Infância
COROINHA ORDENADO
Ali entre as serras, na pequena e arborizada Riachuelo, vivi meus melhores dias, até que tive que seguir para estudar na capital, no ano de 1976.
Embora com poucos atrativos, nossa criatividade foi um diferencial naquela pequena municipalidade, pacata e religiosa.
O que quebrava a rotina citadina era o sair da missa dominical, todos bem arrumados, para comer pipoca e sorvete na praça central, que dispunha de um ótimo serviço de som para os cânticos, anunciar nascimentos, falecimentos e para a programação dos rituais da igreja.
As raras chegadas de um parque de diversão ou de um circo causavam uma verdadeira euforia. Os elefantes e os leões chamavam a atenção das crianças, mas quem garantia a casa cheia era mesmo o palhaço.
Os parques de diversão traziam sempre novidades, mas o que não podia faltar era a roda gigante e o tiro ao alvo, que causava uma verdadeira disputa na minha turma. O Leo era o campeão na derrubada dos patinhos.
Relembro com saudades daqueles bons tempos, mas era uma pena o pouco que ficavam, pois alegavam que o público era pequeno e ninguém se divertia ou ia ao circo duas vezes.
Depois de 16 anos de convivência, foi difícil me despedir dos amigos que lá deixei e era quase impossível esquecer as mil aventuras realizadas na companhia deles.
Algo que não me sai da cabeça foi o que aprontei com o severo Padre Juventino.
Uma noite de sábado, durante a missa das sete, subi na torre do campanário sem ser visto por Alfredo, o astuto sacristão, que naquele momento auxiliava o padre no cerimonial religioso. Ninguém pode imaginar a rapidez com que eu executei todo aquele plano. Fiz um estudo minucioso, a ponto de saber exatamente o número de degraus da escada helicoidal que levava até a parte mais alta da torre do templo, onde se localizavam o imenso relógio, o sino e a sala de som.
Tudo foi como previsto, o mais difícil foi trocar a fita magnética de dentro do k7, o que implicava em soltar os parafusinhos como uma chave bem fininha de fenda cruzada, conhecida como chave Philips.
Depois de tudo armado, a questão era aguardar o dia seguinte para ver se o plano havia dado certo. Passei uma noite daquelas, com uma ansiedade tão grande que demorei a pegar no sono. Pertinho da hora do almoço, subimos na enorme figueira que dava vista pra praça. Dali daquele improvisado observatório, tudo podia ser visto e ouvido.
Ao meio-dia em ponto, quando todos aguardavam o já conhecido canto religioso, soou o estridente som da banda inglesa. Era o Led Zeppelin com seu heavy metal a explodir nos tímpanos desavisados. A música que tocava nos alto-falantes da praça era um dos sucessos musicais da época e que estava arrebentando no mundo todo.
Aquilo causou a maior indignação aos beatos católicos, dizendo ser um ato abominável, aprontado por algum herege. Para outros, a zoeira do hard rock foi motivo de muito riso e gozação. O certo é que o assunto tomou conta das conversas e foi um tema propagado por muito tempo. Terminou, é claro, sendo também alvo de um belo sermão do Padre Juventino, que aproveitou o ensejo para dar umas boas lambadas em outros assuntos pendentes dos fiéis da sua paróquia.
Santa inocência a minha achar que ninguém saberia quem aprontou aquilo com o padre. Os amigos não me entregaram, embora eu tenha tentado me defender, ao dizer que só gostava dos Beatles. Nada que eu falasse serviria para me inocentar, o fato é que terminei sendo castigado por meu pai, que disse ao padre para aplicar a pena que quisesse em mim.
Foi assim que eu mi vi ordenado coroinha, aos catorze anos, tendo que ficar um pouco mais de um ano servindo nas cerimônias da igrejinha de Santa Efigênia.
Quando segui para São Paulo, com tudo o que eu já havia aprontado na cidadezinha, meus pais me encheram de recomendações para que eu não me envolvesse com as agitações estudantis, com farras ou outras anarquias, porque meu único objetivo era o de estudar.
Nunca mais dei trabalho e me torneio um aluno exemplar. Meus pais hoje vivem comigo em São Paulo e têm muito orgulho de tudo que conquistei, mas confessam que não esperavam tanto.
É engraçado como essas aventuras ficam marcadas para sempre. Acho que isso faz valer os momentos da juventude. Claro que não matar ou cometer delitos ou se drogar como muitos jovens.
A peça foi bem planejada, foi algo muito engraçado e marcou na cidade.
E vamos concordar que não foi nada tão terrível assim e que até o padre Juventino deu seu perdão para o jovem que armou contra ele.
O conto é um resumo da vida dos moradores das pequenas cidades do interior de qualquer região do nosso imenso Brasil. A vida monótona e simples só se agitava em dias de feiras-livres e no período da festa do padroeira do município. Os dias de festa só era bem lembrados quando da chegada do parque de diversão, da montagem das barracas para a venda de alfenins, puxa-puxa, doces de coco, lancheiras em formato de barcos recheadas de guloseimas e de diversos suvenires alusivos ao santo. No parque, a atração era o barracão do som que exibia uma discografia bem diversificada de cantores nacionais. Os casais enamorados aproveitavam o momento para oferecer músicas românticas. O locutor caprichava na voz e narrava em bom tom: “essa música vai com muito amor e carinho de fulano apaixonado para que ciclana lembre-se sempre desse belo momento”. O carrossel, a roda gigante e os balanços em forma de canoas eram os brinquedos mais disputados, mas tinha a mulher gorila e a barraca de tiro-alvo que era o centro de exibição de coragem e pontaria. As bancas com bebidas e tira gostos se agitavam com tantos pedidos que vinham das mesas espalhadas nas proximidades do palanque em que o padre aguardava o momento oportuno de iniciar o leilão. Bolos, tortas, redes, potes de doces, galinha e pernil torrados, peru vivo, garrote, enceradeira, ferro elétrico, liquidificador e baterias de panelas eram os mais disputados. Com nossas melhores vestes, desfilávamos em meio a quermesse e aproveitávamos o momento para pequenos flertes. Era assim em Santa Cruz do Inharé/RN, como poderia ser em Goianinha, São José do Mipibu, Parnamirim, Mossoró, Pau dos Ferros ….
Seu conto me fez recordar da época em que eu fugia da escola com os amigos para jogar bola.
Isso implicava em pular o enorme paredão que havia nos fundos da saudosa Escola Olavo Bilac, o “Bilaquinho”.
O inspetor ficava louco com a gente, mas a aventura maior era desviar a atenção dele, enquanto o outro corria pra pular.
Tem coisas que a gente não esquece mesmo.
É muito gostoso voltar no tempo e lembrar da infância e das “artes” que faziamos.
Quem não tem um história para contar?
Essa fase de nossa vida deve ficar na lembrança com muito carinho.
Toda criança tem direito a uma infância feliz.
Por morar em uma área rural, o vilarejo mais próximo (mais ou menos 2 quilômetros de distância) é bem pequenininho (em uma “piscadela” você vai da Igreja Matriz ao Cemitério e “já acabou”…). Mas na Praça da Matriz, o sino e o sistema de som faz um barulho enorme. E quando é 1 hora, 1 badalada; 2 horas, 2 badaladas… eu, se morasse lá, iria me assustar direto. Imagine o tempo todo: segunda-feira a segunda feira, de 00:00 às 24:00 horas? E quando morre alguém, o sistema de som, com voz fúnebre, avisa o “passamento” (também várias vezes…). O pior é que quando tem casamento ou quermesse, o “locutor” é o mesmo!
Nas calçadas, bancos e na praça, muitas pessoas se agrupam para o que, mais assustador do que o sino, acaba sendo um passatempo: a fofoca (e como esse passatempo é nocivo!). Com certeza, imaginei um menininho “arteiro” (ou artista?) trocando “os conteúdos”. A fofoca, pelo menos por um minuto, cessaria. As pessoas poderiam mudar o passatempo (que bom!) e o susto seria mais divertido!
Grande história, Cavalcanti! Eu gostei muitíssimo!
Vou pedir o menininho da sua história “emprestado” para o vilarejo…
Lembrei hoje de uma história de criança de minha mãe/tia. Ela me contou que uma vez pegou a galinha da vizinha e seus pintinhos e levou para casa como se fosse dela. Chegando em casa, sua mãe a repreendeu e mandou que ela voltasse até a casa da vizinha e devolvesse a galinha e dissesse para a dona que ela pegou a galinha e pintinhos sem autorização.
Minha mãe fez o que sua mãe mandou, porém ela disse para a vizinha que tinha achado a galinha e os pintinhos perdidos e que estava indo devolver.
A vizinha, acreditando na história, deu para minha mãe como forma de agradecimento uma cesta de frutas. Minha mãe retornou para casa e contou o ocorrido para sua mãe; claro que ela não disse que não contou para a vizinha que ela havia pegado a galinha e sim achado.
Coisas de criança…..
Sempre que lembro dessa história dou muito risada.
“Eu daria tudo que pudesse para voltar ao tempo de criança, não sei por que a gente cresce, se não sai da mente essa lembrança…”
Com os cabelos molhados do banho recém tomado, orelhas e cantos de olhos supervisionados depois de uma boa esfregada, saíamos desfilando pelas calçadas do bairro trajando, o impecavelmente limpo, uniforme escolar. Nós éramos vitrines do zelo de nossas mães. Na carteira escolar, ocupada aos pares, meninos e meninas, compartilhavam lápis grafite, borracha, régua, coleção de lápis de cor e a lapiseira. No recreio, enfrentávamos com prazer a animada fila da merenda e curtia os grupos reunidos em meio a gostosas algazarras de risos, gritos e gestos. As aulas de Educação Física eram as mais esperadas, pois o professor distribuía bolas para que as meninas brincassem de queimadas e os meninos de futebol. Na saída continuávamos representando a escola e nossos pais e assim seguíamos, bem comportados, para as nossas casas. Após o almoço era hora de fazer o dever de casa. Alguns meninos, os mais rápidos, já montavam o campo de pelada mirim, dois pares de sandálias eram as traves montadas no meio da rua, entre um poste e outro, aliás, a bandeirinha era o poste. O melhor era que existia plateia, pois sempre tinha um monte de meninos esperando a vez de entrar no jogo. Passaria horas falando do nosso dia a dia, porém vou me ater a lembrança do “Passa o Anel” e “Tô no Poço”, que envolvia meninos e meninas. Tudo sem maldade, mas muito gostoso. Eu era feliz, E SABIA!!!
Cal, você tinha razão!!
Esse seu conto me levou ao passado e aqui neste “confessionário” virtual conto-lhe uma passagem minha aos 10 anos.
” Lembro-me ainda hoje, morávamos no Bairro do Monte Castelo, aqui mesmo em São José dos Campos, e eu estudava no Colégio Prof. Flávio Berling Macedo, centro da cidade, ao lado do Cemitério Central.
Caminhava para a aula, quando na descida do Morro do Aterro encontrei o Samuel e dois outros garotos que resolveram matar aula e iriam pescar, caçar franguinhos d’água e nadar na Várzea do Parayba. (Grande região extensiva do Banhado que fica em frente dos Bairros da Vila Maria, Vila Guarani, entre outros; após a Linha do Trem, tendo a esquerda a Tecelagem Parayba e ao fundo o Rio Parayba.)
Recebi o ‘convite’, descansei a mochila ao chão e chamei o Olavo que passava e pedi-lhe um pequeno favor: “diga na escola que estou doente e por isso não fui a aula”.
Olavo era meu chapa e eu poderia confiar nele!
Porém, havia-me esquecido que eu estudava na ‘Escola do Padre’ (como era conhecido a escola) e que a disciplina e os cuidados com os alunos era a base que mantinha o alto nível do colégio.
Pouco depois do meio-dia fui chegando em casa após uma manhã de muita algazarra e brincadeiras com meus amigos: nada de franguinhos d’água, nada de peixes; somente os olhos vermelhos, a pele enrugada e os cabelos em desalinho tal que denunciava a minha ‘arte’.
Ao tentar entrar pelos fundos sem que minha mãe me visse, ouvi seu chamado, que imperiosamente me conduziu a pequena sala de nossa casa.
Dei de cara com a inspetora do colégio que conversava com minha mãe, enquanto bebericavam café naquelas pequenas canecas verdes de ágata.
Entrei, sentei e de cabeça baixa permaneci.
Em seguida a inspetora se levantou e minha mãe a acompanhou até o portão.
Pensei no chicote (aquele de bater em cavalo) que minha mãe havia ganhado de minha tia Cida, e estremeci.
Ela entrou e disse para eu lavar as mãos para almoçar e depois do almoço falou para eu ir para o quarto e me deitar porque eu estava ‘doente!’
Do quarto, a tarde toda, eu ouvia o Olavo, meus irmãos (Roberto e Jonas) e os outros meninos brincarem de bola no campinho em frente de casa, e eu ali de castigo.
Pior! O resto da semana e na próxima também, fiquei sem recreio na escola, e em casa, à tarde, apenas ouvia os gritos felizes dos meninos que corriam atrás da bola, enquanto eu estava doente.
É preciso dizer que acredito até o fim da minha vida que o Olavo não disse nada que me condenasse na escola naquele dia; foi mesmo a preocupação da inspetora com minha saúde acabou descobrindo a minha inocente traquinagem de menino de 10 anos de idade.
NUNCA mais matei aula e NUNCA mais tentei enganar minha mãe.
É preciso dizer que minha mãe, a Dona Adelaide, só veio a contar para o meu pai esta minha arte quando eu já era adulto e ele apenas deu um sorriso amarelo e me deu um tapinha nas costas e nunca mais tocou no assunto.
O Olavo nuca mais vi, o Samuel já morreu (não sei a causa) depois de muitos problemas com a justiça, e eu, graças aos cuidados da inspetora da ‘Escola do Padre’, estou vivo para contar esta minha pequena arte.
Relembrando os dias mais recuados de sua infância, o dia em que dissera: “Serei livre”, o dia em que dissera: “Serei grande”, apareciam-lhe, ainda agora, com seu futuro particular, como um pequenino céu pessoal e bem redondo em cima deles, e esse futuro era ele, ele tal e qual era agora, cansado e amadurecido. Tinham direitos sobre ele e através de todo aquele tempo decorrido mantinham suas exigências, e ele tinha amiúde remorsos abafantes, porque o seu presente negligente e cético era o velho futuro dos dias passados. Era a ele que eles tinham esperado vinte anos, era dele, desse homem cansado, que uma criança dura exigira a realização de suas esperanças; dependia dele que os juramentos infantis permanecessem infantis para sempre, ou se tornassem os primeiros sinais de um destino. Seu passado sofria sem cessar os retoques do presente; cada dia vivido destruía um pouco mais os velhos sonhos de grandeza, e cada novo dia tinha um novo futuro; de espera em espera, de futuro em futuro, a vida dele deslizava docemente…em direção a quê? ”
Transcrição.
Boa Noite
Mario Carlos Fernandez .
Bonita história! Creio que todos nós temos uma certa nostalgia dos bons tempos de infância.. cada um com sua história, é claro, mas todos com boas recordações, não é mesmo!?
Tenho que contar aqui também uma aventura que pratiquei na vizinhança, mas que não pude contar pra ninguém, principalmente pro pessoal lá de casa.
Havia um senhor velhinho que se divertia, sempre que possível, fazendo medo para os meninos e meninas da nossa rua.
Da última vez que ele aprontou pra cima da gente, me deu uma grande vontade de me vingar dele.
Como eu sabia que ele voltava sempre tarde da bodega do seu Inácio, pegando um caminho que passava perto da ponte, pensei que ali seria o lugar exato para dar um susto nele.
Usei um vestido preto bem folgado da minha mãe, que arrastava muito pelo chão. Na cabeça enfiei uma velha máscara de borracha que tinha uma expressão muito assustadora.
Já era bem tarde e pensei que ele poderia ter passado da conta, desmaiando pelo bar, mas logo avistei que ele vinha meio cambaleante pelo caminho de terra.
Mal ele passou por cima da ponte, agarrei a foice na mão e incorporei uma voz rouca para dar um grito.
De repente, o velho olhou para trás e caiu de medo. Levantou-se do jeito que deu, quando viu que eu corria na direção dele.
O desespero dele foi tão grande que ele ficou bonzinho e parecia um atleta correndo com medo de mim.
Naquela noite caí no chão de tanto ri
Essa cena não vou esquecer nunca.
Ali eu estava vingada e aquela lição serviu tanto que ele nunca mais fez gracinha com nossa turma.
Gosto muito desse tipo de narrativa…
Subia também na torre da Igreja quantas vezes e tocava o sino de lá…
Mas tinha que me pendurar na corda..
Um dia quase fui arremessada pela janela…. kikikiki……..
Parabéns pela história – abçs…
O belo texto me fez lembrar do período escolar e da vida na cidade do interior. As maiores lembranças são as que envolvem os laços familiares. Nasci numa família festiva e meus tios sempre realizavam festa com a intenção de reunir a família: aniversários, batizados, festas juninas e o natal. Mas vou contar um episódio do período escolar.
Sempre fui muito tímida, chorona e medrosa. Na escola, uma colega de classe, percebendo isso, logo me apavorou dizendo que iria cortar os meus cabelos. Saía correndo para casa toda vez que avistava a dita garota na saída da escola. Certo dia, essa menina me acompanhou e eu apavorada entrei em uma poça de lama e fiquei lá até a garota ir embora. Cheguei em casa chorando e minha irmã, Maria, logo quis saber o motivo. No outro dia, a garota estava me esperando para correr atrás de mim, porém minha irmã foi a seu encontro e lhe deu a maior surra. Depois dessa dia era a garota que corria para casa com medo de minha irmã. O episódio fez estreitar a amizade entre eu e minha irmã mais velha.
O dia mais importante naquele bairro periférico da capital do Rio Grande do Norte é o dia de Santos Reis, que o local recebe o mesmo nome. Todos os moradores aguardam durante todo o ano por aquela data por ser a principal festa popular da cidade.
No dia cinco de janeiro do ano de 1965, aos oito anos oito meses e seis dias de idade, véspera do dia dos Santos Reis, dia da procissão dos Reis Magos, eu e meus quatro irmãos em idades variando dos dez aos cinco anos, em companhia da minha mãe aos de vinte e sete anos, esperávamos por aquele momento tão esperado.
Todos, em escadinha, encontrávamos de roupas novas que acontecia duas vezes ao ano. Nas festas juninas e de final de ano. As vestimentas para a noite de Natal serviam para as festividades da padroeira dos Santos Reis e lá estávamos bem engomadinhos, orientados a não sentar no chão para não sujá-las.
Parecia que toda a cidade se dirigia para aquela festividade. Era tanta gente que mal podíamos caminhar pelas principais ruas. O dia de festa só era bem lembrado quando da chegada do parque de diversão, da montagem das barracas para a venda de alfenins, sucos de todas as cores, caldo de cana,puxa-puxa, doces de coco, lancheiras em formato de barcos recheadas de guloseimas e de diversos suvenires alusivos aos santos. No parque, a atração era o barracão do som que exibia uma discografia bem diversificada de cantores nacionais, dentre eles Valdick Soriano com seu maior sucesso “Eu não sou cachorro não” e Roberto Carlos com sua canção “Quero que vá tudo pró inferno”, estas eram as mais solicitadas pelos casais enamorados, aproveitando o momento para oferecer músicas românticas. O locutor caprichava na voz e narrava em bom tom: “Essa música vai com muita paixão e carinho de Francisco para seu grande amor, Carminha”. O carrossel, a roda gigante e os balanços em forma de canoas eram os brinquedos mais disputados, mas tinha a mulher gorila e a barraca de tiro-alvo que era o centro de exibição de coragem e pontaria. As bancas com bebidas e tira gostos se agitavam com tantos pedidos que vinham das mesas espalhadas nas proximidades do palanque em que o padre aguardava o momento oportuno de iniciar o leilão. Bolos, tortas, redes, potes de doces,frango assado, galinha e pernil torrados, peru vivo, garrote, enceradeira, ferro elétrico, liquidificador e baterias de panelas eram os mais disputados.
A chegada da procissão estava sendo esperada por uma multidão que esperava o grande momento da missa campal, ministrada por Frei Damião e Frei Fernando.
Os irmãos Lucena, em companhia de sua genitora, em local estratégico, na calçada de uma residência ao lado do palanque, foram orientados a se manterem de mãos dadas para não correrem o risco de dispersão. Todos estavam atentos aos ensinamentos do frade capuchinho, quando de repente a atenção dos menores foi desviada para um grupo de garotos que iniciavam uma discussão. Um desafiava o outro para uma disputa de boxe de rua, induzido por um bando de garotos que gritavam: – Dá-lhe! Dá-lhe. E o outro dizia: Você só me desafia por estar com um pau na mão, largue o pau e vem seu fuleira. E a meninada gritava: – Larga o pau!, Larga o pau! O desafiante se dirige para os irmãos Lucena e diz para um deles: – Cara, segura esse pau que eu vou dar umas porradas naquele sujeito. O segundo filho da prole dos Lucena segura com as duas mãos e rapidamente o pau é puxado de volta pelo ofertante e as mãos do Luceninha ficam repletas de esterco de vaca e a garotada em risadas estridentes corre e vai à procura de outro abestalhado. A genitora atribulada com o acontecimento, sem ter tido a satisfação de ter concluído a santa missão leva de volta prá casa sua prole para dar-lhes banho e botar prá dormir e quem sabe no próximo ano, mais experientes, não cairão em nova pegadinha.
Brincadeira pode ser feita com o padre, mas não se deve pegar tão pesado. Vejam se eu não tenho razão.
Lino
Coisas de criança.
Lembro-me duma passagem no ginásio Juvenal nos idos de 1974 quando, para não se fazer provas finais, deligávamos a luz do prédio da escola,
levando Dona Gilda, a diretora do estabelecimento, a tentar agir para restabelecer a luz e a normalidade na escola.
Porém em vão tentava, mas não conseguia acender a vela para ir até o relógio de força por causa de sua pouca visão.
Ela não identificava quais moleques faziam a travessura de apagar as velas. Perdoe-nos D.Gilda, são coisas de criança.
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