Bem-me-quer
BEM-ME-QUER OU MALMEQUER?
Parecia que todas as dúvidas do mundo de pronto povoaram sua cabeça.
E aquela ansiedade desmedida devorava tudo lá por dentro. Roubava-lhe o sossego, vindo a pôr descompasso no seu coração.
As poucas certezas, naquele então, quedaram balançadas.
Roía os cotocos das unhas, enquanto observava o menor dos bem-te-vis se deter sobre um botão cor-de-rosa.
Qual o porquê daquele encontro? Será porque me descobriu feia e agora quer dar cabo dos meus sonhos?
Deteve-se para despetalar um bem-me-quer. Insegura, quis apegar-se à crendice da voz mais sábia da família.
No sufoco, recorria às falas da avó, o que a remetia às suas inesquecíveis águas-de-colônia, coisas antigas, do arco-da-velha.
Dizia ela: “- Minha filha, você sabia que se começar com “malmequer”, acaba sempre bem?”.
Resolveu seguir o conselho.
Dito e feito, a trama funcionou.
Agora mais tranquila, desacelerou o coração.
Por quanto viajasse nas ideias, foi tirada do transe por um vaga-lume apressado, que lançou uma espécie de estrelinha no lusco-fusco daquela parte do quintal malcuidado. Deu-se conta que na verdade o pequeno inseto fugia dos louva-a-deus esfomeados que zanzavam por ali.
Na boca da noite, sabia que teria que correr, tomar tento, fugir daquela pasmaceira, senão perderia a hora.
Enfrentar o Fera, como os amigos o chamava, e, por que não também, suas feras mais ocultas.
Se não fosse, como haveria de saber? Chega de fugir de tudo, pensou consigo mesma, aquilo era jeito de enfrentar a vida, tendo sempre a porta dos fundos como saída?
Correu pro espelho, precisava dar um jeito naquilo que via.
Vestiu-se como nunca e se fez bela como sempre.
Apertou o passo, pois que teria muitas ruas pela frente, até chegar ao Paço da Glória.
A caminho, antenada com o vaivém de carros e pessoas, ainda ela achava tempo pra pensar no que a mãe havia falado:
“- Filha, fique calma, tudo vai dar certo. Genaro é homem de bem e trabalhador. É gente séria, disse-me um dia que tinha feito um bom pé-de-meia para um dia desposar uma jovem linda como você”.
Com a confiança mais em alta, avistou o amado próximo ao parapeito que dava vista pro mar. Fora ali mesmo que o conhecera, numa tarde ensolarada de domingo.
Ele parecia nervoso, andando irrequieto.
Ao vê-la, correu ao seu encontro.
Já bem pertinho, percebeu que ele transpirava muito, havendo um certo temor no seu olhar.
E, antes que mais medo roubasse todo seu encanto, ele disparou:
– Divina, tu quer casar comigo?
Ao escutar aquela fala, ela perdeu a voz, e seus olhos eram poças d’águas reluzentes.
Numa alegria incontida, seu rosto fechado se abriu em riso, dando espaço a mais gostosa das gargalhadas.
– Sim, sim, sim… é tudo que quero!
Muito feliz, ele a agarrou suavemente e lhe deu o abraço mais doce do mundo.
E, ali mesmo, selaram o compromisso, ainda informal, com um interminável beijo.
No fim, aquele mar de incertezas se acabou de modo mais-que-perfeito.
Linda historia de amor.
Até a certeza de que nossos sentimentos estão sendo correspondidos, vive-se momentos de apreensão. O belo texto retrata com riqueza o cenário do início de mais uma bela história de amor. Me vi preso na aflição de Divina e feliz com o almejado desfecho.
Como isto me faz recordar do calçadão do cinema da minha cidadezinha. Era ali, na sombra de uma velha figueira, que minhas amigas e eu confidenciávamos nossos amores e desamores. Quantas vezes desfolhamos o malmequer, dizendo com a voz e a alma cheia de esperança: “Bem-me-quer, malmequer, bem-me-quer…”.
Bons tempos.
Obrigada.
Ola José Não consigo gravar comentário no blog. A senha não confere nunca!! Assim posto aqui mesmo… Linda história continue sempre assim… a buscar inspiração nas coisas especiais da vida: como o amor por exemplo!! Namastê…
Esse conto me fez relembrar dos tempos em que ficava com minhas amigas brincando de “bem-me-quer, malmequer”, que tempos gostosos onde sonhar era uma constante.
Que delicia lembrar do amor conquistado, do amor esperado e de cada momento vivido assim como o de Divina.
Reviver a ansiedade do encontro, o primeiro beijo, a espera de um telefonema, a troca de bilhetes, das poesias, das juras de amor.
O amor que tudo pode e que deve estar presente sempre em nosso coração.
O amor que deve ser conquistado e regado todos os dias.
Aproveito este lindo conto para dizer ao meu marido o quanto ele é importante para mim, o quanto agradeço a Deus por ele existir e fazer parte da minha vida.
Tenha sempre a certeza que Você é muito, mas muito especial, o melhor presente que ganhei na vida.
Te amo para sempre.