Farol
John Paul vivia com seu pequeno filho, Frank, no Farol da Redenção.
Suas principais obrigações eram manter o farol sempre abastecido para que não se apagasse a referência para os navios que se aproximavam das ilhas rochosas, também manter o serviço de meteorologia atualizado com a situação climática e reportar SOS de alguma embarcação em perigo ou uma possível invasão por parte de algum navio inimigo.
Para isso, tinha à disposição o telégrafo. Com ele se comunicava com a central de informações da Marinha e também se mantinha atualizado com o que se passava no mundo.
Além de falar outros idiomas, tinha que saber manter o local limpo e preservado, além de fazer a própria comida.
O pequenino filho adorava navegar entre as pequenas ilhotas que circundavam o farol.
Seu pai não reprimia este desejo no garoto e o deixava se divertir com pequenos barquinhos. O garoto era estimulado pelos grandes barcos que vinham periodicamente deixar suprimentos para eles na ilha.
Não satisfeito com as pequenas aventuras, Frank, à medida que crescia, queria sempre um barco maior, para desespero do seu pai.
Na verdade, Frank foi adotado pelo faroleiro, pois, segundo a tradição, aquele farol era muito inóspito e perigoso, não podendo o faroleiro se casar. Assim, teria que adotar o futuro aprendiz de faroleiro para poder dar sequência naquela árdua missão, passada de pai para filho.
Todo o ensinamento necessário para o desempenho da função era mais uma das tarefas de John, que dava também uma boa educação, além de classes de inglês, francês e alemão. O italiano era sua língua de berço.
Ao se tornar um rapaz, Frank queria conhecer o mundo, o que assustava muito seu pai, que tinha receio de perdê-lo e não ter tempo para formar outro profissional.
Um dia convenceu o pai a pegar uma carona num grande navio. Daí em diante, não parou mais de viajar, mantendo seu pai informado das viagens por meio de cartas. Na verdade, John percebeu que aquelas viagens poderiam em muito agregar na arte de um bom faroleiro, por isso permitiu tais aventuras do rapaz.
Numa das visitas a ilha, Frank percebeu que seu pai não estava a postos, como de costume. Que a caixa do correio estava lotada e que o farol estava meio que largado, e isso o preocupou muito. Imediatamente correu ao encontro do pai, que se encontrava acamado.
John disse para o Frank que era hora de ele assumir a missão que lhe fora confiada, pois ele estava no fim da estrada.
Não demorou muito para que aquela triste despedida se desse.
O farol havia apagado sua velha luz e ficou cinza, como quando as nuvens do céu anunciam alguma tormenta ou vendaval.
Logo Frank se deu conta que era preciso recomeçar e que tudo agora dependia dele.
Sua primeira atitude foi procurar uma boa moça para se casar, embora que tudo tivesse que ser feito de forma velada, sem o conhecimento das autoridades. Frank estava quebrando uma longa tradição, mas queria aos poucos mudar aquela realidade absurda.
Ficava indignado de saber que aquela função vitalícia só deveria ser passada daquela forma. Por que não um filho legítimo? Por que não ter a companhia de uma mulher, já que ali se vivia em grande solidão?
Aos poucos, as pessoas foram tomando conhecimento, e aquela exceção passou a ser aceita a partir dali. Mesmo porque não havia nada escrito sobre aquela proibição, e tudo não passava de uma tradição oral, feita e passada pelos mais antigos.
Frank passou a ser muito mais feliz, quando nasceu seu primeiro filho, seu sucessor.
A vida no Farol da Redenção passou a ser melhor em tudo, e Frank só se lamentava por não poder dizer ao velho amigo e pai John:
“- O casamento é a melhor escola, pois com ele se aprende a ceder, a sofrer junto, também se passa pela lapidação da própria carne e se aprende a amar o filho muito mais que a si mesmo.”
Por falta de opção, alguns filhos continuam mantendo a tradição dos costumes e modos de vida familiar. Na globalização atual, nem sempre isso é possível, já que o mundo de oportunidades pode ser vista via satélite. Hoje é difícil alguns profissionais perpetuarem suas profissões e muitas delas estão sumindo. O sapateiro do meu bairro certa vez comentava: não é que meu filho não saiba fazer esse meu serviço, mas ele estudou e sabe fazer tantas outras coisas que, além de serem melhor remuneradas, são bem mais fáceis.
Passar o conhecimento além de dever é também uma responsabilidade.
Esse foi o desejo do homem desde sempre, por isso veio a escrita, o papel e os escritos sobre como fazer cada coisa.
A história conta os feitos dos povos, seus acertos e erros, cabendo aos homens do futuro construir o novo sem perder tempo e dinheiro.
Esta pequena história nos deixa este ensinamento.O legado do pai passando para o filho e assim sucessivamente, podendo haver melhoramentos quantos aos procedimentos e rotinas.
Grande aprendizado.
Cavalcanti, meu pai queria que eu seguisse seu ofício, mas eu sentia a necessidade de mudar o meu destino, longe da ideia de ser bodegueiro.
A clientela dava um bom retorno e meu pai já estava ficando velho, querendo passar o negócio para mim.
Foi duro dizer para ele que meu futuro era outro.
Choramos juntos, mas ele compreendeu e hoje dou graças a
Deus por aquele dia decisivo.
Trabalho em outra área e sou muito, muito feliz escrevendo para o jornal da minha cidade.
Ele ainda segue trabalhando, mas logo terá que parar. Creio que irá vender o ponto, mas está tranquilo quanto a mim.
Somos agora mais amigos que antes e meus filhos adoram passar os finais de semana com os avós.
Sua história fala de continuidade e o meu comentário mostra um outro lado, isto é, seguir o caminho que brota do nosso interior.
Obrigado pela oportunidade de relatar isso aqui.
Abraços.
Achei linda a historia e quase chorei… o video também é uma graça. Uma bela lição de vida.
Que linda história, me fez refletir muitas coisas e lembrei muito do meu pai e do tio Mario.
Lembrei também do farol de mãe Luiza em Natal e do farol de Touros.
Que vida difícil deve levar quem vive cuidando de um farol, que dedicação e responsabilidade.
Que história preciosa! Para se ler e reler!
E o vídeo maravilhoso, com uma música linda, que acompanhava os movimentos dos personagens… as cores das estações do ano, delicadas como a história. Impossível ver só uma vez ! E em cada uma delas se emocionar muito, com certeza!
Ficou bem gravado o amor altruísta do pai, que percebia a necessidade do vôo mais longo do seu menininho (“Porque eu sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura…”
Fernando Pessoa) e o deixou partir, mesmo sentindo a dor absurda da saudade. E a passagem das estações retratava o tempo que transcorria e as marcas que deixava…
Nossa! Que beleza!
Fiz até um “versinho” para o farol, tão lindo:
Procura-se um farol abandonado,
que queira ser cuidado
por alguém muito desajeitado:
… EU!
E eu e o farol iríamos amar ver o mar brincando no nosso quintal!
Obrigada, mais uma vez!
Gisele, que legal que a história tocou sua sensibilidade e até a inspirou para despertar seu lado poético.
A frase de Fernando Pessoa foi muito oportuna e precisa.
Sobre os filhos, você enfocou algo muito duro: a hora da despedida, quando eles se despedem dos pais, deixando um enorme vazio.
Um dia fizemos o mesmo e nem olhamos para trás, sem se dar conta daquilo que causamos.
É o curso da vida.
E as fotos de cabeça para baixo era o método mais eficaz de lembrar os mais esquecidos de que haviam feito poses para as lentes da câmera e não tinham vindo buscar o resultado do seu trabalho. Seu Assis se instalava na praça central da cidade cheio de apetrechos que aprendeu ver necessário ao longo dos anos de profissão. Três camisas de cor única, gravatas, espelho, gel de cabelo, pente e escova, tabuleta de data, guarda sol e o quadro almofadado e revestido de veludo, no qual ele fixava as fotos. O lambe-lambe, como era conhecido o retratista, era o único da cidade e com aquele trabalho ajudou a manter a casa de seus pais, criou seus dez filhos e ajudava na criação dos netos. As primeiras máquinas portáteis não abalaram seu comércio, pois o suvenir era bastante caro. Mas ele se viu abandonado pelos cientes com a entrada das câmeras descartáveis: Xereta, Love, etc. A seu lado, adolescentes fotografavam a esmo e o resultado saía em cores e em poucas horas. Uma febre que tomou conta da cidade e ninguém notou a ausência do velho retratista que abandonava seu espaço, de tantos anos, na bela praça. Com a modernidade vem a automação e alguns serviços manuais são extintos. Hoje os faróis são controlados a longas distâncias por acionamento via satélite, mas a manutenção ainda é mensal. Na cidade de Mossoró/RN, maior produtora de petróleo em terra do país, nesse último semestre houve um desequilíbrio de arrecadação no município. O motivo foi a retirada de uma empresa, contratada da Petrobras, que fazia o relatório diário nas centenas de poços. Motoristas, acompanhados de técnicos, executavam o trabalho que hoje foi substituído por um sistema eletrônico controlados via rádio. Com isso, a locadora fechou as portas, os postos de combustíveis diminuíram as vendas, as casa alugadas foram entregues, os restaurantes e supermercados foram os que mais sentiram, porém todos os comerciantes viram seus faturamentos diminuírem. Como uma carreira de dominó, demissões ocorreram por toda cidade e os eventos juninos desse ano não tiveram a mesma alegria estampada no rosto dos moradores da cidade que mais cresce em nosso estado. Como toda ação tem uma reação, os governantes de Mossoró vem investindo no turismo de festas sazonais, preocupados com os efeitos colaterais das novas medidas de automação. Como diz Zélia Ducan: chegamos um dia acreditar que tudo era pra sempre, sem saber que o para sempre, sempre acaba.
Una bella história y un hermoso video, acompañado de bellísima música, y otro; que me hizo reflexionar sobre mantenerse siempre firme, ante las fuerzas más adversas. Parabéns meu Grande e Querido Amigo “José Maria Cavalcanti”
Muito triste a vida do faroleiro.
Muita responsabilidade a do faroleiro.
Muita solidão é reservada ao faroleiro.
Muita apitidão é cobrada do faroleiro.
Muita disposição é esperada do faroleiro.
Muita segurança é atribuída ao faroleiro.
De modo que, de hoje em diante “O faroleiro de jeito algum permanecera solteiro”!