Beto Guedes
AMOR DE ÍNDIO – UMA TRADUÇÃO
Beto Guedes e Ronaldo Bastos
Tudo que move é sagrado
E remove as montanhas
Com todo o cuidado
Meu amor
Enquanto a chama arder
Todo dia te ver passar
Tudo viver a teu lado
Com arco da promessa
Do azul pintado
Pra durar
Abelha fazendo o mel
Vale o tempo que não voou
A estrela caiu do céu
O pedido que se pensou
O destino que se cumpriu
De sentir seu calor
E ser todo
Todo dia é de viver
Para ser o que for
E ser tudo
Sim, todo amor é sagrado
E o fruto do trabalho
É mais que sagrado
Meu amor
A massa que faz o pão
Vale a luz do teu suor
Lembra que o sono é sagrado
E alimenta de horizontes
O tempo acordado de viver
No inverno te proteger
No verão sair pra pescar
No outono te conhecer
Primavera poder gostar
No estio me derreter
Pra na chuva dançar e andar junto
O destino que se cumpriu
De sentir seu calor e ser tudo
Sim, todo amor é sagrado
ANÁLISE DA LETRA DA MÚSICA
Tudo que move é sagrado/E remove as montanhas/Com todo o cuidado/Meu amor
Para captar melhor o sentimento dos autores desta belíssima canção, necessitamos mergulhar na mente de um índio.
Não só o ar, a água, o fogo que arde, também as montanhas e os animais, tudo é sagrado para ele.
No seu pensar, existe uma força maior que tudo rege e sustenta com sua força em perfeita harmonia.
O índio respeita tanto esse equilíbrio da natureza que até mesmo para subtrair um item, no intuito de saciar a própria fome, pede permissão para o espírito da floresta, antes de abater um peixe ou um animalzinho. Tirar uma vida só se for para suprir sua necessidade mais vital. Ao contrário do homem branco, ele procura preservar todas as coisas, não produzindo lixo, poluindo ou alterando o meio ambiente.
Enquanto a chama arder/Todo dia te ver passar/Tudo viver a teu lado/Com arco da promessa/Do azul pintado/Pra durar
E esse amor entre eles é eterno, enquanto a chama da vida arder no interior de cada um deles. Muitas são as histórias de casais indígenas em que o homem prefere morrer junto à esposa a viver sem ela. Se estava escrito na constelação aquele enlace, deveriam viver juntos sempre e partir também acompanhados um ao outro.
O arco é para o índio sua defesa contra as feras bravias com as quais se defronta. O arco da promessa é uma referência ao arco-íris, que colore o horizonte azul, como o símbolo da promessa duradoura que Deus fez com os homens.
Abelha fazendo o mel/Vale o tempo que não voou/A estrela caiu do céu/O pedido que se pensou/O destino que se cumpriu/De sentir seu calor/E ser todo
Neste exato momento, está ocorrendo um fenômeno mundial: o desaparecimento das abelhas (vejam mais sobre este assunto no link abaixo). Pouco a pouco, elas estão sumindo por conta dos agrotóxicos e outros fatores climáticos. Caso isso venha a ocorrer por completo, será iniciado um ciclo catastrófico para a humanidade. A abelha é tão importante que: “Se não existisse o homem no planeta, nada mudaria. Faltando as abelhas, sem a polinização, seriam extintas a flora e a fauna, não haveria florestas, lagos e rios. A terra seria um deserto”.
Por saber o valor do mel e toda sua utilidade para a saúde, tanto os índios como as civilizações antigas as consideravam sagradas e em alguns países eram vistas como símbolo de riqueza.
http://www.youtube.com/watch?v=yMw7airNWA4
Nos meses mais frios, o céu fica limpíssimo, e a vista do teto celeste noturno é espetacular. Contemplar o firmamento, enquanto se namora, talvez seja um dos momentos mais românticos que exista. Assim como todos nós, os índios também têm o hábito de fazer um pedido quando um estrela risca o céu.
Quando se faz um pedido com fé, tudo se realiza, como nosso destino, principalmente porque são duas mentes irmanadas e focadas no mesmo alvo.
E nada mais gostoso que estar no calor da pessoa amada. O tempo e tudo mais para, nada mais importa. Apenas queremos viver aquele momento único, todo inclusivo.
Todo dia é de viver/Para ser o que for/E ser tudo
Segundo as próprias palavras do Beto Guedes: “Todo dia é de viver/Para ser o que for/E ser tudo” estes versos expressavam o lado primitivo e puro que ainda havia em cada uma das pessoas, como um canto de louvor à vida”.
Sim, todo amor é sagrado/E o fruto do trabalho/É mais que sagrado/Meu amor/A massa que faz o pão/Vale a luz do teu suor
O amor é o sentimento mais lindo. Por amor é que realizamos tudo. Se não fosse o amor, seríamos apenas matéria.
Deus é o próprio amor, e Ele é que nos colocou no paraíso, com tudo disponível para vivermos.
O índio nos ensina até hoje que não é preciso muito para vivermos.
Mas na nossa ânsia de querer mais, fomos expulsos do jardim de Deus, passando a viver do suor do próprio trabalho.
Lembra que o sono é sagrado/E alimenta de horizontes/O tempo acordado de viver
Poucos sabem o valor de se dormir bem. É tão essencial que, além de descansar o corpo e a mente, faz com que a pessoa pense melhor e também emagreça. Quando dormimos bem, estamos contribuindo para previnir o aparecimento de doenças, além de promover o rejuvenescimento.
Na correria que exige nossas atividades diárias, é muito difícil descansar. Com isso, o estresse logo se instala. Por isso, devemos estar ariscos e reservar nosso horário para garantir uma boa noite de sono.
Tomando cuidado com o ambiente da dormida, podemos alcançar o objetivo com seis horas de sono profundo, que podem ser mais eficientes do que oito horas de sono mais leve. Também não vamos exagerar, pois dormir mais que o necessário não é bom e pode ser prejudicial.
Quando dormimos bem, “alimentamos de horizontes o tempo acordado de viver”.
No inverno te proteger/No verão sair pra pescar/No outono te conhecer/Primavera poder gostar/No estio me derreter/Pra na chuva dançar e andar junto
Para quem vive constantemente em contato com a natureza, cada mudança climática é percebida. Os índios e as pessoas mais sensíveis observam melhor as estações e podem senti-las em toda plenitude.
Por isso é que os quatro períodos climáticos são vividos de forma especial pelos amantes.
Quem ama quer estar agarradinho, principalmente com as temperaturas mais frias do inverno. Já o clima mais quente do verão é um convite pra sair do aconchego. Parece que o sol nos reenergiza, e é tempo de correr, de pular e de pescar. No outono, as noites são mais longas que o dia e são apropriadas para um “conhecer” melhor o outro. Aqui as temperaturas voltam a cair, assim como as folhas, e é tempo da colheita em muitas partes do mundo. Quando chega a primavera, inicia-se um novo ciclo. Tudo se enche de cores, como se a natureza fizesse festa.
Festa maior faz o índio quando as chuvas chegam. Eles até têm a dança da chuva, quando ela tarda para chegar. Quem mora nas cidades, na selva de concreto, não dá muito valor a este bem indispensável à natureza.
O destino que se cumpriu/De sentir seu calor e ser tudo/Sim, todo amor é sagrado
O amor entre os indígenas é tão puro e sublime que é determinado pelo encontro ocorrido entre eles desde o nascimento, segundo a configuração das estrelas no firmamento, no exato momento em que vieram a existir, como homem e mulher. Eles já crescem sabendo dessa predestinação e se enamoram, e se casam, e são felizes para sempre.
Para eles, o amor é sagrado.
Autor José Maria Cavalcanti
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Amor de Índio – Para os fãs do Milton Nascimento
Amor de Índio – Para os fãs do Roupa Nova
Puxa, é a mais linda tradução de uma das letras mais marcantes de Beto Guedes. Esta, especialmente, na companhia de Ronaldo Bastos, que nos fala do Amor de Índio com sua maneira amorosa de se relacionar com a natureza.
Alice
Essa bela tradução nos faz ver a intensidade com que o músico, cantor e compositor Beto Guedes, com toda a sua sensibilidade, adentrou no viver natural dos povos indígenas. Quando era estudante, sempre cantarolava: “Quando entrar setembro e a boa nova andar nos campos…”, pois assim anunciava, com ansiedade, o mês do meu natalício. Coisa de adolescente, mas a bela Sol de Primavera é mais uma das preciosidades desse poeta que encantou toda uma geração.
Que belíssima interpretação, ela nos faz refletir em muitas coisas da nossa vida, no amor, na natureza, no sentimento.
Essa bela canção de Beto Guedes nos faz pensar com mais carinho no Índio que sabe amar e respeitar a natureza.
É muito gostoso ler essas interpretações, pois valorizamos e entendemos melhor a letra da música.
Nossa! Que interpretação maravilhosa e mais sensível. Você superou meu amigo Cavalcanti.
Acredite! Amei, amei, amei!! Beto Guedes é showww…! Agora mais ainda depois de ter lido na íntegra e ter refletido a mensagem que ele quis com esta letra. Linda música e que feliz escolha.
O trecho que faz o comparativo entre o homem e a abelha…que espetáculo!! Precisamos estar mais sensíveis, isto é FATO!
Ontem mesmo quando saia de meu trabalho, a lua me chamou a atenção de tão linda estava e viva cor, parecendo prateada, mas era tão forte sua nitidez que por segundos viajei naquela imagem e ainda comentei e chamei a atenção de meus colegas para que olhassem aquilo. Um espetáculo a olho nu e que lamentavelmente não temos tempo para apreciar com o devido merecimento.
Esta música agora fará com que eu seja mais vigilante à natureza que Deus presenteou-me e que faz teu show diariamente com entrada franca, sem bilheteria. Com direito a milagres contantes. Obrigada Aba!
Amei também quando citou as 4 estações: Puxa que forma mais fiel de viver cada uma delas. Quero isso pra mim, viver cada estação de forma prazerosa e desfrutar dali, daquele momento, porque hoje vivemos o inverno pensando no bom que seria estarmos no verão das praias e quando está muito quente, queremos viver o frio gostoso do inverno.
Viver é simples de fato. O complicado somos nós.
Acorda bicho homem!! kkkk….
Bauces José Maria Cavalcanti, arrasou na interpretação. Uma das que mais amei ler. Parabéns por sua capacidade de expressar em seus textos. Bauces!
Os poetas, em suas inúmeras composições, sempre nos alertam para a importância de estarmos sintonizados à fauna, à flora e ao amor, utilizando-se de suas melodias para mobilizar seu povo na direção do que é certo e expõe as injustiças para conclamar a indignação.
“De que adianta ir a igreja rezar e continuar fazendo tudo errado” – (Fernando Mendes).
Lembrei de um ditado chinês que diz: “Basta apenas que todos limpem a frente de sua casa para o mundo ser bem melhor”. Então, é hora de fazer a nossa parte.
É impressionante a forma sensível como Beto Guedes passa seu recado para nós. Foi assim muito tempo com seus temas musicais inesquecíveis.
Mas tenho que confessar que Amor de Índio sempre foi a minha predileta. Agora vejo minha compreensão dessa letra linda aumentar em mim depois dessa bela interpretação.
Parabéns!
Dalvinha
Beto Guedes continua aquela figura tímida no palco e sua poesia intacta. O repertório é indiscutível, algumas das mais belas canções estão presentes, entre elas, Amor de índio, entre outras pérolas, como O sal da terra. Mas, essa composição em particular nos lembra que este planeta é nossa casa e que precisamos ser fraternos, gerar ações que nos levem ao bem comum. Este ano a Campanha da Fraternidade teve como bandeira a Fraternidade e a Vida no Planeta e o lema foi “A criação geme em dores de parto” (Rm 8,22). Claro que essa campanha não é uma utopia e sim um alerta para a humanidade que chora ao ver a terra gemendo. Precisamos ter empatia pela dor do outro e se cada um de nós fizer sua parte teremos um futuro melhor. Para isso cantarolo com os inúmeros interprétes de “Amor de índio”: “Sim, todo amor é sagrado”.
Tudo seria mais fácil se compreendêssemos a importância da preservação ambiental, como a melhor forma de proporcionar um bem-estar coletivo. Sei que é difícil não gerar lixo, mas quase tudo pode ser reciclado ou reutilizado. Essa música, com essa interpretação maravilhosa, nos faz refletir sobre o assunto e propõe nos incluir na luta.
Os índios conhecem a natureza e a respeitam. Eles não esgotam suas riquezas. Não matam os animais por prazer, mas caçam e pescam apenas o suficiente para a alimentação. Tiram da natureza só o que é indispensável para a vida e à sobrevivência. Esse respeito pela natureza permite que ela se refaça e não se esgote.
Os índios, depois de utilizarem uma terra por algum tempo, mudam-se para outro lugar, dando assim tempo para que as plantas nasçam e cresçam de novo, e o solo se recupere. Mais tarde podem voltar a utilizar o mesmo local.
Quando se está em Deus, não se tem a necessidade de buscá-Lo fora. O índio vive de forma tão harmoniosa com a natureza e com todas as criaturas que a ideia de um templo para buscar o divino é inconcebível. Deus já está nele e em todas as coisas: no céu, nas estrelas, no rio, na floresta, nos animais e também na pequenina abelha, que lhe dá o mel, um poderoso e completo alimento.
Deus demonstra todo seu amor para com suas criaturas, provendo suas necessidades e protegendo-as. O índio, por sua vez, retribui esse amor divino, harmonizando-se com Ele, que é o todo.
Esta análise da música do Beto Guedes e Ronaldo Bastos me fez lembrar do livro A Semente da Vitória, de Nuno Cobra. Lá aprendi a valorizar o sono, dormir oito horas e acordar sem despertador, tudo para ter uma melhor qualidade de vida.
Nuno conta a história de um de seus pacientes que tinha três empregos, tomava muito remédio para equilibrar suas taxas e estava quase a ponto de entrar em colapso.
A primeira coisa que Nuno Cobra perguntou para ele foi: “Quantas horas você dorme por dia?”. A resposta foi cinco. Então o escritor disse para ele: “Para largar todos estes remédios, eu quero que você deixe pelo menos um de seus empregos e durma oito horas por dia”. Depois de relutar muito, o cara largou uma das suas fontes lucrativas e passou a dormir sete horas. Quando ele largou mais uma atividade e completou as oito horas, ele percebeu que sua saúde estava voltando. Já não necessita mais tomar remédio para pressão, tampouco para colesterol alto e o estresse foi embora.
Na música, os mineiros soltam uma pérola para todos nós: “…lembra que o sono é sagrado/E alimenta de horizontes/O tempo acordado de viver.” Como ter um amanhã gostoso sem dormir bem. Puxa, quantas pérolas em cada verso desta belíssima música!
Carlos
A letra é pura poesia, é como o AMOR nunca é demais, amar e ser amado como amor de índio.
Música lançada em 1978 que já foi idolatrada por gênios da MPB.
Existe um livro chamado Amor de índio, de Januaria Cristina Alves
Caubi e Jaci, que foram amigos na infância, tornam-se namorados.
Certo dia, uma guerra entre os brancos é travada pela tribo, e os dois se separam.
Viva vida!
Viva o índio!
Viva o sagrado!
Mario Carlos Fernandez.
Amor de índio, uma das músicas mais belas de Beto Guedes, e na interpretação de Milton Nascimento, maravilhosa. Quem pode esquecer um disco tao belo como o Clube da esquina, maravilhoso duplo Lp. Muito belas também as fotos do video; e também a versão do Roupa Nova. Um grandíssimo abraçao meu irmão, prazer en ouvir esta bela música con uma poesía grandiosa
Um amor compreendido e respondido te deixa idiota,tudo passa a ser uma maravilha. Você olha as coisas com um otimismo sem igual porque nada mais importa, apenas estar com essa pessoa.
Claro que não estou dizendo que tudo vale a pena, só estou fazendo um comparativo inicial de valores (Sim, tudo que se move é sagrado…).
A culpa, não a responsabilidade, porque o mundo é assim mesmo e tudo é tão maior que você e eu juntos.
A estrela que eu escolhi não cumpriu com meu pedido, e hoje não a encontrei, pois caiu no mar, e se apagou.
Simplificando ainda, imagine que os cocos crescem sozinhos sem que nosso amigo precise plantar mais palmeiras.
Meu amigo, gostei muito dos seus contos e poesias, e esta análise de Amor de ìndio mexeu com meu coração mineiro.
Grande abraço!
Túlio
Muito lindo! Poder tirar um pouco do meu tempo e dedicar minha atenção nessa canção e interpretação que acabo de ler 😀 Parabéns a o autor dessa linda canção!
O que hoje em dia soam como canções ingênuas representaram um certo tipo de rebeldia para os padrões morais de sua época.
Obrigado achei maravilhoso etc matéria, é coisa pra ser guardada no fundo de um baù, sou apaixonada por fatos e relatos deste tipo. Só tenho a tí agradecer por ter lembrando de mim mesmo sem saber se eu gostava deste cenario maravilhoso que é o nosso Brasil com s ou com z, cheio de riquezas que seu próprio filhos desta terra não percebe está riquezas maravilhosa e que as vezes precisamos ver os estrangeiros valorizando nossa terra e nossa riquezas e mesmo assim não conseguimos ver as riquezas que nosso país tem porque. So estrangeiro tem esta visão, talvez faça parte de dois fatores a formação Cultura e Educação. De todo os comentários que citei eu também faço parte. Obrigado mais uma vez por ter lembrado de mim.
eu também faço parte
Perfeito
Meio que desviou um pouco quando falou de abelhas e se prendeu demais no conceito undigena de vida que é pano de fundo. A abelha fazendo o mel vale o.tempo que não voou; dito pelo próprio autor, se refere ao tempo em que ele fazia engenharia e estudava muito é os amigos só se divertiam. Depois: No inverno te proteger… pra na chuva dançar e andar junto é cada etapa da vida, cada desafio superado e poder finalmente desfrutar ao amor ao lado de quem se ama. Como um indio! Minha musica predileta e só vejo falar de amor incondicional quase religioso e pagão!
Belíssima letra, e sábia interpretação, não sei se hj depois de mais de 40 anos dessa belíssima composição , com tanta tecnologia , corrupção, e miséria todo Índio ainda seja Índio! Que bom seria se fossem, que bom seria que ainda estivessem Terra ( suas terras).