Luís da Câmara Cascudo
OLHAR DO SOBRADO
Só ele viu o derramar daquele orvalhinho tímido, antes que o sol se levantasse sobre sua velha e ainda adormecida Ribeira.
Ali do casarão da Junqueira Ayres, seus olhos cansados ainda acharam forças para acompanhar o correr das águas do Potengi, rumo à imensidão do mar.
Quase não conteve sua vontade de gritar: “- Quantas aventuras, meu velho companheiro!”
Lançou um olhar para a boca da barra que, por séculos, presenciara vaivéns de caravelas e canhões, ainda ali permanecia prazerosa a receber e escoar produções das vias marítimas.
E o Forte dos Reis Magos, todo majestoso, continuava altivo a testemunhar o desdobrar do tempo.
Ao longe, ladeando os arrecifes, viu pequenina vela da Redinha, ao curso dos ventos, empurrando o jangadeiro e suas redes à busca de sustento.
Cansado de uma noite produtiva, feita de cortar e recortar a palavra, o escritor, como era o costume, sorvia sempre o vento prazeroso que soprava das encostas, alimentando novamente o olhar de cenários e sonhos.
Invadido de alegria, sorriu. Como amava sua terra natal, sempre ensolarada e acariciada por uma brisa refrescante.
Como Dáhlia, que se aninhava graciosamente a seu lado, sua cidade também resguardava para si alguns segredos.
Mas era impossível à amada urbis querer esconder algo do seu grande amante. Ninguém conheceu mais que ele aquelas curvas, avenidas, ruas e vielas, inda que na juventude se perdesse no descaminho de suas esquinas.
Ele foi quem melhor narrou e enalteceu a riqueza de sua gente, fazendo maior o fato histórico.
Tal qual rendeira caprichosa, ágil a trabalhar o linho com seus bilros, ele também teceu o manto da memória do seu querido povo.
Qual um príncipe apaixonado, desfilou com letras seu Tirol, os temperos da feira do Alecrim, o emaranhado das Quintas, sua portuária Ribeira e a Redinha de seus retiros, descrevendo tudo para Gilberto Freyre, Mário de Andrade, Raquel de Queiroz, Carlos Drummond de Andrade e Jorge Amado, dentre outros ilustres amigos que com ele se correspondiam ou que vinham ao seu encontro.
Em tais ocasiões, recebia a todos com a riqueza culinária de sua terra, uma maneira especial de divulgá-la melhor.
Com sua figura pequena, agigantou-se ao descrever e traduzir tamanha beleza deste lindo e ensolarado recanto do litoral nordestino.
Por isso, todo potiguar tem muito do que se orgulhar e um agradecimento a fazer:
– Muito obrigado, Luís da Câmara Cascudo!
Ele nasceu no dia 30 de dezembro de 1898 e morreu em 30 de julho de 1986.
Foi historiador, professor, antropólogo, advogado e jornalista. Escreveu 31 obras e é considerado o maior folclorista brasileiro.
Ganhou em vida muito reconhecimento por seu trabalho e foi amigo dos principais intelectuais de sua época.
Deixou um legado escrito de valor imensurável para a cultura potiguar e brasileira.
E dentro da sala de aula, um jovem contempla a edificação da Junqueira Aires. Naquela escola técnica, ele admirava a arquitetura daquela construção colonial, e, ciente de seu ilustre morador, fixava os olhos, a cada intervalo, para ver se teria o privilégio de vê-lo. Dentro do salão do casarão, sua irmã Lena entrevista o historiador, e, emocionada pela oportunidade, não percebe que a fita cassete não está gravando. Câmara Cascudo é, acima de tudo, uma grande referência e um enorme orgulho para nosso estado. E aquele jovem se tornou poeta, escritor, professor e também, bem como o homenageado, é um grande enaltecedor dos valores de nossa terra. Parabéns, Zeca! Parabéns, Cascudo!!!!!!
Cascudo és tu por procurar desejar e saber buscar tudo do conteúdo desejado, tudo na ânsia de saciar a mais pura poesia em forma de informação prazerosa, em versos didáticos. Imagino, antes de tudo, quem eras tu, José, com um livro na mão e outro na cabeça.
Chegou sua vez. Escreva a história de nosso povo, de novo, agora com maestria própria de amantes de tudo que é brasileiro e um pouco Potiguar.
FELIZ ANIVERSÁRIO DE NOVO e pra sempre.
Desculpe-me se falo muita bobagens.
Beijo no coração de vocês.
Alguns homens vêm ao mundo para fazer a diferença.
Deixam uma obra cujo legado permanece para todas as gerações seguintes.
Luís da Câmara Cascudo foi um desses gigantes.
Parabéns pela homenagem.
Ivan
Ganhei de minha irmã, Doutora Lena, em 31/12/2011, o livro CRÔNICAS DE ORIGEM, um apanhado de matérias de jornais, organizadas por Raimundo Arrais, para homenagear Luís da Câmara Cascudo.
Estas crônicas cascudianas retratam a Natal dos anos 20, que o então famoso jornalista, escritor, folclorista e historiador publicava nos periódicos A Imprensa e A República.
Com sua generosidade de sempre, minha irmã deixou uma dedicatória que irei guardar com muito carinho por toda a vida:
“Zeca, meu irmão, mestre maior, que tem incentivado a família toda a aflorar sentimentos e práticas que se concretizam na vida e nos espaços privilegiados de vivências, reais ou virtuais, repousando-os e ressignificando-os para que as pessoas encontrem sentido e significado as suas existências.
Mano, agora você tem uma nova missão que é a de ler este livro e tentar entender um pouco mais do que acontecia na então província de pouco mais de 30.000 habitantes e dessa forma me ajudar a desvendar os mistérios das crônicas cascudianas dos anos 20.
Um abraço e um feliz 2012.
Lena Cavalcanti
31/12/2011”
Não posso me esquecer de mencionar que ela me passou um vasto material sobre nossa querida Natal, inclusive outro livro, NOSSA CIDADE NATAL – Crônicas, assinado por vários escritores, tais como: Luís da Câmara Cascudo, Afrânio Pires Lemos, Américo de Oliveira Costa, Arthur Cunha Lima, Augusto Severo Neto, Auricéia A. Lima, Benivaldo Azevedo, Bosco Lopes, Carlos Gurgel, Cassiano Arruda Câmara, Celso da Silveira, Clotilde Santa Cruz Tavares, Danilo Bessa, Deífilo Gurgel, Diógenes da Cunha Lima, Dorian Gray Caldas, Edna Duarte, Eugênio neto, Everaldo Gomes Porciúncula, Francisco Amorim, Francisco Macedo, Graça Pinto, Gumercindo Saraiva, Inácio Magalhães de Sena, Itamar de Souza, Ivoncísio Meira de Medeiros, Jansen Leiros, Joanilo de Paulo Rêgo, João Batista Machado, João Charlier Fernandes, José Luís Silva, José Waldenício de Sá Leitão, Lauro Bezerra, Luís Carlos Guimarães, Luiz Rabelo, Manuel Fernandes Volonté, Manuel Onofre Jr., Murilo Melo Filho, Natércio Gomes da Costa, Nei Leandro de Castro, Newton Navarro, Nilson Patriota, osório almeida, Otto de Brito Guerra, Pery Lamrtine, Rafael Godeiro Sobrinho, Rejane Cardoso, Valério Mesquita, Veríssimo de Melo, Vicente Serejo, Wilson Jovino de Oliveira e Wilson Maux.
Aqui deixo o meu muito obrigado a esta irmã muito querida, que me abasteceu com documentos, livros, recortes de jornais e revistas, tudo para eu me situar melhor no tempo, na hora de compor um novo livro que está em andamento: LINDA FOREVER. Um romance que irá se passar logo após o término da II Grande Guerra Mundial, período em que muitos americanos ainda estavam na Base Aérea de Natal, aguardando o retorno para os EUA.
Muito obrigado, por el homenaje bien poético a Luís da Câmara Cascudo, y también por reflejar el gran amor y admiración de una hermana.
Me dá orgulho quando vejo citações em jornais, revistas e na televisão de nosso ilustre cidadão. Quando há dúvidas sobre a origem das palavras do vocabulário popular é a ele a quem recorrem. Seus escritos são referências para se colher a melhor descrição de como vivia o povo brasileiro em décadas passadas. Bela e justa homenagem.
Isso é o Brasil …..Essa é a nossa gente … o nosso povo…
Amo essas homenagens…e resgate da história nordestina e brasileira por assim dizer!!!
Cada vez fico mais curiosa e feliz, de ver como o Nordeste é rico em personagens e histórias..
Amo essa gente que me faço um deles tbm…Um dia quero conhecer Natal.
Abçs… amigo José
Obgda pela visita ao meu blog…
Eu me lembrei de quando éramos pequenas e visitávamos o nosso “nono”. No sítio não havia energia elétrica e sempre nos contavam as histórias mais assombrosas que nos faziam dormir com a cabeça coberta de tanto medo… uma delas era do saci pererê, que tinha por costume fazer trancinhas nas crinas dos cavalos (acho que ele queria ser cabeleireiro e ninguém tinha dado uma “chance”…). E minha mãe falava que eram trancinhas perfeitas, sempre do mesmo tamanho: um capricho só!. E outra personagem do nosso folclore que ficou na minha cabeça foi do Negrinho do Pastoreio, que tinha sido surrado por seu antigo proprietário e colocado em um formigueiro. E depois foi para o céu e recebido com uma festa!
E um dia tive a “grande” ideia de tentar ficar como o curupira… só não sei como não fraturei meus pés!
De verdade, o Bollog mexe com o nosso estoque de lembranças! E achei lindas as suas, com tanto amor e admiração por sua irmã. Parabéns, sempre!