Lembranças de Infância – Hotel Rio Branco
LEMBRANÇAS DO HOTEL RIO BRANCO
Vivendo há mais de dois anos no Brasil, meu tio Pito, quase aos 28 anos, pôs os olhos na linda moça que desfilava pelas calçadas da Praia de Copacabana.
Daquele flerte, logo se deu a aproximação, pondo em andamento uma conversação animada num atropelado portunhol.
E aquele jovem atlético, de pele bronzeada e com um bigodinho, ao estilo Clark Gable, mexeu com o coração da brasileira, que jamais sonhou ser laçada por um estrangeiro.
Foi amor à primeira vista entre o marplatense e a carioca da gema, chamada Ynaiara, funcionária dos Correios e Telégrafos do Rio de Janeiro.
Meu tio se apresentou como um dos sócios do próspero comércio de locação de carros importados, com chofer, que ficava ali pertinho, na Avenida Nossa Senhora de Copacabana.
Depois de lindos encontros, foi finalmente conhecer o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar e a Confeitaria Colombo, não demorando muito para ser marcado um jantar na casa da família Leite de Castro.
Tio Pito confessou depois que ficou um tanto assustado, afinal, iria ter o primeiro contato com o já famoso oficial superior da Marinha do Brasil, que era muito bravo e zeloso com as filhas: Ynaiara e Yolanda.
Podendo escolher um carrão, meu tio chegou num Chevrolet Bel Air, que brilhava tanto que até se podia pentear os cabelos na fuselagem. Aquele era mais um dos belos carros comprados para compor o plantel da loja em que ele trabalhava, da qual eram proprietários: Kiko e Canto, como eram conhecidos meus pais. Ele escolheu o melhor terno, estando na maior estica, pois queria impressionar.
Daquele primeiro e feliz encontro até a festa do noivado, não tardou muito.
Um ano depois, no dia primeiro de fevereiro de 1955, tio Pito estava se casando com Ynaiara Leite de Castro, que era carinhosamente chamada por ele de Vida.
Moraram no Rio por quatro anos, até que surgiu a oportunidade de comprar o ponto de um hotel na cidade de Mangaratiba, que fica a poucos quilômetros de Angra dos Reis.
Eles ainda nem desconfiavam como aquele hotel iria marcar tanto nossas vidas.
Com a saída do Rio, tia Ynaiara só conseguiu transferência do seu emprego para Paraty, e seus pais foram viver na já famosa e histórica cidade do período colonial brasileiro, tudo para ficar perto da filha.
Depois de pouco tempo, a ansiada mudança de trabalho para Mangaratiba ocorreu. Seus pais novamente acompanharam a filha, saindo da bela casa de Paraty, que tinha uma linda vista para a marina e que hoje é uma bela pousada.
Com toda a família vivendo junta, o Hotel Rio Branco passou a ser um lugar de encontro de familiares, tanto para os Leite de Castro, como também para os Fernandez e Colturi, quando vinham de Buenos Aires para o Brasil.
Ali também se realizavam animados jogos de cartas com os amigos, na ampla sala de recepção, e, quando faltava luz, era comum as janelas ficarem cheias de telespectadores que queriam acompanhar o jornal ou a novela, visto que o hotel tinha gerador próprio, algo incomum naqueles tempos.
Depois de algumas reviravoltas nos negócios do Rio, meus pais tentaram a sorte noutro ramo em São Paulo, mas o investimento não vingou.
Como juntos somos mais fortes e estando com as receitas diminuídas, fomos convidados a morar no Hotel Rio Branco.
Enquanto o Brasil vivia um verdadeiro agito social, naquele início de 1964, estávamos chegando à tranquilidade de Mangaratiba. Pedro ainda não havia completado dez anos, Mário Carlos iria fazer três e eu estava pertinho do aniversário do primeiro aninho.
Depois de muito estresse para meus pais nos grandes centros, Rio de Janeiro e São Paulo, viver naquela pequena e acolhedora cidade do litoral fluminense se transformou um verdadeiro relax para eles.
Para meus irmãos, que já eram maiores, aquilo era um verdadeiro paraíso.
Ali eles passaram a acordar com o canto do galo, a correr para ver o trem passar e a tomar banhos de mar nas praias do centro e em outras mais afastadas, sem que houvesse qualquer preocupação de nossos pais.
O Hotel Rio Branco, que hoje é a grande sede da Prefeitura Municipal da Cidade de Mangaratiba, ficava bem no centro da pracinha, diante do Coreto e da Igreja Matriz.
Um pouco mais de dois anos vivendo no hotel, nossa mãe veio a falecer em outubro de 1966. Tal fato foi um divisor de águas dos períodos que vivemos na companhia de nossos tios: Pito e Vida.
Pedro estava com 12 anos e cursava a Escola da Ilha da Marambaia. Concluiu o curso no fim de 1969 e ficou no hotel até janeiro de 1972.
De dezembro de 1966 a janeiro de 1972, eu e Mário Carlos fomos levados para viver com nossas tias em Buenos Aires.
Depois da Marambaia e após dois anos no hotel, Pedro seguiu para viver na pátria de nossos pais. Lá passou a estudar e trabalhar até os dias de hoje.
O início de 72 também marcou nossa volta a Mangaratiba. Tia Ynaiara logo deu sequência a nossos estudos, matriculando-nos na Escola Estadual Coronel Moreira da Silva, que fica na rua lateral à praça central.
Esta segunda passagem para mim foi a mais marcante, por ter mais idade e poder me recordar dos amigos, professores da escola, dos funcionários do hotel, assim como as muitas aventuras vividas.
Dentre as lindas lembranças, a que eu ganhei minha bonequinha do meu tio é muito especial, mas tenho outra que guardo com muito carinho.
Esta ocorreu numa segunda-feira ensolarada e bem florida, o que é mais comum na Primavera.
Recordo que eu e o Mário havíamos acordado bem cedo, não havendo encontrado o tio, que havia saído pela madrugada para fazer compras dos mantimentos para o hotel, no Rio de Janeiro.
Enquanto Maria cuidava das panelas na cozinha, Almerinda tocava os afazeres da arrumação dos quartos. Já a garçonete, de nome Rita, informava a um cliente de comida avulsa o horário do almoço. Manduca dava comida aos animais e galinhas do espaçoso quintal. Era ele também que colocava a água e comida nos cochos e dava alpiste para os pássaros do aviário.
Minha tia, atenta a tudo, arranjava sempre um tempinho para servir nosso café.
Vendo que eu estava aflita por não ter achado meu tio, ela, toda risonha, disse que o tio só voltaria na parte da tarde.
Aquilo foi como uma ducha de água fria para mim.
Como era meu aniversário, perguntei:
– Tia, será que o tio vai esquecer do meu presente?
– Pode aguardar que você vai ter uma sur-pre-sa. – disse dando ênfase em cada sílaba.
E aquela palavra mágica parecia tamborilar na minha cabeça, aumentando minha ansiedade.
Por mais que eu perturbasse minha tia, ela nada cedia.
Aquela tensão foi aumentando, ao mesmo tempo em que eu ficava tentando imaginar o que ganharia.
Aquele tempo de espera passou a ser o maior de todos.
A todo momento, eu corria para o janelão da frente somente para ver se a Aero-Willis azul e branca do tio apontava na esquina. Depois disso, olhava pro relógio da sala. Ficava apreensiva ao ver o ponteiro que parecia estar no mesmo lugar, como se o tempo não tivesse corrido.
Minha tia observava a cena e achava graça, pois eu ficava muito brava e depois roía as unhas.
– Acho melhor seu tio chegar logo, senão você irá comer os dedos!
– Tia, por que o tio demora tanto?
– Ele primeiro vai comprar legumes, cereais e, por fim, as carnes que precisamos no hotel. Na volta é que vai comprar seu presente.
Mesmo com aquela explicação, nada havia mudado na minha cabeça.
E a tarde passava lentamente, até que uma buzina pôs uma grande alegria na minha cara amarrada.
Eu já sabia que aquele som vinha do carro do meu tio.
Disparei o mais rápido que pude para a calçada.
A emoção foi incontida quando o carro contornou a praça e estacionou na porta do hotel. Para descer com as outras mercadorias, meu tio teve que primeiro retirar a surpresa que ele havia segredado para a tia.
Nem acreditei quando vi. Não uma, eram duas bicicletas Pimoneta, uma azul e outra marrom. A mim coube a azul e, ao Mário, a marrom.
Meu irmão, que não estava esperando, ficou numa grande alegria também. Tanto que não parava de rir, já que não contava com um presente tão lindo.
Meu tio e minha tia riram muito das nossas reações, pois que agarramos as bicicletas e já saímos pedalando pela rua. Já havíamos aprendido com as bicicletas de nossos primos e primas em Buenos Aires, mas nada como pilotar a própria bicicleta.
Eu não queria sair de cima do meu presente.
Naquele meu aniversário dos nove anos, andei tanto no sol que até senti uma grande dor de cabeça.
Fiquei tão feliz que até me esqueci que haveria ainda uma festinha, com direito a um lindo bolo.
Ganhar aquela Pimoneta azul foi realmente algo incrível e inesquecível.
Puxa, quantas saudades da minha infância no Hotel Rio Branco.
Autor José Maria Cavalcanti
Linda recordação infantil!
Bons momentos são sementes de saudades do amanhã.
Parabéns, Marta!!!!!
Muita saúde, paz e que as sementes de saudades sejam uma constante em sua vida.
Feliz aniversário!!!!!!
Mangaratiba é minha terra, mas não estudei como alguns dos meus amigos na escola Darcy Vargas.
Conheci o Hotel Rio Branco, pois vivi na cidade toda minha infância. Tudo aqui é realmente majestoso.
Hoje muita coisa mudou, mas o comercio atende as necessidades basicas, pois que vive mais em função do turismo. O maior problema são “os grandes” que não sabem explorar as riquezas naturais e o passado histórico é trocado por prédios novos, sem valor cultural.
O local é de Mata Atlantica, mas com seu jeitinho político está sendo invadido e devastado por quem tem mais grana (mansões, condomínios de luxo e grandes hotéis).
Pode-se notar isso ao entrar na antiga Fazenda da Shay, onde existe uma imensa cachoeira e já margeada por gente inescrupulosa com ajuda de pessoas ligadas a Prefeitura local… é claro que tudo faz parte daz União, mas a liberação para construir em áreas proibidas pode ser comprada.
Assim como a Marambaia, são muitas as ilhas, com praias lindas, prontas pra gente se deliciar-se, com peixes a vontade.
Por exemplo, em Mangaratiba, a Praia do Saco é habitada, mas não é conservada. Falta maior cuidado dos administradores.
Por todos os lugares encontramos a história não contada da bela época em que os portugueses, igreja e jesuitas acabaram com os nativos, roubaram as riquezas naturais e escondiam os escravos trazidos da Africa em contrabando: era o tal do comércio negreiro.
Marcas desse tempo não são ditas, mas estão nas ruinas do Comercio de Leilão de escravos na ponta de Bicuí e Shay, do poderoso Senhor da Vida Barão de Shay, as suas igrejas, caminhos de escravos, Pedra da Liberdade local onde os escravos (indios e negros) se lançavam para morrer em fuga da escravidão.
A região é muita rica de plantas medicinais. Há também uma fauna imensa e uma biodiversidade a olhos vistos.
Um local é realmente lindo, muito abençoado por DEUS, mas não preservado pelo homem.
A escola trouxe muita coisa boa na época, como fábrica de gelo, fábrica de sardinhas, venda de cocos e colocava a ilha em evidência como centro cultural.
Acho mesmo que deveria ter um museu para atrair turistas de volta ao local.
Sou de Mangaratiba e adoro tudo aqui, assim como você, que ainda carrega no coração as lembranças do período que aqui viveu, no famoso Hotel Rio Branco, que hoje faz parte do museu da cidade, havendo muitas fotos de importantes autoridades que nele ficaram hospedadas.
Há muita história e a região é linda!
Se puderem venham conhecê-la, a rainha desse verde mar, o coreto, a pracinha o velho cais, a igrejinha matriz, praia do saco e da ribeira, etc.
Venham ver visitante amigo este terno abrigo, pedacinho do céu, cachoeiras cantando…
Minha cidade natal, eu a adoro e o povo é bastante hospitaleiro.
Lastimo não ser o turismo bem aproveitado.
Aqui a natureza foi pródiga!
É caminho de Angra dos Reis, pena que não tem a mesma divulgação.
Desculpa me desabafar na sua história tão linda.
Esta homenagem, feita hoje em um dia tão especial e de agradecimento a Deus por mais um ano de vida, me faz reviver aquele dia tão especial em que ganhei a minha primeira bicicleta, a pimoneta.
Os detalhes nas informações no relato da história do hotel Rio Branco me trazem à memória lembranças de momentos inesquecíveis que lá vivi.
Revendo as lindas fotos que tenho daquela época, viajo no tempo.
Já estive em Mangaratiba várias vezes para rever algumas pessoas e lugares onde estive e vivi lindos momentos.
Lembro com muitas saudades da querida Almerinda que, após muitos anos sem vê-la, reencontrei ao fazer uma busca pela cidade.
Esse reencontro foi marcado por muita emoção e lembranças.
Almerinda trabalhava e vivia no hotel, uma pessoa de um coração sem tamanho e que considero como uma das minhas mães.
O nosso reencontro foi marcado por muita emoção, quando chamei por ela na entrada de sua casa, eu disse: Almerinda, você sabe quem eu sou? Rapidamente ela disse: Martitão (maneira carinhosa como ela me chamava), nos abraçamos e nos beijamos, logo ela foi buscar algumas fotos minhas e do meu irmão e o cartão do Hotel Rio Branco, local onde trabalhou vários anos e que tantas saudades e recordações lhe traziam.
Tiramos muitas fotos juntas e fiz um pequeno vídeo para guardar como lembrança (fiz bem, pois hoje ela está alegrando e cuidando dos meus tios no céu).
Estive várias vezes em Mangaratiba, pois sempre gosto de resgatar histórias da família, assim pude reencontrar os queridos Dr Cícero e Dona Neuma (grandes amigos da família) e seus queridos filhos Suiam, Daíse e Célio, com quem tanto curti minha infância.
Em minha casa tenho uma peça que pertenceu ao Hotel Rio Branco e que guardo com muito carinho e cuidado.
Hoje Mangaratiba possui um museu, onde a história do Hotel faz parte do seu acervo.
Lembro como se fosse hoje o momento da chegada da minha pimoneta e inclusive tenho fotos com ela, que saudades daqueles lindos tempos.
Hotel Rio Branco, um lugar para ficar na memória para sempre, lugar onde vivi com meus pais biológicos e meus pais de criação, lugar de muitas e muitas histórias que ficarão guardadas para sempre em minha memória e coração.
Esta é mais uma bela homenagem feita para mim no blog, tantas histórias e lembranças gostosas onde posso resgatar momentos inesquecíveis.
Obrigada por existir em minha vida e por me fazer tão feliz.
Te amo, Te amo, Te amo, Te amo, Te amo!
SEM COMENTÁRIOS… SIMPLESMENTE LINDO DEMAIS… MEUS PARABÉNS AO AUTOR E A ANIVERSARIANTE… ME FALTAM PALAVRAS DE TANTA EMOÇÃO…
Quando me perguntam como faço para compor estas histórias, digo sempre que conto com as pessoas e seus relatos, mas sem dúvida que todo escritor tem algo muito precioso que ele desenvolveu com o tempo: a empatia. Empatia é a capacidade de se colocar no lugar do outro, buscando sentir o que se passou em determinado momento.
Essa qualidade é que possibilita reconstruir o passado a partir de fragmentos que lhe chegam às mãos. Assim tentamos dar unidade, formar um todo, como um tecelão que produz sua colcha de retalhos, juntando os pedacinhos que o destino caprichosamente costurou entre os antepassados: bisavós, avós, pais, filhos, tios, primos e agregados.
A sensibilidade e a dedução se encarregam de dar liga na ação dramática dos personagens e assim a história vai ganhando forma (confesso que ainda estou no processo de aprendizagem, pois há muito o que aprender).
Conheci o tio Pito, tia Vida, tia Yolanda, assim com também fui muitas vezes a Mangaratiba e lá conversei com muitos dos personagens das histórias que escrevi aqui no Bollog. Algumas pessoas ainda vivem, e tem o museu que exibe inúmeras fotos do passado da cidade.
Pelas muitas fotografias que a família guarda, percebo que muitas histórias podem ser contadas, mas essas ficam para uma outra hora.
O mais importante é resgatar estes momentos lindos, pois assim podemos revivê-los inúmeras vezes, além de compartilhá-los com todos os leitores do blog.
Algumas lembranças gostosas da infância a gente não esquece.
Aprendi a pedalar com a bicicleta de um amigo. Como havia ficado viciado passei a pedir uma para meu pai, mas a vida andava muito difícil, pois ele não tinha emprego fixo e vendia frutas na rua, numa carroça puxada a burro.
Depois de tanta insistência, ele conseguiu numa barganha uma “meia” bicicleta pra mim, já que ele não podia comprar uma nova.
Lembro que o quadro era enferrujado, o selim era desgastado e o guidão já havia perdido boa parte do prateado. A corrente estava endurecida e os pneus estavam carecas.
Para fazê-la andar, deu o que fazer. Tivemos que achar alguém para dar uma geral e ainda meu pai teve que comprar alguns itens que faltavam. Comprou também freios novos, para lamas e raios para as rodas.
Depois que ela ficou pronta, também não quis para de pedalar.
Ela passou a ser uma paixão.
A magrela hoje é minha companheira de competições e vou pro trabalho com ela também.
Hoje eu mesmo monto e conserto minha bike.
Muito boa sua história, também gostei muito.
Que bom que a memória de sua infância continua bem viva em você.
Infância bem vivida, inocência, amor, amizade e coleguismo. Valores que nos dias de hoje já não faz parte da vida de crianças e adolescentes.
Muitos jovens preferem ou são levados para um mundo virtual, de amizades já sem a mínima inocência.
Aprendizado fútil e incerto, à base do Google, que diz que sim ou que não.
Dei sorte na minha infância também e tenho 1000 recordações dessa fase infinitamente rica.
Azar fica por conta da nova geração, que se recorda no máximo de softwares e seus bugs, afastando-se cada vez mais do próprio ser humano, encrustado em cada um de nós.
Mil vivas para nossas recordações familiares e ternas!
Nossas primeiras bicicletas… quanta recordação, me lembro que assim que chegou Marta já foi dar uma volta em frente ao Hotel Rio Branco, que por sorte hoje é tombado pelo patrimônio histórico. Muita coisa ocorreu lá desde os hóspedes da Mendes Junior, que lotavam o hotel, até os jogos de buraco bem disputados com amigos da cidade. Todos gente muito boa… às vezes misturados a desentendimentos de jogo, mas não que isso fizesse romper os laços de amizades.
Eu, numa das minhas voltas pela praça, que fica bem em frente, um dia caí da bicicleta e quebrei o cotovelo, que teve que ser engessado.
Naquela época ter uma bicicleta dessas era um privilegio de poucos, me recordo perfeitamente que eu gostava muito de mergulhar do píer de onde saiam os barcos para Paraty e naquela época podia-se deixar a bicicleta em qualquer lugar sem ter que travar com correntes ou cadeados, porque ali não havia roubos de bicicletas, bons tempos.
Almerinda era uma super mãe que levantava cedo par nos dar café para irmos estudar em Itaguí, que fica após Mangaratiba, a caminho do Rio de Janeiro. Às vezes ficávamos no ônibus atolado quando chovia muito, pois a estrada era de terra.
Ao chegarmos da escola almoçávamos e íamos andar de bicicleta, rodeando a praça em frente ao hotel.
No colégio Coronel Moreira da Silva, no começo fomos alvo de piadas, pois fomos alfabetizados em espanhol para depois aprender o português, fato o qual hoje em dia nos faz falar bem o espanhol.
Dona Maria era uma excelente cozinheira, que sempre deixava nosso almoço pronto, pois chegávamos tarde da escola de Itaguaí.
Época boa do hotel Rio Branco que podia se dormir de janelas e portas abertas, fato o qual hoje em dia não podemos fazer mais isso.
Muitas lembranças de todos que frequentavam o hotel, sempre aos finais de semana.
Yeres e Marita apareciam por lá que era uma alegria para a tia Inayara.
Primeiro vim eu de Buenos Aires e logo em seguida na rural azul e branca fomos buscar Marta.
Linda Rural que fazia sucesso no mercado municipal do Rio, onde se faziam as compras para abastecer o hotel. Me lembro de muitas vezes ter ido ao mercado no Rio com o tio Mario…
Tempos bem vividos, que jamais voltam… o que foi ontem já não é o mesmo de hoje, mas uma época inesquecível.
Mario Carlos Fernandez.
Minha primeira bicicleta é um presente inesquecível.
Existem momentos em nossas vidas que jamais serão esquecidos.
Tenho uma vaga lembrança de uma pequena bonequinha que ganhei (Luci), que
usava um vestidinho amarelo com a beiradinha azul, e um belo jogo de panelinhas que
marcaram bem minha vida.
Às vezes pequenas coisas ficam na memória como se fosse um tesouro que jamais será
perdido e esquecido e isso ninguém poderá tirar de nossa mente.
Falar de bicicletas e bonecas hoje não é tão atrativo, pois os jogos eletrônicos tiraram o gosto inocente dos presentes. Sou de um tempo em que ganhar uma bicicleta de presente era pra poucos abastados. Lembro que quando queríamos pedalar, nos utilizávamos do aluguel, que era bem comum na época. Juntávamos o dinheiro e, de acordo com nossas economias, podíamos ficar horas pedalando. O dono não pedia documentos, pois não era comum alguém ter uma bicicleta em casa. Como justificar o aparecimento de uma? Como todo o menino da época, a nossa vontade de pedalar era maior do que o medo de cair, por isso, não demorava muito a se firmar no guidão. A cada parada sempre havia o transtorno de ter de encontrar uma base mais alta para o apoio dos pés, visto que a bicicleta era para adultos. Contudo, lembro ainda da sensação de liberdade que me deu ao sair pedalando pelas ruas do meu bairro. Tempo bom. A bicicleta era um item cobiçado de consumo, e quando meu filho nasceu foi o primeiro presente que lhe dei, porém só mais tarde foi que eu percebi que havia roubado o direito do meu filho desejar ter uma.
Lembro-me que no hotel Rio Brancas todas as roupas de cama e banho dos hospedes eram brancas , lavadas no próprio hotel, naquela época não havia serviço terceirizado.
Eu dormia no quarto numero um em frente à sala de vários jogos de cartas.
Era uma época que não havia campanhas contra o cigarro e todos fumavam muito.
Tio Mario sempre na janela e tomava vários copos de café com leite no dia.
Todas as louças no café da manhã e do almoço (não se servia jantar) eram todas brancas.
Naqueles tempos o banco que ficava a uma quadra do hotel ia até o hotel recolher dinheiro para ser depositado em conta corrente.
Época que não havia internet, celular, tablet, facebook twiter, skype etc… mas havia mais harmonia e as pessoas se falavam uma com as outras , coisa bem diferente dos dias atuais.
O fogão comandado por Dona Maria era a lenha.
Os preços de hospedagem eram anotados em um quadro negro com giz num pequeno escritório que tio Mario comandava.
Os móveis e alguns quadros que na época já eram antigos nos dias atuais devem valer muito.
Por hoje é só… mais recordações virão.