Análise de Letra de Música
MÚSICA DE CARNAVAL
Muitas marchinhas são conhecidas de cor por milhões de brasileiros. Elas fazem, há quase 120 anos, a cabeça dos foliões nos clubes ou ruas das cidades brasileiras. Ô, Abre Alas, de Chiquinha Gonzaga, foi a primeira música feita para o cordão carnavalesco Rosa de Ouro, em 1889.
Para mim, a mais especial de todas é a marchinha MÁSCARA NEGRA.
Claro que o Carnaval não vive só das marchinhas, no Rio de Janeiro – o cenário maior do Carnaval -, o samba-enredo ocupa um lugar de destaque, pois, sem ele não há o desfile na Sapucaí. Muitos sucessos das escolas de samba também ganharam voz popular, dentre eles temos alguns inesquecíveis: É Hoje; Domingo; Bumbum, Paticumbum, Prugurundum; De Bar em Bar e muitos outros.
Já o Frevo incendeia os corações pernambucanos, alucinando milhões de seguidores de famosos blocos (Galo da Madrugada é o mais conhecido) pelas ruas de Recife e Olinda, principalmente.
Em Salvador, o Carnaval tem uma faceta distinta. Lá o que embala a todos são os carros de som, chamados de trio elétrico, que tocam a envolvente axé-music. Como diz a letra de um famoso hit: “atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu…”
Voltando às marchinhas, elas são feitas com letras curtinhas, normalmente narrando um pequeno episódio, situação engraçada ou triste.
Escolhi MULATA BOSSA NOVA para a minha prosa, mas poderia ter sido outra, tal como CHIQUITA BACANA, SACA-ROLHA ou MAMÃE EU QUERO.
Vamos à letra:
MULATA BOSSA NOVA
Mulata bossa nova
Caiu no hully-gully
E só dá ela
Ê ê ê ê ê ê ê ê
Na passarela
A boneca está
Cheia de fiu-fiu
Esnobando as louras
E as morenas do Brasil.
Uma mulata muito linda, Miss Guanabara, foi a musa inspiradora desta linda composição de João Roberto Kelly. A jovem era Vera Lúcia Couto, que ficou em segundo lugar no Miss Brasil, no ano de 1964, e quase recebeu da gaúcha Ieda Maria Vargas, Miss Universo, a coroa do primeiro lugar.
A plateia se envolveu na eleição com aplausos e até “fiu-fiu”, embriagados pela beleza da moça, ao som do “Hully-gully” (tipo de dança e música das décadas de 50-60).
Ela derrotou muitas outras mulheres lindas de várias partes do Brasil, “as louras e as morenas”.
Segundo depoimento do próprio autor: “Um dia eu fui a um concurso de Miss Brasil no Maracanãzinho e vi um mulata, quase negra, evoluindo maravilhosamente com um “pisar” de passarela muito elegante, muito fora inclusive dos padrões adotados por mulatas que encaravam qualquer movimento de passarela. Eu olhei e disse: – Que moça diferente, merece ser fotografada numa música”.
Não deu outra, a marchinha foi um enorme sucesso do Carnaval de 1965.
Autor – José Maria Cavalcanti
Adorei este post. Cantamos várias marchinhas e não sabemos nada sobre a letra delas.
Este ano em São Paulo, a escola de samba Tucuruvi homenageou as marchinhas e o samba enredo da escola ficou lindo.
Hoje é a vez do Rio de Janeiro apresentar suas escolas maravilhosas.
Lembrei de um carnaval que passei sendo recepcionado pela minha irmã Lena lá na Praia da Pipa. Como é um paraíso para turista havia quase uma ausência de demonstração carnavalesca. Já era o terceiro dia e nada de ouvir música alguma que desse motivo para pular, cantar, sambar e de se esbaldar de alegria. No fim da manhã ia passando um carrinho de som de um vendedor de CD’s e não contei conversa. Chamei o ambulante e paguei para que ele tocasse alguma coisa de carnaval. – Só tenho um CD de marchinhas, Serve? Ficamos duas horas ao som das belas e imortais composições que embalaram diversos foliões nos mais variados salões de bailes de carnaval. Viva o carnaval!!!! Viva a alegria!!!!
SEMENTES DE SAUDADES PARA O AMANHÃ
Com a globalização das informações e da propagação das danças folclóricas e dos ritmos de expressão corporal predominante em cada estado, impressiono-me ao enxergar como as raízes culturais ficam latentes até surgir a oportunidade de se manifestarem. Mesmo distante da sua terra por mais de uma década e meia, meu pai armazenava informações bem guardadas das expressões de dança de sua cidade natal, Recife. Olhando a multidão de foliões que promovem o belo espetáculo de carnaval pelas ruas da capital pernambucana, entendo hoje que tava na herança cultural a visão dele que insistia em nos levar para participar das matinês de carnaval. O Palácio dos Esportes, ginásio poliesportivo, era o local onde realizava, na década de setenta, o carnaval promovido pela prefeitura de Natal. Havia a matinê que era para a criançada e o baile de máscara para o público adulto. Lembro que no carnaval meu pai comprava sapatilhas para nós, as meninas, e nos levava a matinê. Assim como as minhas irmãs, odiava aqueles calçados, visto que todos usavam o conga colegial, o allcolor, que era a versão colegial mais modernizada ou o desejado bamba, que já era revendido também na versão colorida. Faltava na gente a percepção da visão que tinha nosso pai dos carnavais de Pernambuco, onde o frevo é predominante e as sapatilhas são acessórios indispensáveis para uma boa acomodação dos pés, que são exigidos ao máximo nos saltos e compassos do corpo nesse frenético ritmo carnavalesco, que muito me lembra da dança de capoeira.
Lena – Lembranças dos carnavais de outrora.
Estive em uma cantoria e lá estava se apresentando um músico das antigas. Quando lhe pediram para cantar o sucesso de Pablo, ele tocou a sofrência sem nenhuma reclamação. No final ele disse que sempre houve e sempre vai existir essas expressões populares de música. Lembrou das melodias: …comprei um quilo de farinha pra fazer farofa, fa, fá, e também, ….aonde a vaca vai o boi vai atrás… Ele ressaltou que o que fica na memória são as melodias que marcam os momentos que mexem com o sentimento das pessoas. Como estávamos iniciando o mês do carnaval ele logo começou a cantar as antigas marchinhas e lamentou que as novas composições quase não tinham espaço na mídia. Ele lembrou que antigamente as marchinhas eram transmitidas pela rádio em cadeia nacional e isso reforçava o aprendizado das canções que embalavam, de norte a sul do país, os antigos carnavais. Falou também que achava muito salutar essa multiplicidade das rádios, pois abre espaços para os mais variados gêneros musicais, contudo, como tudo tem efeito colateral, também dificulta a popularização das melodias sazonais. Por fim encerrou a conversa cantando, sendo acompanhado por todos, Bandeira Branca.
Carnaval das antigas muito lembrado no Recife, ou melhor, Pernambuco. É o carnaval naif que lembra a infância, ingênuo, sem malícia, com o intuito do divertimento, a descontração. O frevo que é tocado por aquelas bandinhas de rua,improvisado e sem muito aparato faz com as pessoas caiam na folia de rua . É emoção do início ao fim todo o percurso do bloco. Essa magia leva o encantamento para os transeuntes, devido a leveza das músicas tocadas durante o período de momo.
Parabéns pelo despertar desta marchinha de carnaval que nos remete a nossa infância, e homenageia o grande folião que tínhamos em nossa casa: nosso pai.
Abraços, Zé.