Teatro de Bonecos
Neste interessante livro, a autora, Maria das Graças Cavalcanti Pereira, Mestra em Ciências Socias e presidente da Associação Potiguar de Teatro de Bonecos do RN, vai conduzindo o leitor para dentro do mundo criado por Dadi e, tendo esta talentosa bonequeira como tema central, a escritora vai puxando outros fios na condução de três cenários distintos: memória, brinquedo e brincadeira no teatro de bonecos.
Mergulhe nesse mundo de criatividade e arte, feito pra provocar a imaginação, o riso e muitas gargalhadas.
História do Teatro de Bonecos
A Magia dos Bonecos
A magia da arte milenar do Teatro de Bonecos, que encanta adultos e crianças, é uma das mais remotas maneiras de diversão na humanidade. Registros dessa forma de expressão artística existem desde a Pré-História. A origem do Teatro de Bonecos remonta ao Antigo Oriente, em países como a China, Índia, Java e Indonésia. Por intermédio dos mercadores, foi se dispersando para a Europa, inclusive sendo usado durante a Idade Média como instrumento de evangelização. No entanto, com o Cristianismo, durante a Renascença, o Teatro de Bonecos ficou abafado.
A expressão do boneco está no movimento, completado pelo som, e ambos incendeiam a imaginação, em especial das crianças. Exige, portanto, o uso do poder criador e a faculdade de transcender o mundo material.
O Teatro de Bonecos é uma síntese das artes e acontece dentro de um contexto histórico, cultural, social, político, econômico, religioso e educativo. É praticado em todo o mundo, assumindo fisionomias e espírito dramático bem diferenciado, dependendo da localização geográfica, tradições culturais, crenças e costumes.
Na América, o surgimento do Teatro de Bonecos aconteceu por volta do século XVI, época dos grandes descobrimentos, o que contribuiu muito para sua divulgação no mundo inteiro. Confeccionado muitas vezes, semelhante à nossa imagem, o boneco se torna um ser misterioso, em torno do qual podemos construir um mundo.
No palco, toma vida própria por meio das mãos do manipulador, conta história e transforma a vida numa magia que muitas vezes nos faz sair da realidade pelo seu grande poder de sugestão. Toda a sua expressão se concentra no movimento.
Para situá-lo no tempo e no espaço, dois fatores surgem: sua origem e sua importância na sociedade como agente na descoberta do mundo, por meio da arte. É uma síntese de um contexto histórico, cultural, social, político, econômico, religioso e educativo. Sob estes aspectos é que encontramos importantes tipos de Teatro de Bonecos no mundo: Petruchka (Rússia), Vidouchaka (Índia), Karagós (Turquia), Punch (Inglaterra), Guignol (França), Fantoccini (Itália), Mamulengo (Brasil) e Bunraku (Japão).
Além da Imaginação
O boneco, ser inanimado por princípio, no palco toma outras dimensões: voa, contrariando as leis da física, assume as posturas mais extravagantes, mas não perde o caráter de familiaridade. Isto é, nos identificamos com eles.
A arte possui valores que a transcendem, atinge o universal, eliminando barreiras de tempo e lugar. Assim, o Teatro de Bonecos oferece mil possibilidades a quem o descobre.
Nas mãos de um educador hábil, o boneco é um instrumento de grande valor. Nem sempre a palavra é mais importante: os gestos e trejeitos do boneco transmitem informações ao espectador que o leva a interpretação e identificação imediata da mensagem. Sua eficácia é muito importante, tanto para crianças como para os adultos.
Fonte: CCTG
Se você gostou do texto, deixe um COMENTÁRIO!
Clique aqui: https://bollog.wordpress.com/2012/02/23/teatro-de-bonecos/#comments
Tive a oportunidade de presenciar o lançamento desse belo livro didático sobre o teatro do João Redondo. O evento foi algo glamoroso, pois foi realizado no Teatro Alberto Maranhão e contou com a presença da Governadora e de muitas autoridades do mundo cultural do nosso e de outros estados. A autora conta com brilhantismo a façanha de ter descoberto, nesse mundo lúdico de domínio masculino, Dona Dadi, uma mestra na arte do saber fazer. Narra com autenticidade a trajetória de vida da bonequeira que enfrenta preconceitos, mas consegue se firmar nesse mundo mágico de entretenimento popular. Parabenizo, com orgulho, a minha irmã Graça Cavalcanti, por sua forte dedicação em prol de uma maior divulgação da arte do teatro de bonecos em nosso estado e de lutar por maiores espaços e valorização dos mestres brincantes.
Mestra Graça Cavalcanti, com este livro, você se tornou imortal. Ele é um legado para esta e todas as gerações futuras. Nele você mostrou seu talento, oriundo do curso de Letras, e demonstrou sua formação em História e Ciências Sociais. À frente da Associação Potiguar de Teatro de Bonecos do RN, você reconheceu este grande talento ímpar de dona Dadi no universo masculino dos bonequeiros. Parabéns pelo belíssimo livro e pelo seu inesquecível aniversário, minha irmã!
Os bonecos sempre estiveram presente em todas as civilizações. Representam pessoas, vivem culturas, contam e ensinam histórias.Com seus gestos e trejeitos falam e transmitem muito, por ter o poder de receberem vida na imaginação daqueles que o assistem. Eles se vestem de gente e conseguem incorporá-los de tal forma que criam perfeita receptividade com a platéia e assim conseguem mandar seu recado.
Numa situação inversa, em todas as civilizações, os seres humanos, em diversas ocasiões, necessitaram se vestirem de bonecos e representá-los para contarem e ensinarem histórias. Usarem seus gestos e trejeitos, incorporá-los para conseguirem atenção dos expectadores e transmitirem também suas mensagens. No folhear da história percebemos estas transformações nas indumentárias dos caciques, pinturas corporais dos indígenas, vestes dos Faraós, máscaras do carnaval de Veneza, peruca de Dom João VI, Chacrinha o velho guerreiro, Elke Maravilha, tatuagens que nos acompanham na modernidade, drag queen, bandana de Bell Marques, vestes das mulçumanas, fantasias da Marquês de Sapucaí, grupo musical “secos e molhados”, fardas dos militares, batina dos padres, corte de cabelo de Ronaldinho ou moicano de Neimar e etc… Enfim, são seres humanos se fazendo representar por bonecos, cada um com sua importância na sociedade como agente de descoberta por meio da sua arte.
Parabéns, Graça Cavalcanti, pelo riqueza cultural que você propocionou aos seus leitores.
Naquele 08/08/2011, me vi me arrumando para a cerimônia de lançamento do livro de Gracinha, mas também para ser apresentada a família Cavalcanti. Aquele momento glamoroso para a escritora era também muito especial para mim, pois como o livro eu seria vista superficialmente, para uma posterior avaliação do conteúdo. Acho que o momento não podia ser mais oportuno para minha apresentação, visto que todas as atenções estavam voltada a cerimônia e, sendo assim, diluiu meu nervosismo. O evento mobilizou toda a família que em fila esperava o momento de congratular, bater fotos e de receber o livro com a dedicatória. O Teatro Alberto Maranhão foi decorado especialmente para a recepção e o cenário montado era de um empanado, onde os bonecos se apresentaram, todos de uma vez, dentro do livro, manipulados pelas mãos habilidosas da mestra Graça Cavalcanti. Parabéns e Feliz Aniversário.
Primeiramente, parabéns a tia Graça que está aniversariando hoje e por esse grande feitio, publicar um livro! Dizem que todos deveriam na vida escrever um livro ou saber tocar algum instrumento. Esse pensamento se origina da simples vontade do ser humano de se imortalizar, ficando na lembrança das pessoas, talvez como os bonecos do teatro.
No teatro de bonecos, as mãos que os conduzem trazem vida a objetos inanimados. Mas, não são só mãos que criam vidas, e sim também a imaginação dos que criam as peças e a imaginação do público que, no decorrer da apresentação, passa a vê-los como verdadeiros seres com vida. E aí fica a pergunta: será que existe mesmo imortalidade nos bonecos? Será que a vida deles não estaria restrita ao tempo de vida das mãos que os conduzem? Se forem outras mãos, aquele boneco deixa de ser “aquele” boneco? Não seria o mesmo corpo físico em uma alma diferente e, por isso, um novo boneco?
Como já disse o comentarista Jodinaldo, nós também nos vestimos como bonecos para aparecermos no teatro da vida. No entanto, isso não ocorre apenas com os grandes artistas ou em eventos especiais, mas no nosso dia-a-dia. Quando vamos trabalhar nos vestimos a critério como o trabalho exige: O médico de jaleco, o advogado e bancário de ternos, o surfista de calção e protetor, o militar de farda e assim por diante; exatamente como o teatro da vida exige. Quando fazemos atos bem vistos pela sociedade, estamos nos tornando bonecos da vida; quando reprimimos nosso “Id” em prol de uma sociedade melhor, estamos novamente nos fantasiando em bonecos da vida.
Enfim, boneco que vira gente e gente que vira boneco. Afinal, a arte imita a vida!
Por fim, parabéns a tio Zeca, pela bela lembrança que se torna ainda mais especial pelo dia!
Bjos
Belíssima matéria e uma grata lembrança dos artistas e da arte deste nosso Brasil tão cheio de talentos que existem em todos os quatro cantos desta nossa querida terra.
Parabéns.
Assim como minha mãe, Prudência, que fazia poemas de “Pé Quebrado”, meu pai, Pedro Alves, declamava versos, prosas, gostava de contar histórias e muitas glosas. Cresci nesse mundo de poesia e logo me identifiquei com o belo trabalho, realizado por minha filha Graça, no mundo dinâmico da cultura popular do teatro de bonecos. Parabéns e feliz aniversário.
Não tive oportunidade de estar presente nessa data tão especial do lançamento do livro, mas recebi depois pessoalmente em casa um exemplar especial carinhosamente dedicado.
Publicar um livro é uma honra e ficará para sempre registrado na memória de todos.
Parabéns por esse feito tão grande e importante em sua vida.
Aproveito mais uma vez para desejar muitas felicidades no dia de hoje, saúde, paz e amor.
A vida tem que ser uma comemoração, por isso comemore muiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiito.
Bjs, Feliz Aniversário.
Essa valorosa arte do Teatro de Bonecos merece destaque e apreciação de todos. É um patrimônio nosso e sua divulgação é algo mais que justo. Parabéns a essa guerreira chamada Graça Cavalcanti, a qual pude presenciar um pouco da sua luta em prol dos mestres e da arte do mamulengo. A cultura agradece! Abração Graça, continue nessa batalha. Nossa arte merece. 😉
Hélio de Oliveira
24/02/2012
É bom ler e reviver os momentos agradáveis do mundo encantado do ‘João Redondo’, seja nos relatos históricos, tecnológicos, antropológicos…..ou seja na brincadeira que encanta a todos. A você Graça Cavalcanti o meu carinho e a minha amizade.
Dadi virou livro porque virou a cabeça da Graça Cavalcanti que sem perceber virou boneco. Assim é que a história se repete no momento em que pesquisadora e bonequeira se encontram e entre elas vive um brinquedo de madeira feito de mulungú, de imburana ou de papel e cola. surpreendente a dedicação da Graça e a garra de Dadi. Atrás do pano da empanada, atrás da tela do computador uma escreve a outra. Na verdade brincam, se incluem. Enriquecem a arte e a história do Teatro de Bonecos brasileiro. Viva Dadi! Viva a Associação Potiguar de Teatro de Bonecos e sua presidenta, que aliás é uma Graça!
Renato Perré
Presidente da Associação Brasileira de Teatro de Bonecos- ABTB/UNIMA BRASIL
Há vinte anos atrás, foi uma apresentação de teatro de bonecos o que mais marcou a festa de aniversário de um dos meus filhos. Na garagem um empanada dividia o espaço. A plateia vibrava com a interação dos bonecos que provocava a todo instante risos. Adultos e crianças se misturavam na alegre apresentação e já não se distinguiam quem mais se divertia. Lembro que tinha uma criança que ria tanto que a mãe teve que retirá-la do recinto com medo de a menina ter um troço. Realmente devemos agradecer e valorizar o trabalho de todas as pessoas que procuram enaltecer o teatro de bonecos e que não deixem desaparecer esse patrimônio da cultura brasileira. Parabéns!
Muito bom o texto e o livro que ja li, foi Graça que me deu de presente aqui no Rio de Janeiro, quando veio me visitar. Graça fez o trabalho de resgate de um personagem popular e incentiva o teatro de bonecos João Redondo na sua região para que ele se mantenha vivo e reconhecido. Graça contribue com o Teatro de Bonecos no Brasil e na América Latina, ela é uma personalidade. Na proxima semana estará recebendo uma bonequeira uruguaia que estuda mamulengos. Obrigada Graça pela tua generosidade.!
Susanita Freire
Presidente CAL/ UNIMA
Atelier Bonecos em Ação- Centro de Referencia de Teatro de Bonecos- RJ
http://centroteatrodebonecosebiblioteca.blogspot.com
Bonecos e marionetes.
Fez-me recordar ao Mangaratiba (RJ) quando já era final da época que ainda se brincava com marionetes.
Brinquedo o qual jamais vai sair de moda é eterno, para sempre podem as gerações atuais se informatizar ao máximo, mas sempre será lembrado, não é a toa que muitos se apresentam no quadro do domingão do Faustão no se vira nos 30.
Bonecos de madeira eternizados até hoje e espero que para sempre no artesanato mineiro e do nordeste.
Já vi matérias de estrangeiros que ficam enlouquecidos quando vem ao Brasil e vêm esses trabalhos, sabem dar VALOR!
Vivemos num mundo o qual a indústria de brinquedos está totalmente visada para o lado de brinquedos de violência, mas os marionetes e bonecos de madeira serão para toda aternidade.
Pena não ter visto a entrevista no Jô com o Marionete, pela pausa que vi deve ter sido muito interessante.
Bom tempo de Mangaratiba, que se brincava com brinquedos de madeira, ia até a praia deixava a bicicleta sem travar na praia e se mergulhava da ponte de onde saem os barcos para Paraty e Ilha Grande, e as bicicletas não eram roubadas, tempo bom que soltava pipa em cima do chiqueiro do hotel Rio Branco, de Almerinda, das jogatinas de buraco na sala de jogos do hotel, mesmo as vezes com brigas, da excelente comida da dona Maria de ver gente visitando um ao outro (coisa rara nos dias atuais) de tempos de andar na rua sem medo, da primeira bicicleta, etc…..
Que os brinquedos de madeira e marionetes permaneçam nas nossas memórias para sempre.
Bom dia
Saudações
Mario Carlos Fernandez.
No ano de 2002, quando estava na graduação do curso de História/UFRN, me inseri no Projeto “Santeiros e Devoções do RN”, no Museu Câmara Cascudo – UFRN, Coordenado pela Profa. Wani Fernandes. O referido projeto tinha como proposta mapear os tipos de oferendas feitas aos santos de particular devoção, como também saber de onde esses romeiros migravam, os materiais que eram confeccionados e o registro fotográfico das oferendas na sala dos milagres, situada no alto do monte. Quando fazia a pesquisa de campo no ponto devocional “Monte do Galo”, em Carnaúba dos Dantas/RN, soube da existência de uma fazedora de ex-votos na cidade e quis confirmar sua existência. Tratava-se de Maria Ieda da Silva Medeiros, conhecida por Dadi. Ao chegar ao seu encontro soube que recebia encomendas para as promessas, mas que gostava mesmo era de fazer bonecos para o Teatro de João Redondo.
Desde então comecei a pesquisar esse universo lúdico, que até aquele momento me era desconhecido, partindo de uma questão primordial: o que é o Teatro de Bonecos e o de João Redondo?
Depois de fazer um primeiro levantamento bibliográfico sobre essa temática, chegara a hora de começar a pesquisa de campo. Só que agora guiada por outro cenário que as circunstâncias me levaram na recondução de direção do meu trabalho. E para cumprir meu propósito, naquele mesmo ano retornei a Carnaúba dos Dantas, por três vezes. Tanto com a intenção de colocar a arte de Dadi em evidência, que até então era desconhecida em nosso Estado, quanto para registrar seu cotidiano, sua família, seu saber-fazer. Desde então, fui reforçando os laços de amizade com Dadi e aprofundando meu trabalho de pesquisadora.
Ao ampliar minha visão do que seria a forma “teatro de bonecos,” observei que sua configuração não se encaixava no conceito da dramaturgia clássica, a qual examina o trabalho do autor e a estrutura narrativa da obra. E, sim, que ela engloba uma linguagem peculiar, com vários tipos de bonecos e estrutura própria. Possuidora de uma matriz com temas e personagens fixos, na qual os bonequeiros partem para criar e recriar os enredos, muitas vezes no improviso, podendo inserir novos personagens, situações, como em um romance coletivo e sem fim.
A partir do conhecimento existente e com o olhar agora mais aguçado, construído e apreendido previamente durante o itinerário acadêmico, comecei a observar as etapas de construção de outros mestres brincantes, na tentativa de preencher o que estava faltando, visando trazer mais conhecimento. Essa ideia me ajudou a confirmar cada vez mais a singularidade da mestra Dadi. Tanto no seu saber-fazer, no uso de materiais, no ato de esculpir e na exímia pintura em que revela os traços dos calungas, fazendo-o encaixar numa mão para, então, dar-lhe vida.
A partir do conhecimento existente e com o olhar agora mais aguçado, construído e apreendido previamente durante o itinerário acadêmico, comecei a observar as etapas de construção de outros mestres brincantes, na tentativa de preencher o que estava faltando, visando trazer mais conhecimento. Essa ideia me ajudou a confirmar cada vez mais a singularidade da mestra Dadi. Tanto no seu saber-fazer, no uso de materiais, no ato de esculpir e na exímia pintura em que revela os traços dos calungas, fazendo-o encaixar numa mão para, então, dar-lhe vida.
Outro fator de muita importância desde o princípio da pesquisa foi a confiança dos retornos práticos do trabalho, como, por exemplo, entrega das cópias de todo material produzido, fotográfico e videográfico, portfólio, publicações nos diversos veículos de comunicação e apresentações diversas em formato de cd. Dadi gosta muito desse retorno. Tornou-se enfim, uma relação afetiva que se prolongou por várias sessões, no engajamento de uma reconstrução dialógica do passado e de seu presente. O início do registro de suas narrativas era sempre movido por conversas sobre amenidades do cotidiano, para deixá-la à vontade, para que falasse livremente sobre os temas propostos, apesar do cuidado em manter o controle da entrevista, cumprindo o roteiro geral planejado no projeto de pesquisa.
Divido em três partes o resultado desta pesquisa, que nomeio de Cenários, em alusão as apresentações teatrais. Portanto, ao falar dessa pesquisa, apresento a trajetória vital de Dadi como tema central, puxando, a partir dela, outros fios, na condução de três cenários distintos: Memória, Brinquedo e Brincadeira no Teatro de Bonecos.
No primeiro cenário, será anunciada a presença das “Lembranças” de Dadi, guardadas em sua Memória por anos. Interpreto as transições individuais e familiares como parte de um processo contínuo e interativo de mudança social, vinculando a sua história a seu comportamento com a coletividade. A continuidade nesse contexto, parte da experiência acumulada de etapas anteriores da vida, e de padrões desenvolvidos pelo individual, com o fim de abordar novos acontecimentos, dividindo-o por marcos, com pequenos e grandes momentos: os passos titubeantes da infância, os desembaraçados da juventude e os passos lentos da maior idade.
Lembranças de infância, primeiras e decisivas experiências de vida, reflexões pessoais engajadas noutras imagens reportadas ao passado, em especial de sua juventude até a chegada da maturidade. Contextos vividos com seus respectivos contornos, cores, cheiros e lugar no tempo que flui, dando voz a vários personagens do Teatro de Bonecos. Para a encenação desse cenário, convém citar a festa de seu aniversário.
Apresento ainda, a construção de uma narrativa em forma de diálogos entre os diversos personagens idealizados por Dadi, congregando a idéia de revelar a simultaneidade entre os registros de suas memórias, as observações do empreendimento prático da pesquisa, o diálogo com os autores e as imagens.
No segundo cenário, é a vez de mostrar o que é o “Brinquedo (Boneco)”, de onde vem, prá onde vai. E, como importante elemento de observação, serão apresentadas as etapas de construção dos bonecos de Dadi: escultura e estética, indumentária e adereços, respectivamente.
Nesse cenário fica em evidência o registro da construção dos bonecos de Dadi, em suas várias etapas, intercalando com fotografias de suas primeiras coleções (1986) e de suas coleções mais atuais, com detalhamento do processo criativo e de como ela se reconhece, nesse universo brincante em que tem vivência. Natureza esta que é vista de fora para dentro e que Dadi a vê em dupla realidade, como sua experiência existencial e como realidade cultural, o que lhe permite dimensionar, de uma maneira diferente, esse mesmo objeto.
No terceiro cenário é a vez da emoção contida no tempo e no espaço da “Brincadeira” no teatro de Bonecos, que se estrutura nas histórias das alegrias e travessuras vivenciadas pelos diversos personagens, que criam vida graças ao seu manipulador. Nesse cenário, veem-se elencados alguns conceitos pertinentes à interpretação do brincante em um diálogo sensorial, apontando para o que torna o teatro de bonecos singular, através de cada mestre brincante, apontando o que se estabelece entre transmissão e recepção. A seguir, pedindo passagem, gentilmente, apresento os fios que ajudam a mantê-la viva: os Personagens; Apresentação; Cenografia; Performance e o Riso.
A idéia é conduzir o leitor na caminhada da trajetória de vida e arte de Maria Ieda da Silva Medeiros – Dadi, até descerrarmos a cortina, transitando pelos aportes teóricos – metodológico e conceitual das Ciências Sociais, com especificidade os da Antropologia, já que a necessária atuação em campo implicou na adoção de várias estratégias de registro, tais como: pesquisa de campo, entrevistas, vídeo-documentário, registros fotográficos e videográficos da brincadeira . Assim como, de seus valores estéticos peculiares, proporcionando ao trabalho uma atualidade relevante, ao dialogar com os vários elementos que compõem esse mundo mágico, visando contribuir para a ampliação dos estudos dessa forma de teatro no RN, resguardando sua história para futuras gerações. Este resgate histórico torna-se necessário para compreendermos a forma e o espírito do Teatro de Bonecos, como também, possibilita uma ampla reflexão sobre a relevância da singularidade de Dadi.
Lembro-me que no velho barracão da igreja, onde nos dias da semana lotávamos para estudar e, aos domingos na catequese, a irmã Pedrina nos levava a toda parte da bíblia com um teatro desses, que era simplesmente fantástico, pois nos fazia voar nas asas da imaginaçao, quase mesmo sem respirar, atento a todo gesto do boneco.
Ah era bom aquilo tudo. Viva a irmã Pedrina, que Deus a tenha e aos seus bonecos, fazendo teatro aí no céu.
Que delícia o tempo de catequese onde D. Eulália nos ensinava a montar um teatro de bonecos de acordo com o evangelho do dia, na hora da apresentação era uma festa, além de aprendermos a palavra, também aprendíamos a descobrir o chamado teatro de bonecos, e não nos limitava na imaginação não, exploravamos o máximo, sendo assim, a palavra de Deus fixava de uma forma agradável e realmente guardávamos o ensinamento do dia, e ao final de cada mês nossos pais participavam de uma tarde conosco para ver o que D. Eulália nos ensinara, além da palavra da Bíblia, era uma festa ao ver os aplausos ao final da apresentação. Que Deus a proteja aí no céu, pois o prazer de nos ensinar é marcado até hoje em minha vida.