Aprendiz de Escritor
A PEDRA DO CAMINHO
Quando resolveu pôr no papel os seus conhecimentos, ele se propôs a escrever uma história de ficção. Para isso, utilizou o computador, escrevendo todas as linhas em letras maiúsculas, pois ele havia resolvido desnudar-se de todas as falhas da escrita da língua portuguesa. Já havia se dado conta que escrevia palavras com erros grosseiros, mas precisava fazer isso, pois só assim teria um retrato fiel do seu nível de escrita.
Disse-me que havia encarado tudo com naturalidade, desde o momento em que eu tinha dito para ele que “escrever é se expor”, e assim ele percebeu que teria que se mostrar por completo, enfrentando as suas limitações e falhas.
Como ele sabia que teria algumas dificuldades com o idioma, por não ter o pleno domínio da ferramenta, resolveu então seguir a minha dica: “- Escreva tudo do jeito que vier na sua cabeça, sem se preocupar com vírgulas, parágrafos, acentuação e concordâncias verbais e nominais, assim você não se desviará um segundo da inspiração.”
Com essa preciosa dica, que era um alívio para ele por ser este o seu entrave, começou a tecer um tema que já estava bem amadurecido na sua cabeça, o qual, para ser elaborado, faltava só um estratégico empurranhãozinho – nada mais que a astúcia de um velho professor que nunca matou o talento de seus alunos, castigando-os a cada erro encontrado nas suas redações escolares.
Assim, Escola Brasil começou a ser elaborado, contando com a força de um especialista para corrigir o material que estava sendo escrito, totalmente em letras de caixa alta, pelo aprendiz de escritor.
Escrevendo sem a pedra do caminho, cheio de alegria, as palavras saíam aos borbotões, como se escorressem das teclas diretamente para o papel. Os capítulos iam brotando à medida que as ideias fervilhavam pela cabeça de João.
Aproveitando uma das minhas idas a Natal, ele finalmente me passou as primeiras laudas, e eu me encantei com aquela trama envolvente, que trabalhava personagens fortes, envolvidas em um conflito nos bastidores do poder. A história tinha os ingredientes de todo bom livro: ação, violência, sexo, drama e amor.
Embora estivesse empolgado na elaboração de Dança dos Cavalos, disse para ele que daria prioridade ao dele, de tanto que me envolvi com o enredo. Na apreciação inicial, já me dei conta de estar diante de um grande material e eu queria dar o meu melhor para compor com ele um grande produto final.
Conforme prometido, comecei o meu trabalho de copydesk, fazendo a revisão dos aspectos ortográficos e gramaticais. Logo percebi que minha preocupação com a clareza e estruturação das ideias tinha pouco sentido. Pouca coisa eu tive que reestruturar e reescrever, procurando sempre me ater ao conteúdo original do João.
Pacientemente, resolvi usar o que ele havia escrito para pequenas aulas. E assim, fui orientando-o em cada distorção encontrada, fazendo pequenos comentários explicativos sobre a correção das palavras, as termologias e o uso necessário ou indevido da pontuação.
Depois de um ano trabalhando nessa parceria, estávamos diante do número um. A alegria do primeiro livro é indescritível. Mal comemoramos a primeira façanha, ele já partiu para o segundo, com a mesma sede e ímpeto.
Com o mesmo procedimento e inspiração de Escola Brasil, surgiram depois PIPAMAR, PREÇO DO ANJO, MATULÃO e agora MARESIAS, sem contar que VIDA MINHA já foi escrito, impresso e distribuído para todos os irmãos – a saga da nossa família, uma homenagem aos nossos pais, contada com muito sucesso por João Cavalcante.
Acho que não foi uma pedra que retirei do caminho, mas sim uma rocha, pois a rica fonte não para de fluir, após a retirada do grande obstáculo. O primeiro fruto foi apenas um marco inicial na vida do novo escritor, que insiste humildemente em dizer que é apenas um “Jardineiro que escreve”.
Autor José Maria Cavalcanti
Qual é a sua experiência com a escrita, COMENTE!
Clique aqui: https://bollog.wordpress.com/2011/09/30/aprendiz-de-escritor/#comments
E essa rocha ainda persiste em alguns momentos, porém não abro mão de seguir em frente. Agradeço, imensamente, ao grande auxílio de meu irmão Zeca, pois ele, pacientemente, me enche de críticas construtivas. Esse hábito de nos corrigirmos vem do seio de nossa família, a maioria letrados , que, a toda hora, tiramos dúvidas de expressões usadas ou de palavras mal ditas. E, agradecemos sempre a ajuda.
Acima da escrita correta existe a ideia. Os grandes escritores contam com uma equipe de auxiliares que identificam as mais variadas falhas nos seus escritos. Porém, por mais técnica que seja a equipe, tudo para sem a ideias do escritor. Uma escrita correta é essencial para compreensão da leitura, mas não devemos alardear os erros em detrimento do bom conteúdo do texto. Parafraseando Fernando Pessoa: “tudo vale a pena quando a alma não é pequena.”
Parabéns por nos lembrar, com esse texto, que devemos olhar tudo com bons olhos.
Como é bom poder contar com ajuda de alguém quando iniciamos algum novo projeto em nossa vida. Alguns entram financeiramente, outros com o trabalho e a maioria dando a maior força e ficando na torcida do pró. Mas, existe ajuda que verdadeiramente marca o projeto, são de amigos que percebem nossas dificuldades e limitações e nos dão pequenas, porém, valiosas dicas. Quem não se lembra das professoras de antigamente que chegavam bem pertinho da gente e nos apontavam o melhor caminho a seguir com as nossas tarefas? São inesquecíveis.
Divido com todos os leitores do Blog do Bollog a reportagem do autor de A CABANA. Algo que fez uma grande diferença na minha vida como aprendiz de escritor:
O escritor William P. Young é realmente muito humilde, pois são 12 milhões de cópias de “A Cabana” vendidas em todo o mundo. Seu livro foi traduzido para 41 idiomas. E, mesmo assim, William P. Young não se considera um escritor. Young esteve no Rio de Janeiro participando da 15ª Bienal do Livro e, na oportunidade, declarou que é um “autor ocidental”.
“Antes de virar escritor, tinha três empregos. No principal deles, fazia serviços de empacotamento e limpeza em uma fábrica, limpava até privadas”, conta o autor canadense, que escreveu o romance sem intenção de publicá-lo. “Deus tem um grande senso de humor quando planeja nosso destino”, disse em entrevista”.
O autor revelou que muito de sua história de vida está presente em “A cabana”. Filho de missionários, ele morou dos 10 meses aos 10 anos em Papua Nova Guiné e estudou teologia nos EUA. “Cresci em uma família religiosa, sempre pensei muito sobre a relação das pessoas com Deus. Mas a convivência em uma cultura tribal durante tanto tempo me fez pensar nessas coisas por uma outra perspectiva”, afirma.
Ele conta que a influência da cultura de Papua Nova Guiné motivou um dos pontos mais controversos de “A cabana”: o retrato de Deus como uma mulher negra. “Queria me distanciar ao máximo daquela imagem clássica que temos de Deus, como um homem branco e sofredor”, conta o escritor, que afirma ter prazer em ver seu livro gerar polêmica. “São só palavras impressas no papel, o resto está na cabeça de quem lê. Quem me critica não está falando de mim, está falando de si próprio”, finaliza.
Com as palavras do próprio autor, podemos entender melhor o enredo do seu grande sucesso e também compreender a importância da sua experiência de vida na construção de uma bela história, quebrando estereótipos e com isso fomentando muita polêmica.
Antônio C. Jardim
Muito bom ter dois irmãos escritores na família. O dom de Zeca sempre foi alardeado pela família, previsível. Estava escrito. João surpreendeu. É um filho atrás do outro. Parabéns meu irmão, multiplicai como os coelhos. Sem esquecer das irmãs letradas e dos sobrinhos poetas.
Viva aos nossos pais que incentivaram o hábito da leitura em nossa família.