.
Enquanto se aproximava, aproveitou a oportunidade e resolveu contar para sua Lurdinha, que estava ao seu lado, os verdadeiros motivos por que ficara tanto tempo sem falar com o amigo de longa data e de muitos embates enxadrísticos.
Depois de escutar sua versão dos fatos, Lurdinha deixou extravasar seu lado vingativo:
– Naldinho, safadeza com safadeza se paga! Deixe que ele amargue o mesmo sabor que você sentiu no dia em que ele recusou dar carona para você.
Naldinho nada disse, apenas escutou, pois no fundo consentia com todas as palavras da esposa. Os dois passaram em marcha lenta pelo Zeca, que estava em pé, à espera de algum amigo ou de alguma alma caridosa. Aquele era um lugar de difícil acesso e sem qualquer sinal de comunicação. Quando ele vira o carro do Naldinho, acendeu-se uma esperança, mesmo estando com a relação abalada com ele. Seus ânimos esfriaram logo que percebeu o conhecido carro seguir adiante, sem brecar.
O Zeca ficou com a nítida impressão de que aquela cena se dera por pura provocação. Ele sabia que a relação com o casal havia se distanciado, desde o dia em que deixara de dar uma carona para o Naldinho. Aquele era um dia que ele gostaria de esquecer, riscando-o da sua vida, pois que ambos já haviam compartilhado muitos momentos felizes antes. Por isso, havia tentado se desculpar depois, mas o amigo nem dera bolas para ele.
Percebeu que Naldinho até deixara de frequentar o grupo de Xadrez das sextas-feiras, somente para evitá-lo. Até algumas viagens para torneios eram deixadas de lado, apenas para um não ver a cara do outro.
Enquanto o Zeca se amargurava com o infortúnio, poucos quilômetros dali, Lurdinha, depois de sorrir e fazer brotar no seu rosto uma expressão estranha, pediu ao Naldinho para manobrar de volta. Tivera a ideia maquiavélica de retornar com o intuito de desmascarar o Zeca na frente da Tita, pois com certeza ela também não sabia de tudo que se passara entre os dois.
Lurdinha desceu do carro e seguiu diretamente para perto do casal em apuros. Sua motivação era de vingança e queria também humilhar o Zeca diante da esposa. Naldinho se reuniu ao grupo o mais rápido possível, pois gostaria de presenciar tudo, para ver a reação do amigo, diante da verdade.
– Tita, você sabe por que não paramos para ajudar vocês? Sem aguardar resposta – como o dedo em riste e cheia de ira -, segue Lurdinha:
– Seu marido deixou o Naldinho na mão, há algum tempo, quando mais necessitava de uma carona, lá no bairro do Brejinho. Você sabia disso? Lurdinha falou com a boca cheia, aguardando a reação dos dois.
De repente, ela percebeu que Tita estava chorando, sem dar uma única palavra. Então, Lurdinha se voltou para o Zeca, esperando alguma improvável explicação.
– E você, não vai falar nada? Indagou, cheia de euforia por estar atingindo seus objetivos. Estava sentindo o gosto de enfiar a faca e agora a retorcia por dentro, para causar mais estragos.
Finalmente, Zeca começou a falar, dirigindo-se aos dois amigos:
– Naldinho e Lurdinha, naquele dia terrível, perdemos nosso amiguinho de 16 anos, o Pitty, que havia passado por uma cirurgia para a retirada do baço e, depois de duas transfusões, não resistiu. Tudo foi muito dolorido para Tita, que, por amar demais aquele animalzinho querido, não queria vê-lo ser enterrado, por isso me pediu para levá-lo para algum lugar arborizado para sepultá-lo.
– No carro lotado, eu levava o corpo envolto em um plástico e alguns cobertores. Levei também sua caminha, sua casa, roupas, rações e brinquedinhos para fazer doação.
– Quem me visse de longe, parecia estar sozinho, mas os bancos estavam ocupados, e eu estava tão triste que nem me dei conta das pessoas que estavam ao meu redor.
– Quando fiquei sabendo dos seus comentários sobre minha pessoa, tentei me justificar, mas minhas tentativas foram vãs. Você não quis me ouvir, Naldinho.
– Quero mais uma vez pedir perdão por aquele dia, mas eu estava tão impactado que nem me dei conta que você havia gesticulado feito louco para chamar minha atenção.
Diante das explicações do Zeca e da expressão de dor ainda expressa no rosto de Tita, Naldinho e Lurdinha se envergonharam das suas atitudes e fizeram as pazes com o casal amigo.
Depois de tudo ficar aclarado e desfeitos os sisudos semblantes, as duas amigas riram e até gargalharam. Elas, assim como Naldinho e Zeca, também tinham muito assunto para pôr em dia e não queriam perder um só segundo. Aquele afastamento pareceu uma eternidade para todos, mas o mais importante é que voltaram a viver felizes novamente.
Na verdade, todos eles tinham muito a lamentar porque, por falta de comunicação, tiveram grandes perdas. Além do desgaste da relação, o principal fora a perda de tempo, e este não volta mais.
Autor: José Maria Cavalcanti
COMENTÁRIOS sobre esta história do Naldinho e Lurdinha.
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Regresso com as Histórias de Naldinho e Lurdinha.
Naldinho – O professor de Xadrez na cidade de Campineira; e Lurdinha – sua esposa.
História: Falha de Comunicação – A Carona.
Personagens principais: Naldinho e Lurdinha.
Personagens secundários: Zeca e Tita, amigos dos protagonistas.
Desta vez, abordo um desentendimento ocasionado entre os casais pela falta de compreensão de uma determinada situação, a qual provocou um rompimento na relação deles.
Uma carona não dada motivou o cisma e novamente outra carona não só promoverá a oportunidade de vingança, mas também a chance de reatarem a velha amizade.
Trago este tema para que muitas pessoas reflitam sobre lindas relações perdidas por pequenas desavenças, por cometerem pequenos enganos ou por fazerem mal juízo sobre o outro.
Querido José Maria, certamente a falta de comunicação provoca estes desentendimentos inúteis. E justamente venho pensando muito a gran falta de comunicação que existe en este mundo virtual. Miles de pessoas que parecen estar en contacto, e en realidade parecen ficar mais sozinhos ainda. Estou dizendo isto porque eu gosto muito da verdadeira comunicação, já seja en meu lar, na rúa o en este mundo virtual, e acho que sempre devemos dar uma devolução aos outros, também a quem não conheçemos. Por isto cumprimento a todas as pessoas que visitan o Grande Blog do Bollog do meu Grande Amigo José Maria Cavalcanti. Como sempre um grande abraço pra você e familia.
Enquanto lia a história… vinha à mente lembranças de casos semelhantes que presenciamos no dia a dia. Ainda lamento muito por sermos seres tão limitados em nosso mundinho.
Mais cada um a seu tempo como sempre digo…”Ainda iremos aprender”. Mesmo que a duras penas de que: Viver é algo bom e que temos a opção de escolhermos um viver de forma serena, mais leve, sem cobranças e grandes expectativas do outro.
Ainda vamos deparar com Naldinhos e Lurdinhas. Mais a busca de sermos melhores a cada dia vivido e as experiências… tornem-nos mais compreensíveis e com menor expectativa do outro.
Com certeza sentiremos mais leveza na alma.
Porque transferimos mesmo que inconsciente nossos anseios para que o outro realize em nós.
Abraços
Li
embates enxadrísticos, embates enxadrísticos, embates enxadrísticos….
VEM CÁ! EU TE CONHEÇO?! KKK…!!
AGORA CONHEÇO. ACABEI DE PESQUISAR.
OBRIGADA CAVALCANTI POR NOS MOTIVAR À BUSCA DOS SIGNIFICADOS NAS PALAVRAS.
OBRIGADA POR NOS AGREGAR CADA VEZ MAIS E MAIS EM SEUS TEXTOS.
ABRAÇOS
LI
Naldinho e Lourdinha sempre nos presenteando com belas passagens no dia a dia de um casal. O mal entendido é um exemplo claro de como vivemos “pisando em ovos” com as amizades, que, muitas vezes, por carência, nos julgam por todos nossos atos falhos. Mas quem se importa é porque ama, e os dois casais alicerçaram a amizade com essa lição de vida.
Amigos são parte da gente e dói muito ficar sem eles. O texto nos ajuda a ficar precavidos para não vacilar nessa relação de irmandade.
Às vezes uma pequena falha pode se transformar num tremendo problema. Este pequeno conto serve de alerta.
As história de Naldinho e Lurdinha são sempre cômicas, mas esta foi um tanto séria com um ensinamento sobre nossas relações de amizade.
Julgar apressadamente as atitudes de um amigo ou de uma amiga pode resultar numa falha grande de comunicação.
Aquilo que pareceu um descaso com o Naldinho era na verdade uma situação de emergência vivida pelo Zeca, que nem sequer percebeu que o amigo acenara para ele pedindo carona.
Analu
Postei no facebook hoje a história de Naldinho porque deixei uma frase, um convite de reflexão. Olha depois.
Até mais,
Li
Oi, sou amiga da Eliane.
Hoje vi um scrap a respeito dessa matéria Comunicação na página dela.
Ela colocou muito bem o que passamos.
Faço ideia de como é está confusão na comunicação.
Vivenciamos onde tem muita gente junta.
A história retrata bem essa falha.
Gostei do site.
Adriana
Obrigado, Adriana, pela visita. É Eliana é uma amigona e está sempre divulgando meu trabalho. Fiquei muito contente por você ter gostado do meu veículo de entretenimento.
Volte sempre. Seus comentários no Blog do Bollog são sempre bem-vindos.
Oi Dri! Legal você por aqui.
Puxa bacana mesmo.
Cavalcanti esse blog tá bombando hein?! rsrs…
Vim partilhar um texto com todos vocês do blog.
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Um casal muito feliz com seus quatro filhos ainda adolescentes. Porém, para que aprendessem mais sobre a vida, os pais os enviaram para uma terra muito distante, onde existiam muitas árvores.
O primeiro filho foi no inverno; o segundo na primavera; o terceiro no verão e o caçula no outono. Quando regressaram, se reuniram para que cada um contasse sobre sua experiência.
Na verdade, eles viram as mesmas árvores em diferentes estações. Assim, aquele sábio pai pode explicar que não se pode julgar uma árvore ou uma pessoa por apenas uma estação ou uma fase da vida. O ideal é viver de forma simples, amar generosamente, falar educadamente e deixar o restante nas mãos de Deus.
E concluiu: as dificuldades só poder ser superadas no final de cada jornada. As felicidades mantêm as pessoas doces. As dores as mantêm humanas. As quedas as mantêm humildes e os sucessos dão um brilho especial às suas vidas.
Diante do borbulho da vida., parecem-nos complicado compreender. Mais acreditem é real.
Um abraço a todos.
Eliane
Minha amiga, Eliane, belíssima história. Um lindo ensinamento.
Feliz de quem aprende lendo, sem necessitar passar por duras provações.
O grau de sensibilidade é o que nos torna diferentes uns dos outros.
Valeu, Li, parabéns pela escolha.
Você atingiu o alvo meu irmão. Fiquei curiosa para saber o que tinhas postado e me vejo no seu blog, que tinha prometido a mim mesma, dar alguns mergulhos assim que entrasse de férias.
Adorei esse desfecho da história da “carona”, com o reatamento da amizade. Esses mal-entendidos acontecem em várias esferas, mas,quando atinge amigos queridos, parece que o mundo vai se acabar! Mas, como tudo na vida tem seu dia, esse não poderia ser o melhor. Um abração, Gracinha
Primo, li e fiquei ao mesmo tempo surpresa e orgulhosa.
Não conhecia esse seu talento. Talvez até por “falha de comunicação”, não é?
Grande lição mesmo.
Parabéns e continue nos enriquecendo … Bjs.
Saudades,
Francimar
Graça, minha maninha, obrigado me prestigiar sempre.
Nesse conto, envolvendo o casal Naldinho e Lurdinha, dei ênfase ao valor da amizade.
Fiquei muito feliz por você ter gostado de mais uma história.
Beijos para você e abração para o Nilton.
Querida prima, Francis, você nem imagina a alegria que tive ao ler seu comentário. Com certeza tivemos grandes lacunas nas comunicações, mas agora todas elas serão preenchidas por meio da interação prazerosa que esta ferramenta do mundo virtual já está proporcionando para todos nós.
Aos poucos iremos perdendo a timidez e assim deslancharemos nessa aproximação familiar. Tenho certeza que temos muito para compartilhar uns com os outros.
Você é sempre bem-vinda, assim como todos da família.
Obrigado pelos carinhosos elogios.
Beijos saudosos!
José Maria.
Amei essa história pois nos traz uma grande lição de vida.
Quantas vezes julgamos as pessoas e situações sem saber avaliar
profundamente a realidade.
Acredito que todos nós já vivemos essa história.
Essa história também me toca muito porque nela fala do meu grande companheiro de 16 anos que eu amei muito, que cuidei com muito amor e que guardarei para sempre no meu coração pelo seu amor incondicional. Saudades eternas de você Pitty.
Quantas vezes cometemos falhas de comunicação e o resultado é sempre desastroso… Reparar os prejuízos é que são elas…
A vida é uma escola, felizes daqueles que aprendem com os erros.
Cida