Pegando Fogo
IDEIA MALUCA
Com mais um torneio importante pela frente, Naldinho não parava de estudar as estratégias e táticas de jogo, tudo para se sair bem naquela importante competição de Xadrez, afinal, sua fama de bom professor não poderia ser manchada com um mau desempenho.
Era o terceiro final de semana que Lurdinha não saía de casa, e aquilo começou a irritá-la de tal maneira que ela seria capaz de qualquer coisa para tirar Naldinho de junto daquela montoeira de livros.
Já não aguentava escutar as amigas do escritório contar as novidades das compras e de novos lugares encantadores que sempre conheciam. A tagarela da Bia era a que mais a irritava, contando inclusive detalhes da vida amorosa.
Naquele sábado, a paciência de Lurdinha havia chegado ao seu limite. Ligou para sua melhor amiga, a Adelaide, e pediu a opinião dela para pôr um fim naquela sua irritação.
Adelaide, solidária e por entender que os livros de Naldinho eram os principais inimigos de Lurdinha, logo decretou:
– Querida, você tem que fazer sumir esses malditos livros. Se fosse comigo, tocaria fogo em tudo!
– Amiga, você acabou de me dar uma grande ideia.
E as duas se dispuseram a fazer um plano que tinha tudo para dar certo. Trataram de todos os aspectos e de todos os passos para a execução daquela ideia que a princípio parecia ser genial.
Movida a adrenalina, Lurdinha deu um grito tão alto que poderia ser ouvido no outro lado da rua e logo começou a chorar com intensidade. Estava iniciada a primeira parte do plano.
Naldinho fechou o volume três do Roberto Grau e saiu desesperado do escritório para seu quarto. Primeiro objetivo atingido: atrair o marido para a alcova.
Logo ela passou à segunda parte do script. A cena do pranto deveria ser seguida de argumentos suficientes para convencer o marido a sair com ela, mesmo sabendo que aqueles últimos dois dias da véspera do evento eram os mais importantes para Naldinho.
– Lu, que está acontecendo com você? Achegou-se todo carinhoso, tentando compreender a causa daquele choro repentino.
Depois de enchê-la de carinhos e beijinhos, Naldinho seguiu indagando:
– Querida, fale alguma coisa, diz pra mim por que você está assim?
– Naldinho, você não me ama mais! Nem sequer olha mais pra mim. Fico o tempo todo dentro de casa. Estou cheia de pedir comida pronta! Lurdinha, depois de desabafar, voltou a choramingar.
Mesmo sabendo que tinha que terminar sua preparação especial, principalmente algumas linhas mais agudas da defesa siciliana, não viu outra solução senão propor uma saída para um almoço no Delícias Mineiras, um novo restaurante da cidade.
– Lu, eu te amo e você sabe muito bem disso. Vamos sair um pouco, querida, você trabalhou muito nesta última semana e merece um presente. Vou levar você para almoçar fora, uma comidinha uai de bom! Naldinho tentava no fim do seu convite ser carinhoso e engraçado, talvez tentando quebrar aquele clima tenso.
– Vamos, levante e tome um banho. Logo iremos sair! Me dê apenas alguns minutinhos para arrumar minha bagunça no escritório.
Ao ver o marido se afastar, Lurdinha ergueu o punho com um “Yes” baixinho. Segunda parte do plano fora bem executada.
Depois de colocar uma cópia da chave do apartamento debaixo do tapete, correu pro banho e depois se arrumou toda bonita. Naldinho não demorou muito e também pôs sua melhor roupa, e se foram finalmente de casa, o que pra Lurdinha já era uma vitória, como um libertar de prisão.
Tudo estava saindo dentro dos conformes, seguindo à risca seu planejamento. Àquela altura, enquanto eles desfrutavam o temperinho gostoso da comida, sua amiga deveria estar executando a parte principal do plano.
Na volta para casa, o susto, e o mesmo bombeiro que apagou o fogo definiu como causa do incêndio um curto circuito na tomada mais próxima à estante de livros. Nela Naldinho ligava o ventilador, a televisão, o rádio e o computador. Não deu outra, houve um superaquecimento que provocou o início de fogo, e o paninho da decoração deu início à combustão.
Os amigos e os pais dos alunos, compadecidos com a situação do Naldinho, que havia perdido seus melhores livros, compraram tudo de volta. A estante ficou mais enriquecida com os livros do Alfredo D’Agostini, Roberto Grau, Aaron Nimzowitsch, Ludek Pachman, Mark Dvoretsky, e o querido professor acabou ganhando ainda de brinde a coleção mais nova do John Watson.
Diante de toda aquela manifestação de carinho com o Naldinho, Lurdinha se rendeu ao coração e, ao invés de chorar, ria de forma incompreensível, junto com a amiga.
Autor José Maria Cavalcanti
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Clique aqui: https://bollog.wordpress.com/2011/09/11/pegando-fogo/#comments
Leia outras histórias do casal Naldinho e Lurdinha, publicadas anteriormente no Blog do Bollog. Clique nos links abaixo:
https://bollog.wordpress.com/2011/06/15/falha-de-comunicacao/
A CARONA – Quanto tempo iriam ficar afastados os dois amigos por aquela terrível “Falha de Comunicação”?
https://bollog.wordpress.com/2011/01/30/conto-3/
FLAGRA NO XADREZ – De repente Lurdinha cisma de ir ao local de competição, pegando Naldinho em situação comprometedora. Nossa, que barraco!
https://bollog.wordpress.com/01/18/cenas-do-cotidiano-3/
XADREZ CURA TUDO – Depois daquela palestra sobre os benefícios do Xadrez, Naldinho começa a ser assediado e, para seu desespero, Lurdinha descobre tudo e o coloca contra a parede (leia mais no link acima).
https://bollog.wordpress.com/2011/02/20/1520/
SERÁ QUE NALDINHO TEM OUTRA – Aquela pulga atrás da orelha de Lurdinha gera uma verdadeira investigação na vida do Naldinho. Será que ele escapa dessa?
É bom ter de volta as aventuras de Naldinho e Lourdinha, que relatam com bom humor os conflitos que atingem a maioria dos casais. Dessa vez, a maldade de Lourdinha foi amenizada pela solidariedade dos amigos, que presentearam Naldinho com uma nova e atualizada coletânea de mestres do xadrez. Contudo, atingiu o seu objetivo de tirar o casal da rotina e com isso, ter bons assuntos para conversar com as amigas do trabalho.
Apesar de inconsequente essa ação de Lurdinha, mostra o quanto é ruim ser deixada de lado pelo homem que ama. Sei que meu marido tem o hábito pela leitura e que tem como meta de ler, pelo menos, um livro mensalmente, mas reclamo toda vez que ele se embrenha no enredo e tudo a sua volta passa a ser secundário.
Casal alegre e muito simpático. Acompanhando as aventuras deles, percebemos o quanto é complicado a vida a dois. De forma animada, eles mostram o dia a dia na vida de um casal. Lendo esse texto, logo me deu vontade de ler os antigos. É tudo muito divertido!
Dentro da relação, o espaço do outro às vezes é o tempo para oxigenar a vida a dois, evitando desgastes. Enquanto um trabalha, o outro lê; ou enquanto estuda, o outro se exercita; e assim os encontros se dão no compartilhar dos momentos em comum. Não pode haver exageros, senão a casa pega fogo literalmente, como Lurdinha tentou fazer, compactuada com a amiga.
Odete
Achei excelente o texto “Pegando Fogo”, li atentamente e gostei muito
Parabéns!
Saudades do excelente almoço de sábado!
E na contagem regressiva para a grande viagem!
GRANDE ABRAÇO
Mario Carlos Fernandez.
Muito bom o texto acima, divertidissimo, mas tenha cuidado você com seu jogo de xadrez, não troque a Martinha pelo jogo de xadrez, heimmmmmm…….!!!!!!!
AS DIFERENÇAS É QUE TRAZEM “GRAÇA” E (PROBLEMAS) ao relacionamento! Rsrs…
Fato!
Ah Naldinho! No fim superação.
“Dê amor, em vez de exigi-lo. Cultive aquilo que tem em si de mais nobre, e esteja pronto a reconhecer as boas qualidades do outro. É um admirável estímulo e satisfação saber alguém que é estimado. A simpatia e o respeito animam na luta em busca da perfeição, e o próprio amor cresce à medida que estimula a propósitos mais nobres.” A Ciência do Bom Viver”
Porque sabotar os sintomas podem ser desastrosos.
Na medida em que você amar, o outro se sentirá motivado a mudar. Na medida em que você agir, o outro sentirá prazer em fazer algo diferente. Então, cuide de seus comportamentos, falhas e limitações, e deixe que o outro cuide das dele!
O diálogo é necessário. Conversar sobre o que nos chateia é necessário, mas somente quando estamos fazendo de fato a nossa parte. Do contrário, apenas alimentaremos sentimentos ruins na relação. “Quem tem telhado de vidro não joga pedra no telhado do vizinho”!
Fácil?! Claro que não!
Mais você não ama?!
Então…Vá a luta!
Não funcionou?! Então reveja o que é amor ou posse.
Abraço a todos.
Como disse a Li. Sabotagem pode ser desastroso, he,he.
Um conto que traduz um pouco do real.
Muito bom Cal. Abração.
Nesta história, Naldinho não se irrita com as artimanhas de Lurdinha, tirando de letra a situação, evitando algum desgaste.
Sei que para se estar junto requer muita inteligência e jogo de cintura. A coisa nem sempre é do jeito que queremos.
As mulheres são mais vaidosas e são muito sonhadoras, enquanto os homens são mais desligados.
Aprendi algumas dicas para evitar desentendimentos entre os parceiros do amor, evitando atrito por bobagem:
“É sempre a mesma coisa, você nunca vai mudar.” As frases que começam com “sempre” ou “nunca” não levam a lugar nenhum. Além disso, essas frases geralmente não correspondem à realidade, mas fazem a outra pessoa se sentir julgada e condenada.
“Estou de saco cheio de você.” Não estabeleça uma linha de separação entre vocês dois como se fosse o fim, porque isso impede qualquer negociação sobre o relacionamento.
“Nada do que eu faço deixa você contente.” Não se faça de vítima nem tenha pena de si mesmo(a). Esse tipo de frase só desperta raiva ou pena e não ajuda a construir uma relação saudável.
“Você sempre prioriza os seus amigos!” Não dispute atenção com as amizades do seu amor. Manter uma vida social saudável ajuda a fortalecer o vínculo de um casal. As relações possessivas absorvem e cansam a outra pessoa.
“Você nunca me ouve, nem se importa com o que eu digo.” Não se subestime nem culpe a outra pessoa por tudo. Observe como o seu amor se sente e preste atenção se o comportamento dele não é comum em todas as pessoas. Se não for, ajude a pessoa que está ao seu lado a fortalecer mais os vínculos do relacionamento.
“Vamos acabar com isso de uma vez por todas.” Quando você falar de separação, não faça ameaças. As palavras perderão significado e valor tanto para a outra pessoa como para você.
“Quantas vezes nós vamos discutir a mesma coisa?” Se as discussões se repetem sobre um mesmo assunto é porque esse tema ainda não foi resolvido. Embora seja difícil, vale a pena analisar a situação pendente várias vezes, para que o problema fique no passado e não seja motivo de novas reclamações.
“Antes você não era assim.” Você cresce e vai mudando; o seu amor, também. Você deve aceitar e entender essa mudança. Aproveite esse crescimento mútuo e os pontos positivos da relação no presente. Não tenha medo das possíveis faltas de sincronia, pois elas são conseqüências desses crescimentos.
“O que mais você tem para me dizer?” Com estas palavras você mostra que não sabe ouvir e que está encerrando a conversa. Um relacionamento fica difícil se não há comunicação.
“Eu faço o que eu posso.” Não se apóie nessa frase, que é confortável para quem diz e limita qualquer possibilidade de mudança. Mostre que você pode fazer muito mais se for necessário e que só precisa saber o que a outra pessoa espera de você e vice-versa.
Não adie assuntos que precisam ser resolvidos. Procure o momento adequado e converse, para poder seguir em frente sem rancores.
Tente criar um bom clima de diálogo. Prepare um drinque, coloque uma música agradável ou faça alguma coisa que agrade a pessoa que está ao seu lado. Assim, a conversa terá um clima de tranqüilidade, mesmo com assuntos difíceis. O clima tenso só aumenta a distância entre vocês.
Boa sorte a todos os casais.
Estela
Depois de leer o comentário da Estela, no sei o que mais podería dizer. Parabéns! por sua mensagem. Muy buenos los videos, y veía siempre a Jó, cuando teníamos acá a Rede Globo. Um grande abraço e lembranças a todos.
Adorei a volta de Naldinho e Lurdinha. Fico até pensando que o autor se inspira em pessoas muito próximas, de tão reais. Dessa vez o feitiço voltou-se contra o feiticeiro, mas, ao final deu tudo certo. Outra coisa é que essas dicas da Estela poderiam ser enviadas para Lurdinha colocá-las em prática. Aliás, para todos nós. Obrigada!
Em um relacionamento, no começo é mil maravilhas, no meio já se quer ficar junto todos os dias e aí vem a idéia e a vontade de casar, bom, vem o pedido de casamento, que delícia, pensar que vou acordar todos os dias juntos, dividir o mesmo espaço, que maravilha, formaliza-se o noivado e é aquela festa, daí pra frente se divide tudo quando se trata de $, passear e viajar nem pensar, enxoval, festa, vestido, mobília da casa etc, não sobra nada para o divertimento, e o amor … só se fala em contas a pagar, aí vem o casamento e acontece como no texto acima, então acho que deveria apenas namorar, pois assim a magia não acabaria. E todos os dias, ao se encontrar com a pessoa amada, ficar sempre com aquele gostinho de quero mais amanhã.