Ínstar
Medo de Voar
Ali na Rua São José, o Baobá do Poeta enchia de sombra lado e meio dos tetos e a fachada avermelhada de uma casa pequenina, afigurando-se mais volumoso naquele início de manhã.
Os transeuntes, presos às correrias do asfalto, nem se deram conta que, no alto daquela copa de árvore, ocorria uma explosão de liberdade.
Depois da mudança da forma, o novo ser se livrou daquela gosma pegajosa que ainda insistia em atar seu corpo à superfície grossa daquele espécime gigantesco da paisagem natalense.
Enquanto isso, o invólucro, que antes servia de camisa de força, finalmente se desprendeu, rodopiando em queda livre, indo suavemente ao encontro do chão.
Livre daquela amarra, sentiu-se muito leve sobre o galho, parecendo que a força da gravidade não mais atuava como era comum no seu antigo corpo.
Enormes patas substituíram as muitas pequeninas e do seu dorso sentiu o brotar de enormes asas. Um novo e multicolorido visual contrastava com a outrora forma longilínea e esverdeada.
Antenas captavam aromas suaves que exalavam dos canteiros de flores, exercendo sobre ela uma grande atração. Os olhos novos a faziam perceber tudo a longas distâncias.
Levou um certo tempo para reaprender a lidar com as novas habilidades.
Enquanto maquinava o novo e astuto intelecto, aspirou a brisa suave que soprava da encosta marítima, enchendo de ar suas narinas e seus alvéolos laterais.
Finalmente percebeu ter alçado outro patamar de vida e sentiu que uma nova missão lhe fora confiada: fecundar os campos floridos da terra, ou seja, levar os grãos de pólen das anteras para o receptor feminino, chamado estigma.
Sentiu-se impelida a voar, movida por alguma razão instintiva, mas, de repente, bateu-lhe medo, talvez por se dar conta da altura em que se encontrava.
Aquele estranho e incompreensível sentimento era próprio da vida passada.
Coisas de larva, por isso era necessário enfrentar seus medos.
Ora, qual o porquê daquela sensação? Afinal a natureza havia transmutado ser corpo, transformando-a em um ser alado.
Não era pássaro, no entanto podia voar.
Como havia ficado muito tempo no casulo sem roer qualquer folhinha, sentia-se fraca, por isso não podia impelir seu corpo. Os músculos novos, embora resistentes, estavam fracos.
Necessitava se alimentar, mas já não dispunha de mandíbula para triturar o alimento sólido. De sua boca, aparecia uma espécie de tubo, indicando que sua ingestão seria apenas de líquidos – água, néctar das flores e suco de frutas.
Pressentiu que não havia muito tempo de vida, que necessitava se mover, como se mundo dependesse apenas dela.
De pronto, depois de motivada, seus olhos avistaram outro ser de sua espécie, que parecia bailar na corrente de ar, cheia de graciosidade.
Aquele era o estímulo que necessitava.
Começou lentamente a esticar bem o corpo, assim o sol podia aquecer toda sua envergadura. Em seguida, iniciou um exercício de fechar e abrir as asas, até que a temperatura do seu corpo atingiu 30 graus.
De repente, uma força inexplicável varreu de sua mente as antigas informações que ainda restavam da vida de inseto rastejador.
Naquele exato momento, atirou-se do alto do baobá. Seu corpo flutuou naturalmente, bateu asas e voou.
E nela já não havia mais medo.
Lembrei da música do compositor potiguar, Galvão Filho: …tal qual ave de gaiola que vê a porta aberta e tem receio de voar…
O novo sempre se mostra cheio de incertezas para quem pretende adentrá-lo, principalmente quando vivemos em nossa zona de conforto e já nos acomodamos nela.
Alçar voo é para os aventureiros que ousam em sair da mesmice e se projetam em ultrapassar fronteiras do desconhecido, e, a cada aventura realizada, descobrem-se em um mundo mais amplo e cheios de maiores alternativas.
Essa jornada é para os que revisam seus conceitos de vida e percebem que há um mundo de novas possibilidades. Viva o novo! Viva a liberdade! Alce voo!
Bela narrativa onde o autor valoriza a existência de uma centenária espécie do reino vegetal numa das ruas principais da capital Potiguar. Para quem não sabe, a referência do poeta é para o presidente da Academia de Letras do Rio grande do Norte que, na decisão
de preservar a monumental árvore, comprou o terreno onde o Baobá ocupava, espaço que com certeza estava na mira dos especuladores imobiliários.
A narrativa é também uma excelente maneira de descrever o fenômeno da metamorfose que ocorre no reino animal, ou seja, a transformação da lagarta numa linda borboleta. Meus parabéns!
Mudanças e novos começos exigem coragem e determinação.
Quando ficamos muito tempo numa determinada situação, somos levados a nos acomodar, porque é mais fácil, não exigindo qualquer esforço ou trabalho mental.
Alguns alegam que é por segurança, mas no fundo é o medo que domina, o que alguma veze serve para preservar.
Casei com um cara com muita grana e rapidinho fui de larva a borboleta.
De repente todas minhas restrições cessaram.
Não necessito mais ficar pesada e amargurada por não poder comprar isso ou aquilo. Tudo ficou fácil e passou a estar disponível para mim.
Embora minha situação tenha mudado da água para o vinho, minha família continua num outro nível, mesmo que muita coisa tenha melhorado, a partir do momento que eu casei.
Embora eu seja muito feliz com meu marido, tenho medo do retrocesso.
Acho que isto se dá por eu estar em um galho bem alto de baobá.
Quero muito mudar minha cabeça, mas não encontro maneira para esquecer minha vida anterior, na qual vivi muitas necessidades e limitações.
Sinto-me culpada por tudo isso e não sei o que fazer.
São dois mundos muito distantes.
Meu pai nos fez voar alto ao nos resgatar da limitação da cidade do interior para o mundo maior da capital e aos poucos ele foi nos apresentando esse mundo novo. Certa vez ele colocou todos dentro de um transporte coletivo e fomos até a parada final, ele não só queria nos mostrar a paisagem, mas nos fazer aprender como andar naquele novo mundo cheio de distâncias. Aquela ação fez nossa família evoluir em conhecimento, porém manteve as mesmas características de como sempre vivíamos: simples, pé no chão, sem grandes ambições, com reservas e crentes, tementes a Deus. Recordo que ele comprava todas as frutas diferentes para que pudéssemos apreciar o sabor do que nos era novo,pois ele achava que aquilo era aprender na prática. Como bom pernambucano nos fez curtir o frevo de Capiba na voz de Claudinor Germano e saborear toda a culinária de lá. Gostava de nos ver lendo, adquiria muitas revistas e dava exemplo, pois não se deitava sem levar consigo um bom livro de bolso. Na minha última conversa com ele, já hospitalizado, me disse: me ajude a cuidar de sua mãe. Naquela época não entendi o que ele falava, mas agora percebo o porquê de minha mãe ser tão forte: ele continua a cuidá-la. Acho que alçar voo é isso, um pouco de cada coisa nova que saboreamos, lemos e enfrentamos, com receios, mas confiantes. Curto a minha família e sei o quanto todos somos diferentes, contudo enxergo que temos algo fortemente em comum: somos do bem e continuamos simples, pé no chão, sem grandes ambições, com reservas e crentes em Deus. Valeu papai, deu certo!
Nada más emocionante y hermoso, como el poder volar, al no hacerlo fisícamente, podemos volar con nuestra mente, y en nuestros sueños. Hermosas son las mariposas, con sus colores increíbles. El video, además; acompañado de una música muy linda y relajante. Yo vuelo constantemente, y me encanta……
A borboleta é o símbolo próprio dos adeptos da nova Era de Aquário. Como a lagarta entra no casulo, depois se transforma e sai em forma de borboleta, assim a humanidade passa de uma era antiga para uma nova, transformando-se em todos os sentidos.
Ela é também um símbolo poderoso para aqueles que estão vivendo algo novo, principalmente depois de uma grande mudança em suas vidas.
Em síntese, ela é um símbolo da alma humana.
A figura da mortificação para o nascer de novo espelha a vida cristã.
Nosso ego necessita desta constante mortificação para que um novo homem nasça.
Uma nova vida, um novo começo.
Justa observação ao relacionar o vôo da borboleta com nossos medos e dúvidas…
E, ainda bem que ninguém cortou o casulo para acelerar o processo do nascer desse lindo inseto…pois se não ela jamais conseguiria ser quem deveria realmente.. e , se tornaria molestada para toda sua vida..
Ótima leitura.. Abçs…. linda música…Parabéns pela post.
O poeta é o dr Diógenes Lima – e seu baobá: Aproveito e trago a poesia e o seu amor pelas coisas da terra. Abç.José (Pena que não participei da Confraria dos Capivaras)… rsss …
CELEBRAÇÃO
Neste novo dia
Vamos celebrar a terra,
Nosso lar, somos humanos.
Vamos celebrar o ar
Que respiramos, a brisa dos elíseos.
Vamos celebrar o fogo,
A chama que nos aquece e ilumina.
Vamos celebrar a água
De que somos feitos, o ritmo da água, o rio, o mar.
Vamos celebrar a poesia,
O poeta é irmão do simples, da magia.
Vamos celebrar a vitória,
Sem ela o mundo seria sem glória.
Vamos celebrar a derrota
Porque a ela sempre abrimos a porta.
Vamos celebrar a amizade
Que nos confere intimidade.
Vamos celebrar o mistério que nos cerca.
Vamos celebrar o amor, esse mistério,
E o mistério maior
Que é a vida.
Diógenes da Cunha Lima
Parabéns pela sensibilidade com os mais frágeis seres , mas que suportam a dor para se libertarem de suas amarras…