A RITA
A RITA
Disco Com Amor Com Afeto – 1980
A Rita levou meu sorriso
No sorriso dela
Meu assunto
Levou junto com ela
O que me é de direito
E Arrancou-me do peito
E tem mais
Levou seu retrato, seu trapo, seu prato
Que papel!
Uma imagem de São Francisco
E um bom disco de Noel
A Rita matou nosso amor
De vingança
Nem herança deixou
Não levou um tostão
Porque não tinha não
Mas causou perdas e danos
Levou os meus planos
Meus pobres enganos
Os meus vinte anos
O meu coração
E além de tudo
Me deixou mudo
Um violão
Quando o Chico Buarque surgiu, na década de 60, era uma espécie de Noel Rosa. Um rapaz jovem e branco cantando samba de qualidade.
“A Rita”, assim como outros sambas, foi recebida com entusiasmo, era a resposta musical à Bossa Nova, mas nosso genial Chico se encantou com Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Aí, já conhecemos a história…
Chico, em sua obra, tem como temática musical quase sempre uma mulher.
A RITA é uma delas, só que esta é especial, pois representou um caso de amor sucedido entre ele e uma cantora famosa estrangeira, quando eles eram muito jovens (ele tinha vinte anos, e ela dezoito, quase dezenove).
Ela era linda, de um sorriso mágico e envolvente, de roubar “qualquer assunto”!
O amor rolou, mas não teve final feliz.
Ao ir-se, ela pareceu arrancá-lo da própria carne, fazendo estragos no peito e no coração do jovem cantor e compositor, roubando seus projetos, seus sonhos…
E o retrato trocado, com juras de amor eterno, nem devolveu… Levou também com ela sua pureza, representada pelo São Francisco. Poderia levar tudo, mas que ao menos deixasse o raríssimo disco do Noel.
Agiu de forma mesquinha e vingativa. A intenção era machucar, feri-lo intencionalmente.
Nada dela ficou para ele se lembrar dos lindos momentos vividos a dois.
Só restou a dor daquela grande e inesquecível perda.
Sem alegria ou motivos pra viver, até o violão se aquietou.
Autor José Maria Cavalcanti
No CD de sambas de Chico Buarque encontramos pérolas de seu repertório: …há muito tempo desejo beijar tua boca molhada de maracujá. Tô me guardando pra quando o carnaval chegar…, …tinha cá pra mim que agora sim eu teria enfim um grande amor, mentira…, jogue o paio, carne seca, toucinho no caldeirão e vamos botar água no feijão…, …diz que só volto amanhã se alguém chegar, telefone não deixe nem tocar, quero lá,ra, lá, ra, porque tô voltando…
A Rita é uma dessa preciosidades musicais e por ter uma irmã com o mesmo nome, passou a ser bem popular em nossa família.
Porém o samba mais popular do Chico é sem dúvida Apesar de Você, que foi um marco no período da ditadura militar.
Viva a MPB!!!! Viva Chico Buarque de Holanda!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
A Rita só não contava com o talento desse jovem para transformar dor em poesia. Ganhamos nós, José Maria.
Parabéns pelas palavras bem ditas.
Maldade dessa Rita, saiu da vida do cara de repente. Não satisfeita com o estrago feito no coração do rapaz, carregou tudo que podia.
Tanta perversidade deve ser fruto de algum tipo de vingança, coisa de gente ruim mesmo, pois tirou o chão do pobre moço que até calou seu violão.
Meu irmão, rasga esse pranto e parte pra outra.
Outras musas esperam por você, bola pra frente.
Chico Buarque entende muito da cabeça e da alma feminina, mais que nenhum outro compositor da MPB.
Gosto muito de Tatuagem, Olho nos Olhos, Atrás da Porta (interpretada divinamente por Elis Regina).
Folhetim fala de uma das profissões mais antigas da humanidade, vivida por mulheres de uma vida nada fácil.
“Luíza” é uma das minhas favoritas.
A música escolhida aqui é muito linda na voz de Gal Costa e ficou também linda com Nara.
São histórias de mulheres fortes e marcantes retratadas pela genialidade de um dos maiores compositores de nossa música.
Com sua análise, conheci os bastidores daquilo que motivou a criação desta linda música.
A rejeição acaba com a gente. É dor que ninguém esquece, um soco na boca do estômago.
Quem nunca passou por isso não vai saber nunca o estrago que faz, a coisa é pior que a dor física, fica na lembrança para sempre, machucando, martelando.
Transformar esta experiência terrível num lindo samba é o mesmo que transformar um limão em uma doce e refrescante limonada.
Esta música conta a mesma história vivida por muitos casais que se desentendem.
O melhor é ficar para sempre juntinhos, mas às vezes não dá.
As diferenças vão aos poucos cavando um buraco imenso na relação, até que um dia tudo desaba, infelizmente.
Essa música retrata o amor arrebatador bem próprio da juventude, sem limites, com começos intensos e finais doloridos. A letra atravessa o tempo e quase cinquenta anos depois (1966) continua bem atual. Tanto que Ana Carolina compôs A Resposta da Rita e em parceria com Chico gravaram o dueto unindo as duas músicas.
Não levei o seu sorriso
A Rita levou meu sorriso
Porque sempre tive o meu
No sorriso dela, meu assunto
Se você não tem assunto
Levou junto com ela o que me é de direito
A culpada não sou eu
E Arrancou-me do peito e tem mais
Nada te arranquei do peito
Levou seu retrato, seu trapo, seu prato,
Você não tem jeito faz drama demais
Que papel
Seu retrato, seu trapo, seu prato,
Uma imagem de São Francisco, e um bom disco de Noel
Devolvo no ato pra mim tanto faz
A Rita matou nosso amor de vingança
Construí meu botequim
Nem herança deixou
Sem pedir nenhum tostão
Não levou um tostão
A imagem de São Francisco
Porque não tinha não
E aquele bom disco estão lá no balcão
Mas causou perdas e danos
Não matei nosso amor de vingança
Levou os meus planos, meus pobres enganos, os meus vinte anos e o meu coração
E deixei como herança um samba também
E além de tudo
Seu violão nunca foi isso tudo
Me deixou mudo, o violão
E se hoje está mudo por mim tudo bem
Engraçado que a figura do Chico Buarque ficou atrelada à música de protesto.
A tal ponto que todos vasculhavam onde estava a mensagem cifrada ou código secreto para criticar o sistema.
Nesta música, não tem disso não, é a mais pura dor de cotovelo, o lamento triste de quem sofre.
O bom moço se viu apaixonado, caiu de cabeça, mas levou depois um toco da mina.
Fazer o quê, meu irmão!
As tantas Ritas do Chico…quão inocentes eram.
Levavam apenas coisas supérfluas: sorriso, assunto, trapo, prato e disco de vinil, causando pouquíssimas perdas e danos.
As tantas Ritas do Chico…hoje se chamam Kátias… é, Kátias Flávias, bandidas do Irajá, Brookling, Borel, Cidade de Tiradentes, e tantas outras, de lugares mundiais.
Elas usam um exocet calcinha, extorquem, mentem, matam, usurpam sem a mínima causinha, arrancam de ti tudo, causando, sim, enormes perdas e danos.
Chico, você não perdeu nada, só ganhou, e nem mudo ficou!