Elis Regina
ROMARIA NA VOZ DE ELIS REGINA
ROMARIA
Interpretação – Elis Regina
Letra e Música – Renato Teixeira
Romaria
É de sonho e de pó
O destino de um só
Feito eu perdido
Em pensamentos
Sob o meu cavalo
É de laço e de nó
De jibeira o jiló
Dessa vida
Cumprida a só
Sou caipira, pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida (2x)
O meu pai foi peão
Minha mãe solidão
Meus irmãos
Perderam-se na vida
À custa de aventuras
Descasei, joguei
Investi, desisti
Se há sorte
Eu não sei, nunca vi
Sou caipira, Pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida (2x)
Me disseram, porém
Que eu viesse aqui
Prá pedir de
Romaria e prece
Paz nos desaventos
Como eu não sei rezar
Só queria mostrar
Meu olhar, meu olhar
Meu olhar
Elis Regina ficou conhecida também por lançar novos talentos na MPB. Renato Teixeira não foi exceção. Quando sua bela composição recebeu a voz talentosa da cantora, seu nome foi projetado e suas portas foram abertas para outros grandes sucessos.
Romaria, além da melodia, tem uma letra belíssima.
“É de sonho de pó”
O contraste da coisa sonhada e a triste realidade já estão presentes no primeiro verso da letra da música.
O desejo por dias melhores, de fartura, povoa a mente do fervoroso homem do campo, que com fé luta contra as adversidades de sua dura e solitária rotina.
“O destino de um só/Feito eu perdido/Em pensamentos/Sob o meu cavalo”
E não havia de ser diferente. Tinha sido assim com seu avô, seu pai e agora com ele – todos com o mesmo destino. A mesma lida no arado, na semeadura, a eterna espera por chuvas e, quando não surgia contratempo, dava-se a tão esperada colheita, que representava comida no prato.
O chão sagrado, pisado pelas patas do cavalo, é a origem do sustento da família.
“É de laço e de nó/De jibeira, o jiló/Dessa vida/Cumprida a só”
Às vezes somos laçados pelo destino a viver toda uma vida num só lugar, como atado por um nó.
E não poucos os nós da vida.
(algibeira: palavra de origem árabe, que quer dizer cansaço, fadiga. A corruptela “gibeira” tem o significado de bolso).
Aqui Renato Teixeira fala da luta cansativa do viver camponês, uma carga da pesada e deveras amarga, como o fruto do jiloeiro.
Ele sofre com as agruras que tocam o seu dia a dia, mas sabe que tem de fazer das tripas coração e dar cabo, sozinho, dos seus enfadonhos afazeres.
“Sou caipira, pirapora/Nossa Senhora de Aparecida/Ilumina a mina escura e funda/O trem da minha vida”
Ele é aquele que não nega sua origem (caipira) e luta pela sobrevivência (pirapora).
Na sua fé, sente que há esperança, sim. Que uma hora sua vida vai melhorar e será iluminada, igual à peleja que o minerador tem à procura de pedras preciosas nas minas escuras e fundas. Quando isto acontecer, será só felicidade, como a que se tem com a chegada do trem lá pras bandas de Minas, carregado de notícias, mantimentos e pessoas queridas.
“O meu pai foi peão/Minha mãe solidão/Meus irmãos/Perderam-se na vida/À custa de aventuras”
A tradição de família atada ao campo é comum em muitas regiões do país. Como o homem do campo luta de sol a sol, muitas vezes a mulher fica relegada a um segundo plano, entregue à solidão. Alguns filhos fogem, buscando mudar esta linha traçada pelo destino, mesmo que muitas vezes tudo acabe mal, que é o custo da aventura.
“Descansei, joguei/Investi, desisti/Se há sorte/Eu não sei, nunca vi”
Lidar com a terra é extremamente cansativo, mas vem a noite para o descanso, até que o sol da manhã o impele novamente a se jogar em mais uma jornada. No campo, muito se investe, e às vezes dá vontade de desistir de tudo, diante das marés de infortúnios e azar. Nesta hora, passa-se a duvidar até da sorte.
“Me disseram, porém/Que eu viesse aqui/Prá pedir de/Romaria e prece/Paz nos desaventos/Como eu não sei rezar/Só queria mostrar/Meu olhar”
É comum se avistar nas estradas vicinais o tropeiro, cavalgando em direção à cidade que abriga o santo ou santa de sua devoção. Muitas vezes em romaria, buscam todos na força da fé, com base na prece, a mudança da sorte.
Aos que não sabem expressar com palavras aquilo que sentem, resta o olhar.
E qual santo que não se compadece com o olhar profundo e sincero de gente tão sofrida?
Elis Regina imortalizou alguns temas musicais, ao mesmo tempo em que lançava novos nomes para o estrelato.
Sua voz em Romaria tem uma interpretação única, inesquecível.
Renato Teixeira teve este grande privilégio, mas a composição dele demostra seu grande talento.
Viva Elis Regina!
Visite o site STARELIS, onde tem tudo sobre a “Pimentinha”:
http://starelis.wordpress.com/
Essa música foi trilha sonora da novela “Maria Maria” e marcou muito. Lendo a análise da música me vem a lembrança das personagens interpretadas por Nívea Maria. Elis Regina foi um ícone da MPB em interpretação.
Na geração dos meus pais, havia a Dolores Duran e Ângela Maria, Elis Regina já faz parte da minha geração.
Os festivais marcaram muito os anos 60/70, surgindo muito talentos para a MPB.
Elis foi a voz que marcou estes grandes encontros musicais.
A interpretação de Romaria é realmente linda.
Bela composição…. e Renato Teixeira, assim como Almir Sater e a voz inconfundível de Elis marca a música como se fora um hino!! eles sabem dar a devida sonoridade a letra!! Magnífico!!!
Bela homenagem a esse grande compositor,artista e interprete! Abçs
Elis Regina, una de las primeras cantoras que me cautivaron con sus bellas canciones y hermosa voz, en mi primer viaje, compré varios de sus discos. Un talento que sé fué muy jóven, pero como todos los grandes, perdura en la eternidad
Esta é uma das minhas favoritas.
“Apesar de termos feito tudo que fizemos, apesar de tudo, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais” – Como Nossos Pais – Belchior.
Acho que essa é uma das composições de melhor interpretação da saudosa pimentinha. Curto também as músicas de João Bosco e Milton Nascimento na voz marcante dessa grande cantora. Águas de Março, de Tom Jobim, sempre esteve no repertório de nossas noites de lua cheia em acampamentos a beira mar. Elis Regina nos apresentou composições de nossa rica MPB e promoveu a nossa arte para todo o mundo. Bela homenagem, parabéns!!!!!!!!!
Muito bom trabalho, lembra-me a análise de Geni que você fez no curso de Letras da UFRN e comentou comigo o trabalho. Parabéns e uma susgestão: coloque na assinatura do seu email, ao final dele, o endereço deste blog, para irmos direto a ele sempre que recebermos mensagem sua.
Marcos, procuro até hoje achar este material em meus pertences de faculdade. A análise da letra da música de Geni e o Zepelim, de Chico Buarque, rendeu-me a maior nota da sala de aula, na UFRN.
Tenho que ressaltar que era muito difícil conquistar este grau com a professora mais exigente que eu já tive.
Aqui no Bollog, divirto-me fazendo possíveis leituras nas letras de músicas da MPB.
Resta ao leitor confrontar com aquilo que ele captou na mensagem do mesmo tema musical.
Abraços e obrigadão pelo comentário e dica para assinatura do e-mail.
Renato Teixeira foi muito feliz nessa composição.
E ter Elis Regina defendendo seu trabalho foi a consagração.
Grandes talentos que se juntaram para elevar mais ainda o nível da MPB.
O trabalho do Bollog ficou de acordo.
Glauco
Essa linda canção foi cantada lindamente pelo saudoso Jessé, que saudades dessa voz que tão cedo nos deixou.
Também ficou bela na voz de Maria Betânia e claro que não podem faltar elogios
ao compositor dela “Renato Teixeira”.
Como sempre bela interpretação e ótima escolha.
>> “Sou caipira, pirapora/Nossa Senhora de Aparecida/Ilumina a mina escura e funda/O trem da minha vida”
>> Ele é aquele que não nega sua origem (caipira) e luta pela sobrevivência (pirapora).
Gostei muito de sua interpretação. Só acho que pirapora aqui se refere a Pirapora de Bom Jesus no interior paulista. Essa cidade é o destino final de diversas romarias de “Muladeiros”, ou Romarias a cavalo. São famosas as que vão de Itu a Pirarapora e a de Americana a Pirapora. Há várias outras. Tive a oportunidade de ver os cavaleiros andando na estrada durante essa época. É uma manifestação cultural bastante linda.