Gilberto Gil
Gilberto Gil
O AMOR É GRÃO SEMENTE DE ILUSÃO
DRÃO
O amor da gente
É como um grão
Uma semente de ilusão
Tem que morrer pra germinar
Plantar nalgum lugar
Ressuscitar no chão
Nossa semeadura
Quem poderá fazer
Aquele amor morrer
Nossa caminhadura
Dura caminhada
Pela noite escura…
Drão!
Não pense na separação
Não despedace o coração
O verdadeiro amor é vão
Estende-se infinito
Imenso monolito
Nossa arquitetura
Quem poderá fazer
Aquele amor morrer
Nossa caminhadura
Cama de tatame
Pela vida afora
Drão!
Os meninos são todos sãos
Os pecados são todos meus
Deus sabe a minha confissão
Não há o que perdoar
Por isso mesmo é que há de haver mais compaixão
Quem poderá fazer
Aquele amor morrer
Se o amor é como um grão
Morre, nasce trigo
Vive, morre pão
Drão!
Drão!
POR TRÁS DA LETRA: DRÃO – GILBERTO GIL
“O compositor escreveu a música em 1981, poucos dias depois da separação. A letra é uma parábola sobre o amor, que não morre – e sim, se transforma. Assim como o trigo, ele nasce, vive e renasce de out…ra forma. Há referências à cama de tatame onde o casal costumava dormir (“cama de tatame pela vida afora”) e aos três filhos frutos do relacionamento deles (“os meninos são todos sãos”).
O curioso é que o próprio Gil era um dos poucos da roda de amigos que não chamava a mulher de Drão. Ele e Caetano a chamavam de “Drinha”.
O apelido foi dado por Maria Bethânia. Drão vem do aumentativo de Sandra, a terceira mulher de Gilberto Gil. Ao virar título de um dos maiores sucessos do compositor, o apelido incomum sempre foi confundido com a palavra “grão”. Sandra Gadelha desfaz o mal-entendido e se assume como inspiração dos versos densos, compostos em 1981, em plena separação do casal. Gil diz que foi bem difícil escrever a letra, uma poesia profunda e sutil do amor e do desamor. “Como é que eu vou passar tanta coisa numa canção só?”, questiona-se Gil no livro “Gilberto Gil-Todas as Letras” (Cia. das Letras). Os dois foram casados por 17 anos e tiveram três filhos: Pedro, Maria e Preta. Hoje, aos 53 anos, Sandra mora sozinha no Rio, sonha em montar uma pousada e se lembra com carinho da canção que marcou o fim de seu casamento. Por uma feliz coincidência, Sandra costuma ouvir sempre a “sua” música no rádio do carro. Uma emissora carioca parece estar programada para tocá-la todos os dias, às 11h. A ouvinte especial está sempre sintonizada. Sandra Gadelha: “Desde meus 14 anos, todo mundo em Salvador me chamava de Drão. Fui criada com Gal [Costa], morávamos na mesma rua. Sou irmã de Dedé, primeira mulher de Caetano. Nossa rua era o ponto de encontro da turma da Tropicália. Fui ao primeiro casamento de Gil. Depois conheci Nana Caymmi, sua segunda mulher. Nosso amor nasceu dessa amizade. Quando ele se separou de Nana, nos encontramos em um aniversário de Caetano, em São Paulo, e ele me pediu textualmente: ‘Quer me namorar?’. Já tinha pedido outras vezes, mas eu levava na brincadeira. Dessa vez aceitei.
Engraçado que Gil mesmo não me chamava de Drão. Antes havia feito a música ‘Sandra’. Já ‘Drão’ marcou mais. Estávamos separados havia poucos dias quando ele fez a canção. Ele tinha saído de casa, eu fiquei com as crianças. Um dia passou lá e me mostrou a letra. Achei belíssima. Mas era uma fase tumultuada, não prestei muita atenção. No dia seguinte ele voltou com o violão e cantou. Foi um momento de muita emoção para os dois.
Nos separamos de comum acordo. O amor tinha de ser transformado em outra coisa. E a música fala exatamente dessa mudança, de um tipo de amor que vive, morre e renasce de outra maneira. Nosso amor nunca morreu, até hoje somos muito amigos. Com o passar do tempo a música foi me emocionando mais, fui refletindo sobre a letra. A poesia é um deslumbre, está ali nossa história, a cama de tatame, que adorávamos. No começo do casamento moramos um tempo com Dedé e Caetano, em Salvador, e dormíamos em tatame. Durante o exílio, em Londres, tivemos de dormir em cama normal. Mas, no Brasil, só tirei o tatame quando engravidei da Preta e o médico me proibiu, pela dificuldade em me levantar.
A primeira vez em que ouvi ‘Drão’ depois que Pedro, nosso filho, morreu [num acidente de carro em 1990, aos 19 anos] foi quando me emocionei mais. Com a morte dele a música passou a me tocar profundamente, acho que por causa da parte: ‘Os meninos são todos sãos’. Mas é uma música que ficou sendo de todos, mexe com todo mundo. Soube que a Preta, nossa filha, chora muito quando ouve ‘Drão’. Eu não sabia disso, e percebi que a separação deve ter sido marcante para meus filhos também. As pessoas me dizem que é a melhor música do Gil. Djavan gravou, Caetano também. Fui ao show de Caetano e ele não conseguia cantar essa música porque se emocionava: de repente, todo mundo começou a chorar e a olhar para mim, me emocionei também. E, engraçado, Caetano é o único dos nossos amigos que me chama de “Drinha.””
FONTE: Rosane Queiroz – Revista Marie Claire
Achei interessante que Gilberto Gil começa a letra evocando o nome da amada: “Drão”.
No início ele quer tocar a mente de Sandra, com uma exposição de motivos para salvar seu casamento e tudo que ela deveria levar em conta, antes da decisão de se separar.
Depois, no final, a mesma palavra “Drão” soa como súplica, um último clamor de quem está morrendo junto com esse amor.
Este último chamamento é destinado ao coração.
Sabemos que tudo foi em vão, mas os fãs do cantor ganharam mais uma pérola.
Grande Gil!
Gosto muito de música, principalmente de cantores nacionais.
Gilberto Gil é para mim o maior compositor brasileiro, não só por suas belas melodias, mas também por sua capacidade de se atualizar e de trabalhar a modernidade e suas novas linguagens. O rompimento de um relacionamento é o combustível perfeito para aflorar a mente do poeta, pois como diz Vinícius “poeta só é grande se sofrer”. Todavia foi na alegria que ele compôs a sua maior pérola, A Linha e O Linho, que foi feita em uma suíte de hotel em paris enquanto observava sua atual esposa dormindo.
Lindo!!!!
Bjs elaine
_____
Confesso que na época não compreendi a letra, mas agora (depois de tanto tempo) tudo ficou claro.
Mulher maior e cheia de atitude.
Ela não foi nada “Drinha”, foi toda “Drão”!
Deslizes acontecem, mas quando o cristal se quebra, quem é que pode remendar…
Neuza
Lindo relato que nos mostra o verdadeiro amor.
“O amor tinha de ser transformado em outra coisa”, e acho que essa outra coisa foi muito maior.
Mesmo após separados o amor entre eles segue não de homem para mulher mais de duas pessoas que tem uma história de vida para contar.
Mesmo sendo uma música feita após a separação ela marca até hoje a vida de Drão.
É muito interessante perceber a outra dimensão que a música ganha após saber o significado e importância que ela representa.
Muitas vezes ao ouvir uma música cada um de nós a interpreta de uma maneira única e pessoal mas é muito interessante saber o verdadeiro significado.
Viver com a amada, semente, deixá-la virar flor, morrer e germinar
não é para todo mundo, a maioria de nós trancaria a semente em uma caixa,
impedindo-a de se transformar com medo dela se revelar.
Gil sempre soube a hora da semente germinar e de se transformar, sem medo de
se desapegar e deixar voar o pólen do amor.
Como diz o apóstolo Paulo em sua carta aos Coríntios: …se não houver amor eu nada seria…
O casamento deve ser regado diariamente pelo néctar desse sentimento maior e quando já não mais existir amor nada mais honesto que sair da falsa ilusão.
Cartola em sua composição, Acontece, declara: …meu coração ficou frio e o nosso ninho de amor está vazio…
Gil relata um novo momento nos relacionamentos modernos em que deixa de ser marido e mulher, mas continua como pais e donos de casa: …não há o que perdoar…
“O amor da gente é como um grão…”
Drão, assim como muitas outros sucessos de Gil, é muito linda, mas sou apaixonada mesmo por ESTRELA.
Acho que a razão seja minha história de amor. Esta música marcou muito alguém que depois se foi da minha vida, deixando muitas saudades.
Ele simplesmente foi ao violão e me olhou nos olhos e cantou pra mim de uma forma tão especial que a música passou a ser o tema sonoro da minha vida.
A letra é muito linda também.
muiiiito linda