Robin Hood
ROBIN HOOD TUPINIQUIM
Na Vila Bela, em 7/7/1897, nasceu de Maria e José, o pequeno Lino. Cresceu vendo pobreza de uma gente sofrida. Era um lugar quase sem lei, sem notícias ou esperanças. Enquanto via seu pai numa peleja por uma faixa de terra menos seca, no semiárido pernambucano, ele crescia e, já nas calças compridas, o imberbe artesão passou a conhecer as letras, usando anteolhos para enxergar mais além.
Em 1919, seu pai foi emboscado e morto pelos Macacos Fardados – como ele chamava os homens da lei, a mando dos poderosos locais, que o tinham como incômodo. E pra reparar a injustiça feita contra seu pai, ele resolveu reescrever a história familiar, usando sua habilidade como artífice na modificação de um fuzil, transformando-o em um cano de fogo especial.
Ajuntou outros injustiçados e cumpriu a promessa de se vingar, deixando uma assinatura escrita com muito sangue e crueldade, algo sem precedentes até então por aquelas bandas.
O ato heroico atraiu adeptos, e logo passou a desfilar com seu séquito pela caatinga afora, retirando dos ricos para dar aos pobres. Era chamado pelos seus de capitão, e o nome Lampião fora dado pelo fogo que saía ligeiro e resplandecente do cano de sua arma.
Movido pelo ideal de tornar a vida mais justa, já que, a partir dali, tornara-se um fora da lei, Virgulino Lampião seguiu com seu bando para ajustar muitas pendências em prol dos oprimidos.
A cada andança e ajuste de contas, o preço por sua cabeça aumentava. Era acusado de saquear fazendas e roubar gado em sete estados. Sempre foragido e perseguido pelas forças volantes, o bando seguia escondido pelos arbustos e trilhas secas de rios, onde aqui e ali uma cidadezinha margeava.
Varou o estado de Pernambuco e da Paraíba, adentrando o Ceará até chegar a cidade de Juazeiroo. Ali se prostrou aos pés de Padre Cícero, do qual virou devoto. Na volta, seguiu por terras potiguares, onde por fazendeiros hospitaleiros eram bem tratados e os que se faziam arredios eram depauperados.
Atravessou a Paraíba e depois estava em de volta a Pernambuco. Como em andanças sem fim, partiu para a Bahia. Lá conheceu uma mulher toda bonita e especial, de nome Maria, como sua mãe, que passou a ser a primeira mulher a integrar o bando de cangaceiros de Lampião.
Feliz com a companheira, na liderança do grupo, subiu de volta pelo Nordeste, ora pela zona da mata, ora pela caatinga de terras secas, até chegar a Mossoró, que passou para a história por resistir a um ataque do já famoso bando. Fato inusitado, já que ninguém resistia ao poder armado daqueles destemidos cangaceiros.
Mas foi a Fazenda Angicos, no Sertão de Sergipe, que estava destinada a ser palco da encenação de um ato final, desta vez sem a indômita bravura do bando de Lampião. Aquela madrugada do dia 28 de julho de 1938, marcaria o fim do Rei do Cangaço e seu famoso bando.
E aquele homem franzino, com chapéu, roupas e sandálias de couro, agigantou-se como um Robin Hood do sertão, que roubava dos ricos fazendeiros para dar aos pobres e que havia iniciado o grupo com juras e marcas de sangue, nem desconfiava que aquele nascer de sol se faria histórico.
Um pouco desse cenário final, um novo membro foi agregado naquelas bandas. No ritual de iniciação, ele foi aceito graças à demonstração de destreza e habilidade com sua lâmina afiadíssima. Dessa forma, de pronto ganhou uma alcunha especial, que tinha tudo a ver com seu instrumento de trabalho: Coitelo – este foi seu nome de batismo.
Com os outros membros do grupo não havia sido diferente. Todos eram provados e aprovados, recebendo um nome novo. Um dos mais conhecidos era Corisco, que tinha como companheiros o Jararaca, Quinta-Feira, Mergulhão, Elétrico, Moeda, Alecrim, Colchete, dentre outros.
Mas, voltando àquela madrugada fatídica, a patrulha volante, com um informante de confiança, pegou de surpresa o grupo de Lampião acampado, quando se preparavam para o café da manhã, no local que era considerado de segurança para o bando.
Portando metralhadoras portáteis, abriram rajadas de fogo, matando de imediato a muitos, inclusive Virgulino. Os que sobreviveram, todos com ferimentos graves, foram também decapitados vivos, como foi o caso de Maria Bonita.
Para a história ficou plasmada a foto das cabeças enfileiradas, desde o Rei do Cangaço até o menos famoso do bando. O ato desumano de decepar a parte superior dos corpos de todas as vítimas servia para dar exemplo.
As pessoas das cidades circunvizinhas viajavam para ver nas prateleiras aquele cenário de filme de terror. Muitos, curiosos e incrédulos, ficavam espantadas diante daquela tétrica vitrine, que era verdadeiro motivo de orgulho para aqueles que finalmente deram cabo ao maior inimigo dos poderosos coronéis e políticos da época.
No entanto, Virgulino Lampião passou para a história como um justiceiro das causas populares. Um herói de um povo sofrido e esquecido, vivendo quase que teimosamente naquelas terras secas, muito castigadas pelo sol inclemente e raramente agraciadas com chuvas.
Este herói do sertão já foi tema de livros, matéria de revistas, estudos e alguns filmes.
Um justiceiro que queria tornar mais igual a luta do mais fraco contra os poderosos.
Morreu lutando por seu ideal.
Afrânio
Li diversas versões da história do cangaço e também sobre a vida e morte de Lampião, e, em todas elas me vem a figura de um bandido que assombrava todas as famílias da Região Nordeste. Fazia uso da força e da violência para amedrontar a população que eram obrigadas a pagar para não serem molestadas. Existem várias versões cinematográficas que o projetam como um idealista, mas cadê a causa? No episódio da cidade de Mossoró/RN, a resistência se deu pelo valor exorbitante cobrado como compensação deles não saquearem a cidade. Subjugar pessoas sob a mira de várias armas é o mesmo que fazem as facções terroristas e os bandidos que controlam as favelas do Rio de Janeiro. Não existe heroísmo nisso, só medo e pouca capacidade da população de revoltar-se.
Maravilhoso documentario sobre o Rei do Cangaço, bom frisar que nao e um fato nao veridico, nem uma estoria de Cordel, e sim um fato que aconteceu anos atras e marcou o Nordeste brasileiro. Mais uma vez excelente reportagem sobre o nosso Brasil e seus personagens.
Grande enredo nobre José…
Todo nordestino conhece essa história, aliás todos aqueles que amam o nosso país, e fazem questão de estudar a nossa história – tão rica em fatos, e atos de bravura incontestáveis…
Muito bem descrita em seus pormenores… ótima leitura para um domingo chuvoso e frio…
Muito acalanto em teu coração…
Abçs…
Deixando a profundidade de lado eu não posso é ficar calado.
Foi sim, arrogante, matador, mas faria a mesma coisa se os macacos tivessem do meu pai dado cabo. Dou valor no ato de ter se levantado contra
o coronelismo que imperava nos sertões, mandando e desmandando em territórios.
Só pra surrupiar terras que lhe conviam. Esses covardes é que deveriam ter as cabeças expostas, talvez nosso país fosse diferente a partir disso.
Viva, viva,viva, a raça nordetina e seu filho LAMPIÃO.
Para quem quiser assistir Lampião e Maria Bonita, fica aqui o vídeo.
É que infelizmente nesse vídeo faltou mostrar o principal motivo de Lampião se tornar um cangaceiro. A sua familia tinha terras e uma vida confortável,digna e os “coronéis” mataram seus pais e lhe tiraram a terrra. E na época,a polícia estava do lado dos “coronéis”, por isso a revolta dele contra a polícia da época também.
Nessa época, um homem não tinha muita escolha no sertão,ou se tornava policial ou cangaceiro,que foi a sua opção,já que a polícia era corrupta.É muito difícil julgar.
Assistindo a um dos vídeos do final, ouvi o depoimento da esposa de Corisco, do bando de Lampião, e confesso que me detive sobre a situação das crianças que iam sendo geradas e nascendo naquela situação tão difícil. Ela conta que teve vários abortos espontâneos e os filhos sobreviventes foram dados para outras famílias criarem, ainda recém nascidos. Ela tinha o cuidado de escolher antes essas famílias (muitas mulheres do bando apenas entregavam às primeiras famílias que encontrassem em seu caminho…).Realmente, algo que foge completamente ao que podemos até imaginar. Confesso que desisti de tentar. É terrível demais.
Obrigada pela matéria. Muito, muito emocionante!
O pequeno Lino, no seu programa mental gravou cenas de sofrimento e
pobreza do seu povo. Com o desaparecimento precoce do seu pai, foi
desencadiado um desejo de vingança. Mal conhecedor da existência das
leis, foi levado pela ignorância e emoção ao mundo do crime. Um
grande equívoco o tornou herói.
Lampião se tornou uma “lenda” depois de morto. Desenvolveu-se, depois da sua morte, a falsa noção de que ele era uma espécie de revolucionário marxista (documentos da “III Internacional” à época falam dos cangaceiros como “partisans”, i.e., guerrilheiros), que combatia as injustiças sociais no sertão, e que tirava dos ricos para dar aos pobres. Na verdade ele parece ter sido apenas um bandido comum, extremamente cruel e sanguinário, capaz das piores atrocidades contra as populações rurais no nordeste, e que sempre viveu em conluio com latifundiários.
Fonte: http://www.unificado.com.br
Acontece que gostava de limpeza Lampião.
Gostei muito do vídeo! Lampião gostava muito das mulheres!