Paulo Vanzolini

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MÚSICA FOLCLÓRICA – CUITELINHO

 

CUITELINHO

Cheguei na beira do porto

onde as ondas se espaia.

As garça dá meia volta,

senta na beira da praia.

E o cuitelinho não gosta

que o botão de rosa caia.

Ai quando eu vim de minha terra,

despedi da parentaia.

Eu entrei no Mato Grosso,

dei em terras paraguaia.

Lá tinha revolução,

enfrentei fortes bataia.

A tua saudade corta

como aço de navaia.

O coração fica aflito,

bate uma a outra faia.

E os oio se enche d’água

que até a vista se atrapaia

Milton Nascimento, Nara Leão, Renato Teixeira, Mônica Salmaso e vários ícones da Música Sertaneja já emprestaram a voz para interpretar essa linda música folclórica da região do Pantanal Mato-grossense e que o Brasil inteiro aprendeu a cantar. Ela foi recolhida por Paulo Vanzolini (autor de Ronda e Volta por Cima, dentre outras), que ouviu seu parceiro de pescarias, Antônio Xandó, recitar seus versos. Esse, por sua vez, reportou que escutara a “moda” na voz de um barqueiro do Rio Paraná. Paulo Vanzolini gostou tanto que fez as adaptações necessárias e completou uma de suas estrofes.

A música fala do sentimento de alguém que deixa sua terra e família para ir à guerra em terras paraguaias. Cada impressão ficou registrada: o mover das marés no porto, o ir e vir das garças à beira do mar e o pequenino beija-flor a sugar o doce néctar das flores. “Cuitelinho” é uma expressão regional do Centro-Oeste para beija-flor, assim como colibri, para algumas outras regiões brasileiras.

Quando a música toca na saudade, já aparece a inserção do letrista paulista, que compara a ausência querida a uma lâmina de aço que corta feito aço de navalha. O desejo é tão grande que os olhos se enchem d1água, que até a vista se atrapalha.

Paulo Vanzolini, depois que a música ganhou espaço na mídia, não resistiu e agregou mais um verso à letra já conhecida, ficando assim a última estrofe: “Vou pegar teu retratinho colocar numa medaia/Com teu vestidinho branco e laço de cambraia/Pendurá bem junto ao peito onde o coração trabaia, ai, ai, ai”.

Vanzolini nunca reivindicou a autoria dessa composição por considerá-la de domínio público, mas seus aportes, vamos todos concordar, tornaram essa pérola regional ainda mais linda.