Prova Difícil
AMIGUINHOS DO CÉU
Acordei com minha mãe no meu ouvido, logo cedinho, em pleno domingo!
– Gustavo, você pensa que tenho o dia inteiro para esperar você pra tomar café! Amanhã é dia de prova, menino, vê se acorda, vai tomar banho e escovar os dentes! Hoje você não tem televisão nem vídeo game, tem que estudar, senão a gente não vai poder viajar de férias!
Puxa, o jeito de falar aquelas últimas palavras era como colocar o mundo sobre minhas costas. Além de abrir mão de brincar naquele dia lindo, eu teria que estudar todo o tempo para tirar um oito em Geografia, senão ninguém poderia viajar.
Ainda esticando o corpo, arrastei-me em direção ao banheiro para fazer o asseio corporal. Tomei café e observei que todo meu material escolar estava sobre a mesa. Percebi logo que minha mãe não estava para brincadeira e não adiantaria tentar qualquer joguinho com ela. A saída era estudar ou fingir o dia inteiro.
Como havia ficado de mau humor, pouco coisa entrava na minha cabeça. Pior pra mim, pois o professor era casca grossa e certamente iria pegar pesado na prova.
Ele não havia caído nas graças da turma, muito menos eu tinha gostado dele. Onde já se viu, mal chegou à sala, como professor substituto, e já queria impor um montão de coisas. Parecia um manda-chuva a exigir respeito.
O tempo parecia que estava igual a mim, preguiçoso, mas finalmente se entregou, e caiu a noite.
Minha mãe já não poderia continuar exigindo nada de mim, a não ser preparar meu lanche para eu poder ir dormir. Ela estava certa que eu havia estudado muito, e eu tinha certeza que estava dando um curto circuito na minha cabeça com toda aquela confusão de nomes de estados, capitais, datas e percentuais.
Os mapas geográficos desfilavam em minha mente, baralhando localizações antes já decoradas.
Com uma espécie de estafa mental, caí na cama como uma pedra, e nem sequer deu tempo de elevar um pedido para Deus para me sair bem na prova.
O sono veio ligeiro, e logo me vi viajando por entre nuvens em um céu azulado.
Não demorou muito para eu me dar conta que estava em meio a pássaros. E não só isso, eu estava na liderança deles. Voava à frente, cortando os ares e diminuindo a intensidade da força do vento, possibilitando um menor esforço para meus companheiros que vinham logo atrás, naquele imenso “V” de nossa formação aérea.
Eu conduzia o grupo pelo Brasil afora. Depois de sobrevoar uma montanha imensa, com sabor de açúcar, com bondinhos subindo e descendo, nos encantamos com tal beleza imensa daquele lindo lugar de praias.
Num piscar de olhos, escutei um amiguinho me alertar: “- Cuidado com esse homem gigantesco na sua frente!”. Era o Cristo Redentor, erguido a mais de 700 metros de altura. Desviamos do monumento sobre o Corcovado, no Rio de Janeiro, e continuamos nosso curso aéreo sobre as mais belas capitais brasileiras.
Depois de voar sobre as terras capixabas, percorremos todo o belíssimo litoral nordestino, passando a circular sobre os estados que compreendiam a imensidade amazônica. Após aquele mundo verde, voamos por mil lugares novos, contemplando a fauna e a flora, fazendas imensas de gados e campos de soja, o pantanal, chapadas, o planalto central. Descemos Brasil afora, sobrevoando muitas cidades mineiras até pousarmos numa outra divisa em Bonito. Ali fizemos mais uma parada técnica. Descansados e reabastecidos, fomos à fronteira para tomarmos uma ducha nas Cataratas do Iguaçu, indo depois parar quase no outro extremo brasileiro, bem no alto das serras gaúchas. Já à baixa altura, nossas asas cortavam os ventos do pitoresco litoral catarinense, depois passamos sobre mais belezas paranaenses. Por fim chegamos ao ponto de partida em São Paulo.
Puxa, aquela foi sem dúvida minha maior aventura por céus, climas, montanhas, paisagens e nuvens.
Pegamos chuvas, fortes ventos e muito sol, mas chegamos todos exaustos de tanto voar.
Um novo dia nasceu e de repente escuto uma voz conhecida, vindo de muito longe:
– Gustavo, vamos! Esqueceu que hoje é a prova?
Era minha mãe, fazendo-me acordar daquele lindo sonho. Depois das correrias de tomar banho e me arrumar, escovar os dentes, tomar café, logo o carro me deixava na escola para a tal prova.
Estava ansioso e um pouco nervoso, pois sabia que teria que tirar uma boa nota, mas não havia estudado tanto assim.
Depois que li a prova, em pouco tempo havia respondido tudo e logo fui entregar a prova ao professor, bem antes de qualquer amigo de classe.
Ansioso com o resultado, perguntei:
– Professor, o senhor poderia dar uma olhadinha na prova, pois necessito de um oito para poder viajar? Minha voz saiu com muito mais educação que de costume, pois estava pedindo algo muito importante.
Depois de uma rápida olhada, o professor respondeu baixinho:
– Caramba, você acertou tudo! Como pode isso?
Enquanto o professor demonstrava sua surpresa, saí dali pulando de alegria, imaginando a felicidade da minha mãe quando eu contasse para ela. Poderíamos viajar para a praia. Que legal!
Claro que eu não sabia exatamente como aquilo havia acontecido, mas suspeitava ter sido as aulas de geografia que ganhei voando com meus amiguinhos lá no céu azul.
Conto publicado no Blog Grafiama: http://grafiama.wordpress.com
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Revoada de Pássaros
Quem ainda não sonhou estar voando. Não sei o significado disso, mas os sonhos às vezes são tão reais que nem acreditamos. No caso do conto, foi muito útil para que o Gustavo tivesse um aprendizado indispensável para realizar sua prova.
A mente humana é como um computador. Aliás, o ser humano sempre copia a natureza, ou seja, o computador é nosso cérebro. O navio ou submarino é a imitação do peixe, o avião é o pássaro, o trem é a cobra, o sistema hidraúlico de uma residência são os vasos sanguíneos, o sistema elétrico é o sistema nervoso, o esgoto é o sistema linfático, o sistema digestivo e urinário é o cano de escape do carro com eliminaçao do monóxido de carbono, o coração é o motor, o pulmão é o carburador e por aí vai. No caso do conto, Gustavo estava comprometido em ter que tirar uma nota oito para poder viajar. Com isso ele programou seu cérebro com tanta ênfase que durante a noite, durante o sono, ele fez uma recapitulação tão bem feita que não poderia ter dado outro resultado. Nossa mente é o computador mais extraordinário que existe. Quem já não ouvi falar que programamos menos que 10% do nosso potencial cerebral?
A viagem só foi possível devido seus estudos. Tudo ficou no subconsciente e o sonho foi o grande catalisador para refrescar a memória do que havia sido estudado. De forma divertida, o texto mostra uma forma de educação muito comum: da recompensa. A mãe zelosa e preocupada, usa o argumento de só viajar se for aprovado na matéria. O cérebro captou viagem + estudos e viajou nos estudos. Parabéns!
Li, certa vez, que durante a fase REM (“movimento rápido dos olhos”, na sigla em inglês) do sono, o fluxo sanguíneo cerebral se intensifica e uma série de imagens toma conta do cérebro.
Daí que, nos sonhos, as experiências importantes vividas durante o dia são associadas às nossas memórias. O sonho permite que aquilo que aprendemos de dia (e que está no hipocampo – região responsável pelos novos conhecimentos) vá para o córtex cerebral, onde o aprendizado é armazenado de acordo com os estímulos sensoriais.Com isso, alguns sonhos têm a função de antecipar acontecimentos, dependendo do nível de estresse. Sabe quem sonha com as questões da prova? Além de ser um sinal de que o aluno está memorizando a matéria, é também um mecanismo biológico que usamos para treinar nossas atitudes, antes que algo ocorra. Isso também vale para quando, por exemplo, você sonha que está falando umas verdades pro seu ex. O sonho alivia o estresse, porque nele a emoção rola solta. Acordados, preferimos a razão. E os pesadelos? Bom, acredito que eles nos preparam para enfrentarmos os obstáculos muito estressantes do cotidiano. Se você morre de medo de cachorros e tem sonhos frequentes de que está sendo atacada por eles, é sinal de que tenta enfrentar o medo. O mesmo vale para algumas tragédias da vida. Sonhamos com elas constantemente a fim de aceitar melhor o que aconteceu.
Bom, poderemos transformar esses sonhos em palpites para uma fé no jogo do bicho. Nesse caso é necessário decifrar bem os mesmos para o acerto na aposta principal, uma boa grana na milhar.
Gracinha
O mundo infantil é movido a aventuras e sonhos. Nele se vive com uma intensidade única, como quem se atira a devorar um bolo de chocolate, sem querer deixar nem um pedacinho para o dia seguinte.
Este belo conto infantil, além da aula de Geografia, diz muito sobre o universo de todos os meninos e meninas, uma história que ressalta a importância dos estudos, dos cuidados dos pais com os filhos e de responsabilidade, mesma na tenra idade.
Como já disse Lustato Tenterrara: “A esperança mais pura e nobre e linda é a esperança que jorra dos sonhos de uma criança”.
Pena que quando a gente cresce perde um pouco desse mover dos sonhos.
Sim, com a idade, parece que os pés ficam mais grudados ao chão.
Sempre tive que estudar sozinha, pois meus pais não eram letrados e mesmo que fossem não tinham tempo diante de tantos serviços para cuidar de nosso sítio. Lembro que sempre que eu ou algum irmão estava estudando, minha mãe ordenava que todos evitassem perturbar com barulhos. Em períodos de provas estudávamos até tarde da noite, ela fazia papa de aveia para nos aquecer e sempre cuidava da iluminação do ambiente. Provas de geografia sempre foi de “decoreba”, mas exigia muita leitura e concentração. O belo texto transcreve situações vividas pelos estudantes e enaltece a importância dos estudos.
A gente só reconhece essa luta dos pais para nos fazer estudar quando crescemos e principalmente quando assumimos também o mesmo papel.
Há muita coisa ruim pelas ruas e companhias complicadas sempre se avizinham. Os atrativos são muitos para tirar o foco da garotada, mas a persistência dos educadores tem prevalecido, graças a Deus.
Alex
Eu não era boa em geografia, que o diga a professora Lia, e parece ironia do destino, pois hoje adoro viajar e descobrir novos lugares, fico de olho nos mapas e regiões diferentes para conhecer.
Minha mãe sempre me dizia: você não trabalha e tem muito tempo para estudar, por isso nem pense em repetir de ano. Dou graças a Deus por ter tido esse privilégio, pois muitos têm que estudar e trabalhar, ao mesmo tempo.
Hoje, com tantos atrativos, jogos, computadores, cinema e etc, algumas crianças não dão importância devida aos estudos e com isso deixam de lado aquilo que será fundamental para sua formação e futuro.
Valeu, vô, aquele notão na prova me livrou de ficar de castigo.
Gustavo
Antigamente, em toda sala de aula tinha um globo. Girávamos a bola e percebíamos como é dividido o nosso planeta: continentes, oceanos, mares, ilhas, rios, países, estados e cidades.
Certa vez, numa reunião de vendas, o supervisor estava admirado com as cidades de Juazeiro/BA e Petrolina/PE e disse: – O que separa essas duas cidades é a ponte. O vendedor da área retrucou: – Não senhor! O que separa é o rio. A ponte une. – Foi a maior gargalhada e o supervisor agradeceu a correção.
O homem procura unir o que está naturalmente separado e assim facilitar os acessos, seja por túneis, pontes, rodovias, viadutos e estradas de ferro.
O texto nos faz relembrar os bancos da sala de aula em que a professora nominava um estado ou país e nos perguntava o nome de sua capital. Parabéns!