Um gesto lindo
SOLIDARIEDADE
Depois de alguns meses vivendo no Canadá, aquele era o primeiro Natal que iria passar afastado da minha esposa e filhos. Tudo isso porque havia surgido na minha vida profissional a necessidade de agregar o idioma inglês como ferramenta de trabalho, e o intercâmbio cultural foi indicado como o caminho mais rápido para eu ganhar fluência verbal. Afastado do aconchego do meu lar, tudo fazia aumentar a distância e a saudade, principalmente perto das festividades daquele final do ano de 2001.
Aquela noite fria, especialmente, iria marcar muito minha vida. Havia ficado um pouco mais do que deveria no aconchego da sala climatizada do campus. Ali sentia uma temperatura agradável e podia levar um bate-papo gostoso com minha família nos terminais disponíveis gratuitamente para os estudantes. Depois de aliviar o aperto do coração, comecei a me divertir no mundo virtual, jogando algumas partidas de xadrez com outros solitários da Net.
Fiquei tão envolvido que não percebi o voar das horas. O aviso do guarda de que o local iria ser fechado foi o que me despertou. E já não havia mais tempo para pegar o último trem de superfície, transporte público disponível naquelas imediações. Sem roupas e calçados adequados, saí debaixo dos flocos de neve que caíam ininterruptamente em cima das camadas que já haviam se formado. Alguns veículos patinavam pela neve, fazendo com que por vezes perdessem o controle da direção.
Com o passar dos minutos, começava a rarear a passagem de qualquer tipo de locomoção, tornando preocupante ficar ali parado, submetido aos rigores das temperaturas extremamente baixas do Canadá.
Mesmo tremendo de frio e com dificuldade para caminhar sem afundar na superfície gelada, saí à procura de um táxi, pois ninguém estava disposto a dar carona a um estrangeiro, principalmente depois do fatídico dia 11 de setembro. O ataque às torres gêmeas mudou o comportamento cordial do canadense também, e o medo havia se instalado nas pessoas.
Meus acenos eram vãos para um ou outro que passava por perto, e parecia não haver qualquer taxista naquela noite.
Meus pés estavam úmidos e meus lábios já estavam roxos e trêmulos. Naquele momento de desespero, comecei a pedir a Deus para que algum coração amigo se compadecesse de mim.
Eu estava ciente que teria de me manter em constante movimentação para não congelar de vez. Cansado de tanto andar e já sentido todo meu corpo doer, entendi o tamanho da minha imprudência frente aquelas baixas temperaturas e o despreparo para vencer aquela adversidade climática.
Quando já não parecia haver saída, um carro parou ao meu lado, e o condutor abriu a porta para que eu entrasse. Aquilo me pareceu um milagre, pois me vi perdido, sabendo que poderia morrer se não fosse socorrido.
Dentro do carro, um homem de turbante me recebeu com um caloroso sorriso e nem estranhei aquelas roupas brancas e o turbante que ele vestia, pois estava vivendo em uma sociedade que gozava uma linda harmonia multirracial.
Com muita dificuldade, consegui balbuciar poucas palavras de agradecimento. Mais adiante, mais refeito pelo aquecimento do interior do veículo, consegui responder para o bondoso homem sobre o local que vivia.
Ele me levou até meu endereço e, quando fiz menção de pagar pelo serviço do taxi, ele disse que naquele momento já não estava a trabalho, mas resolvera me socorrer, quando percebeu o meu sufoco.
Aquele senhor indiano ou árabe disse que sua religião o orientava sempre a estender a mão para os necessitados e aquilo ele fez de coração, não havendo preço para seu ato.
Não insisti por entender melhor o caráter daquele homem e a grandeza de sua fé e de seu coração.
Somente depois que me aqueci no meu quarto é que me dei conta que nada sabia do meu salvador, pois não havia sequer entendido bem o seu nome quando ele se apresentou. Até hoje não soube nada sobre ele, mas aquele gesto humanitário ficará guardado comigo para sempre.
Autor: José Maria Cavalcanti
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Pode chamá-lo de “ANJO” ou mesmo “CANAL DE GRAÇA”,.
Assim vejo, sinto, interpreto quando algo nos acontece de forma inesperada e de extrema urgência como tábua de salvação.
Aprendi ouvindo uma pregação, onde disseram: ” Deus permite o livre arbítrio mais nunca deixa de amparar quando se está a beira de um abismo pronto para despencar”
Quando lia este texto Cavalcanti, vinha-me a lembrança de tantos momentos em que o sufoco era tanto e de repente o canal de graça acontecia, o anjo vinha em meu socorro.
Mais é válido ressaltar aqui: “É maravilhoso ganharmos ANJOS ou CANAIS DE GRAÇA no momento de sufoco. Certo?!
Mais também é de extrema importância que sejamos ANJOS ou CANAIS DE GRAÇA para o outro, para o próximo.
– QUEM É MEU PRÓXIMO?!
– PRÓXIMO É AQUELE QUE ESTÁ PERTO DE MIM.
Então hoje convido você que está lendo esta mensagem a ser cada dia mais um “CANAL DE GRAÇA” Porque de alguma forma você foi colocado ali naquele momento pra ser mais para seu próximo. Aquele que está perto de você.
As Salamu Aleikom! ( A paz esteja com você!)
Bjs!
Li
Depois de leer o comentário da Eliane, eu quase fiquei sem palavras e é justamente porque já aconteceu alguma vez comigo de sentir aquela sensação de sufoco que ela expressa com toda claridade de quem passa por aquele momento tão desagradável de abandono. E sím acredito em anjos que nos guardam e protegem, mesmo em momentos de extremo perigo. Mais também acredito como bem ela diz, que todos nós podemos ser anjos dos outros, daqueles que se mostram verdadeiramente necesitados de alguém que os resgate. O mínimo que podemos fazer por qualquer pessoa em esta circunstância pode ser tanto para eles e sentir-se muito aliviados, nesse pequeno gesto de fazer o possível por ajudar de qualquer maneira, deixa en nós uma grande satisfação de haber sido esse “CANAL DE GRAÇA” . Assim que sendo muito bom o relato sob a solidariedade, também foi muito inspirador o comentário da Eliane e que a paz esteja con todos nós
Para Deus você pediu e por merecimento foi atendido. O mérito está em ser uma de suas crias.
O bom homem que o acudiu está acima das religiões e em sintonia direta com o que é certo. Um homem de Deus, que leva consigo a principal orientação divina: amai-vos uns aos outros. Sentindo-se assim, ele executou uma oração prática a qual, uma década depois, ainda repercute positivamente.
Todas as vezes que paramos para escutar alguém, sorrir para o próximo, demonstramos um gesto de carinho, afeto e respeito, estamos fazendo o bem, e assim, sintonizados com Deus.
Deus quer tudo de bom para todo mundo.
Caro amigo,
Escritor Cavalcanti, as atitudes éticas fundamentais são cinco:
o respeito,
a fidelidade,
o senso de responsabilidade,
a veracidade
e a bondade.
Essas atitudes são traves-mestras do comportamento humano e, da sua solidez, depende, sem outra alternativa, o amadurecimento da personalidade.
Neste relato verídico constatamos “que a humanidade ainda tem futuro”.
Conta-nos, sempre que possível, outros relatos porque vivemos de esperança e somos contrários ao poeta que dizia “só a leve esperança de cada dia disfarça a pena de viver, mais nada”.
Ivan Balducci
Realmente Deus teve misericórdia e enviou um taxi para socorrê-lo, ao ouvir sua prece ele o atendeu imediatamente. Ah! se não tivéssemos um Deus para crermos e poder contar com Ele para livrar-nos de todos os nossos sufocos e necessidades, Ele sempre coloca alguém em nosso caminho em nome dele para nos tirar do sufoco ou desespero. Eu sou prova viva, pois em setembro de 91 realizei a primeira das oito que ainda tinha por vir, cirurgia na hipófise, onde os médicos me deram somente 30% de voltar da mesma e, se voltasse, seria com sequelas graves, mas aqui estou sã e salva para dar meu testemunho de vida, que após 14 anos da primeira, vim em junho de 2005 a maio de 2006 as mesmas 8 se repetiram totalizando 9 e aqui estou com muita saúde, apenas com a visão debilitada, mas vivendo melhor do que antes, pode acreditar, é inesplicável o poder de Deus sobre nós.
Márcia!
Márcia, seu testemunho é muito importante pois nele nós podemos ver o poder de Deus e o amor que Ele tem com cada um de nós.
Você é uma vencedora e Deus está sempre ao seu lado.
Eu também pude ser abençoada por Ele com um presente sem igual, a vida.
Às vezes fugimos da oportunidade de sermos usados por Deus para acudir quem necessita de socorro. Às vezes não é dinheiro que mais importa, às vezes é apenas uma palavra de conforto, às vezes é apenas companhia num momento de solidão. Às vezes é doação de um tempo que nos sobra, quando estamos com a mente a vagar..
Às vezes…
Lendo esse belo texto, logo me veio a pergunta. E se fosse um muçulmano no ponto de ônibus?
Acho que só estando sintonizado em Deus é que o senso de ajudar fica maior do que o medo. Serve de reflexão.
Lendo seu conto, lembrei de algo semelhante que me aconteceu:
Eu era criança e minha memória não permite que eu lembre detalhes da história, mas me recordo muito bem da solidariedade que, essa sim, eu não esqueço jamais.
Estávamos eu, mainha e Priscila viajando de Natal a Currais Novos, onde meu pai estava de plantão. Era uma noite escura e fria e, no meio da estrada, uma pane no motor fez com que o carro parasse. Na época não existia ainda celular (!!!!) e, por isso, tínhamos que sair do carro à procura de um orelhão com o intuito de ligar para pedir ajuda. Mas a estrada estava escura, a próxima cidade ficava longe, o medo estava crescendo e só haviam duas casas por perto. Fomos a uma delas, mas não nos receberam (também pudera, eles também tinham que ter cuidado). Na outra casa sai um senhor de seus 50 anos (como eu era muito criança, via-o como idoso, hehehe), que nos escuta, vê a nossa apreensão e nos recebe em sua casa. Nos fornece o telefone para ligarmos. Mas na época tudo era difícil e, em Currais Novos, as oficinas mecânicas já estavam fechadas e só poderiam nos ajudar no outro dia!!! E painho não podia sair do plantão para nos pegar.
Foi então que aquele homem nos recebeu tão maravilhosamente bem, nos hospedando com toda simpatia possível em sua casa, sempre falando assuntos positivos para nos acalmar, arruma o quarto de casal com lençóis limpos e edredon para eu, Pris e mainha dormirmos aconchegadas e ficarmos a vontade, coloca toalhas limpas e cheirosas para nos banharmos. Cedinho da manhã chega o mecânico e, enquanto ele conserta o carro, o senhor nos prepara um delicioso café da manhã, com manguzá, milho, frutas plantadas do seu próprio pomar, leite tirado de sua própria vaca, isso bem cedinho pela manhã.
O carro foi consertado.
Agradecemos sua generosidade e partimos.
Ficou marcada a bondade daquele homem em ter nos ajudado.
Fazer o bem, sem olhar a quem! É assim que todos nós devemos agir sempre: seja em nossa vida pessoal, em nosso trabalho, com nossos amigos, colegas e, principalmente, com desconhecidos, com pessoas que não fazem parte da nossa rotina, mas que, por algum motivo, precisarão de nós. Interesses e princípios são a base de muitas de nossas atitudes. Agir por interesse não é pecado, mas agir por princípios é, sem sombra de dúvida, a salvação!
Solidareidade!! mtas pessoas não sabem seu real significado
Abraços 🙂
Não vão me chamar de sonhador, mas bom seria se o vírus da solidariedade contaminasse todos nós, numa verdadeira pandemia. O mundo com certeza seria maravilhoso.
Que esse exemplo nos contagie.
Glauco